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Os Pedaços Do Meu Coração

Chapter 3: Capítulo 2: Lucky

Notes:

Hey! Bom dia, tarde ou noite XD

Sim, sabemos que estamos publicando os capítulos lentamente, mas tenham calma! >:p
Não sei o que pôr nas notas já que geralmente a Tata fica com essa parte... Bem, ela que lute para editar isso depois.

Eu dei uma pequena revisada nesse capítulo mas não chegou a ser realmente uma betagem, ainda assim espero que esteja confortável de se ler. E, sobre os comentários, eu prometo que ainda vou responder todos; acontece que meus estudos estão me torturando lentamente e não me permitem ter tempo para ABSOLUTAMENTE NADA! Mesma coisa com a Tata, coitada KKKKKKK

Enfim, sem mais enrolações, BOA LEITURA! Amamos vocês.

Chapter Text

Manhã cedo, ela acorda

Bate, bate, bate na porta

É hora de maquiar-se,

Sorriso perfeito

É você que todos estão esperando

Lucky - Britney Spears

 

°

 

Hoje conseguiu acordar no horário certo, forçou-se para fora da cama e vestiu-se para a corrida matinal. O clima de outono ainda não atingiu o ápice, então as manhãs continuam frescas, é comum encontrar outros corredores pela calçada (talvez não tanto nessa área da cidade, muito perto do centro comercial) mas a orla da praia com certeza está lotada. Foi apenas uma vez por lá a essa hora e prefere não ir nunca mais, a sensação de correr a beira do mar é ótima, relaxante e suave, mas aquele tanto de alfas dominantes e recessivo com complexo de deus se exibindo como se fossem pinturas de Michelangelo ou Pablo Picasso irrita qualquer um.

Pior, por maior que seja a expressão de aversão e desgosto por compartilhar o mesmo local que eles, eles simplesmente pensam que você está tentando flertar e agem de maneira ainda mais vergonhosa e nojenta. Só de pensar sente ânsia de vômito. Balançou a cabeça para espantar esses pensamentos, esses caras são realmente assustadores.

Por esses e outros motivos, Yuuji faz a corrida matinal pela vizinhança. Até chegar na academia, é um intervalo de vinte minutos de corrida até lá, fazer os exercícios físicos pré estabelecidos pelo treinador e mais vinte minutos na volta, também correndo. Admite que nem sempre as pernas conseguem correr (principalmente depois de um treino pesado de pernas), é mais provável que ande parecendo um cervo recém nascido com o quão mole as pernas ficam, mas, bem, no final o esforço vale a pena.

Musculação é uma atividade que passou a gostar genuinamente, é legal desafiar a si mesmo todos os dias (a dor é só uma consequência para chegar aos ganhos), claro que está ciente de que nunca chegará ao físico de Todo Aoi, ele é praticamente o Hulk com todos aqueles músculos bonitos e fortes (mas isso é natural para um alfa, ainda mais depois de tanto estímulo), e consegue ser ainda maior que Toji. Aoi seria o tipo de alfa por quem se sentiria facilmente atraído, caso ele fosse uns dez anos mais velho.

“A vida não poderia ser mais fácil?” Se perguntou, soltando um suspiro derrotado. Nesse horário, a academia está quase vazia, os idosos vêm das cinco às sete da manhã, desempregados ou estudantes universitários das nove às três da tarde, estudantes do ensino médio e assalariados por volta das quatro, cinco e nove da noite. É comum que tenha escolhido a madrugada para treinar, os avôs e as avós são legais, um pouco engraçados e fraquinhos, eles se impressionam com tão pouco e o elogiam por ser corajoso a ponto de acordar duas horas antes que o habitual para cuidar da própria saúde. Ainda há aqueles velhos chatos e tradicionais que acreditam que um ômega não deve sair de casa desprotegido, a esses, Yuuji prefere ignorar.

Comprimentou a recepcionista e pegou o treino do dia, estará trabalhando os glúteos hoje, é uma das partes do corpo que mais doem, geralmente não consegue sentar direito depois desses exercícios. Arrastou-se até às máquinas, ajustou os pesos e começou a fazer a execução dos malditos exercícios, quanto mais rápido começar mais rápido termina.
Não tem outras pessoas da sua idade na academia nesse horário, uma vez ou outra Todo costuma aparecer, mas é apenas quando tem compromissos para a tarde (ele também é dois anos mais velho) e seus treinos são muito dolorosos para Yuuji conseguir acompanhar.

Quando terminou os exercícios, estava praticamente morto. Deitado sob uma máquina de estofado de couro preto e respirando em baforadas profundas. Seus glúteos doem como uma cadela, assim como as coxas, será difícil levantar depois que estiver sentado (é bom que Mahito tenha sumido, nesse quesito). Foi forçado a ir embora quando o relógio de pulso apitou, apontando trinta minutos para o início do horário de tomar banho e ir à maldita escola.

Na volta, assim como previu mais cedo, não conseguiu correr e chegou até a casa de Jin e Toji se arrastando. Nesse ponto, gostaria de ter idade o suficiente para dirigir, compraria um carro popular (mentira, iria optar por uma Ferrari ou Lamborghini) e não teria que depender tanto do metrô e seus assediadores de meia idade (às vezes os caras tem rosto realmente bonitos, mas todo resto é uma merda).
Por dentro a casa está recheada de vozes e barulhos, passos pesados, risos vindo da cozinha e um cheiro gostoso invade a sala de estar. Isso o faz lembrar do café da manhã animado que tinham na infância. Todos os dias, Choso ou Sukuna iam acordá-lo, claro que era uma verdadeira luta fazê-lo levantar da cama. Mas era divertido. No entanto, depois que as brigas começaram, eles apenas passaram a viver suas próprias vidas e esqueceram da existência insignificante de Yuuji.

Café da manhã? Bem, Kaori estava ocupada com os turnos no hospital e geralmente dormia nesse horário. Uma vez ou outra Mahito cozinhava para eles pela manhã, a comida era deliciosa, mas não tinha a sensação calorosa que sentia em casa, com sua antiga família.

Tirou os tênis e subiu as escadas lentamente, ignorando a dor que voltou a atormentar o coração. Tomou um banho demorado (a ideia de se afogar na banheira foi realmente tentadora, isso o deixaria afastado da escola por alguns dias, certo? No entanto, Junpei iria terminar serviço de suicídio cometendo um assassinato) afastou esses pensamentos e vestiu o uniforme escolar. Aparentemente Kaori passou o tamanho de suas roupas para Jin, as calças não são muito folgadas (do jeito que gosta) e a parte de cima é composta por um moletom vermelho (o tecido não é grosso) e uma jaqueta preta por cima. Não é o melhor uniforme, mas acredita que isso é melhor do que ser obrigado a usar saia, como muitas escolas tradicionais forçam TODOS os ômegas a usarem. Esteve em uma dessas escolas até os quatorze anos e passou por maus bocados com alfas e betas assediadores, ômegas competitivos e pedófilos sem noção.

Deixou a mochila escolar pronta desde a semana passada, com a pequena diferença que precisou trocar os cadernos e livros, fez isso quando embalava as roupas sexta-feira. Não é como se fosse um aluno modelo, dificilmente copia o assunto no caderno ou abre os livros didáticos, as notas falam por si mesmas, e Utahime também. Honestamente, não sabe qual o problema daquela mulher, não lembra de tê-la pertubado em nenhum momento e ainda assim, ela faz o possível para tirar sua paz com comentários maldosos na frente das pessoas e atitudes de merda no corpo docente de antiga escola. Parece ter prazer em vê-lo sentir-se envergonhado — o que é uma pena para ela, porque Yuuji não tem um pingo de vergonha na cara. Ele ainda fica irritado com as tentativas vagas dela de exaltar todos os ômegas a sua volta e rebaixá-lo, afinal, quem não ficaria? Mas retrucar não vai mudar nada, apenas conseguir uma discussão sem lógica (e provavelmente mandá-lo para terapia psicológica por dez anos), então é melhor ficar quieto, como sempre ficou.

Jogou a mochila nas costas e saiu do quarto depois de arrumar a cama, mantendo o celular em mãos para verificar as notificações nas redes. Deveria fazer alguma postagem de bom dia no twitter? Provavelmente ele não faria isso caso ainda estivesse tentando esconder sua nacionalidade, mas depois que duas adolescentes (stalkers) descobriram que é japonês, não vê motivos para negar ou esconder esse fato. Não é como se elas fossem descobrir seu nome e sobrenome, idade, endereço residencial e escolar. É só uma nacionalidade, pode muito bem ser japonês e morar em Tawan, Singapura ou Tailândia. Ou qualquer outro país da Europa, como França ou Inglaterra. Baixou a barra de notificações e arqueou a sobrancelha com um novo seguidor específico.

Tsukumo Yuki.

Essa não é a alfa de quem o tio Kenjaku tanto falava ontem? Apertou no ícone brilhante e entrou no perfil dela, é impressionante que a filha do maior empresário do ramo automobilístico seja uma fotógrafa e designer, ela tem a própria marca de roupas íntimas e roupas de dormir. Uma marca de luxo, comercializada principalmente na América. Interessado, ele abriu as fotos de viagens de férias e fotografias da natureza, ela realmente tem talento para esse tipo de coisa, rolou a tela até chegar nas fotos pessoais da alfa e UAU. Ela é linda, exala sensualidade e masculinidade, mesmo em roupas femininas. Isso o faz pensar o que ela viu nele…

— Bom dia, pirralho. — É despertado desse pensamento com a voz irritante de Toji, ele passou ao seu lado na escada e arrancou o boné vermelho da sua cabeça com a mão. — Desculpe, mas a escola não permite o uso de bonés durante a aula. — Informou, com um sorrisinho irritante.

Tudo nesse homem é odiável. Jura que poderia fazer outra cicatriz no rosto de malandro que ele tem, e se sentir muito satisfeito com isso.

— E daí? — Perguntou, tentando segurar o rosnado de raiva preso na garganta, e esticou o braço para pegar o maldito boné de volta. Mas Toji levantou o braço, com o boné empoleirado no topo nos dedos (essa disputa sempre esteve perdida, ele parece a torre Eiffel perto de alguém com um metro e sessenta e nove). — Devolve isso, seu vagabundo desgraçado! — Exigiu, dando pulos inúteis na tentativa de pegá-lo de volta. O sorriso irritante de Toji só cresce com essa humilhação visual.

— Não queremos que você vá para detenção logo no primeiro dia de aula. — Informou, e isso soou muito sincero para alguém que não se importou com nada até agora. — Eu irei devolver se você prometer que vai tirá-lo assim que chegar no terreno da escola. — Parou de pular, olhando-o com olhos apertados. Está sendo chantageado? Esse é o auge da sua miséria. Nem Mahito faria algo tão baixo.

— Foda-se. — Cuspiu, e Toji abriu um sorriso cheio de dentes.

— Resposta errada, pirralho. — Disse, colocando o boné na própria cabeça e passando na frente como se nada tivesse acontecido.

Realmente, realmente o odeia. Respirou fundo duas, três, quatro, cinco, seis vezes antes de terminar de descer as escadas a passos exageradamente pesados.
Nessas situações, o melhor que se pode fazer é aceitar que esses adultos idiotas fazem o que querem, e implorar não vai fazê-los mudar de ideia. Passou anos lidando com Kaori e ela é exatamente assim, ou até pior.

Fechou a aba aberta no perfil da Yuki e bloqueou a tela do celular, guardando no bolso frontal lateral da calça e indo mal humorado para a cozinha. Não mente para si mesmo dizendo pode ficar sem comida até o intervalo do almoço escolar, depois de treino e corrida isso é praticamente impossível, seu estômago está revirando de fome e o cheiro delicioso vindo do café da manhã feito por Jin (muito provavelmente) não ajuda muito.

Sentados à mesa, todos conversam e comem animadamente, Jin acabou de colocar um bule de chá no meio da mesa e sentou ao lado de Toji, colocando um beijo suave nos lábios dele durante o processo. “Eca, que nojo.” Pensou, passando espremido por trás da cadeira do vovô e contornando o balcão, eles poderiam apenas comer na mesa grande que fica na sala de jantar, assim ficariam fora de vista.

— Bom dia, Yuuji. — Choso o comprimentou, oferecendo um sorriso educado. Ele está fazendo sanduíches e embalando-os, tem um total de cinco embalados e separados, recheados com frango, queijo, alface e tomate. É uma mistura boa, mas o pão não é integral.

— Dia. — Procurou na gaveta de talheres uma faca e começou a cortar o abacaxi que comprou ontem, o ideal seria um mingau de aveia com morangos, mas não está com coragem para fazer isso hoje.

— Bom dia, Yuuji-kun. — Resmungou qualquer coisa em resposta para o comprimento de Tsumiki e continuou cortando o abacaxi em pequenos cubos. Quantos "bom dia" vai receber em um intervalo de trinta minutos? Isso é ridículo.

— Yuuji, fizemos panquecas, venha comer. — Escutou Jin chamar, acenando com uma mão e um sorriso no rosto. Qual é a dessas pessoas? Quem diabos acorda logo cedo com tanta energia e animação?

— As panquecas que o Sukuna faz são as melhores! — Do seu lado, Choso acrescentou, como se estivesse confidenciando um segredo muito importante.

— E hoje estão ainda mais maravilhosas, ele fez especialmente para você, com mel na massa e xarope de bordo no recheio. — Piscou olho, desacreditado que até o Megumi está entrando nessa palhaçada. Ele o olha como se esperasse algo. Algo bom, talvez pense que possam ser amigos?

Pobre coitado.

— Experimente, são suas favoritas. — O próprio Sukuna colocou um prato enorme de panquecas na sua frente, recheado até a borda com xarope de bordo e uma aparência inegavelmente apetitosa.

Lembra que costumavam fazer panquecas juntos (ou melhor, Yuuji observava Sukuna trabalhar na cozinha enquanto ficava na ponta dos pés para acompanhar tudo curiosamente) era divertido, sabor era maravilhoso, com mel, xarope e canela. Esqueceu o sabor em sua totalidade depois que tudo começou, Sukuna estava fora quando acordava, ou simplesmente saia sem comer, nunca havia tempo para brincarem ou cozinhar juntos.
Espera que ele tenha conseguido encontrar tempo para Megumi, e não saia sem comprimentá-lo todos os dias.

Ainda se impressiona em quão rapidamente lembranças boas tornam-se dolorosas e deixam um sabor amargo na sua boca. Nesse caso, o mel e o xarope nas panquecas não podem ajudar muito.

Primeiro encara o rosto de Sukuna, cheio de tatuagens e sobrancelhas levemente franzidas, assim como Toji, ele parece um membro de alguma facção criminosa. Há uma emoção de ansiedade em seus olhos dourados opacos, na verdade, todos estão em silêncio à espera de uma resposta.

— Eu não como panqueca. — Disse, franzindo o cenho, fazendo uma expressão de nojo. — Isso é puro açúcar. — Completou, voltando a cortar o abacaxi.

— Tenho certeza que apenas uma não vai fazer mal. — Sim, Sukuna infelizmente tem razão, só uma não vai fazer suas medidas aumentarem e o tio certamente também não iria reclamar. Mas não quer. Não quer comer ou ter nada que seja relacionado ao passado.

— Então deveria dá-la para o seu garoto— Encolheu os ombros, engolindo um pedaço grande de abacaxi. — Não como açúcar, boa sorte na próxima vez. — Deu as costas, pegando o depósito que comprou ontem e enchendo-o com os cubos de abacaxi cortados.

Para o café da manhã, terá ovo cru e leite.

— Que palhaçada é essa de não comer açúcar?! — Arqueou a sobrancelha com a pergunta inesperada de Sukuna. Ele está irritado, resta saber se foi porque chamou Megumi de "garoto" e não pelo nome (mas isso não foi nenhum pouco desrespeitoso) ou porque seus esforços idiotas foram jogados no lixo sem o mínimo de consideração. — Já se olhou no espelho? Você parece um moribundo de tão pálido. — Justificou, e Yuuji quase se sentiu mal.

Preste atenção, a palavra chave é: quase.
Sim, quase. Porque é realmente uma ocorrência rara sentir o cheiro de preocupação em Sukuna, ou em qualquer outro alfa além do tio Kenjaku. No entanto, para que demonstrar preocupação agora por causa de uma leve palidez? Quando já apareceu com pulsos e pescoço coberto e ninguém se importou em perguntar o motivo?

— Faz um tempo que não tomo sol. — Falou resignado, e isso não deixa de ser verdade. A palidez é só uma consequência dos anos de péssima alimentação (nada nutritiva) e a última vez que tentou suicídio perdeu muito sangue, as crises de ansiedade e insônia. Nada demais.

— Que desculpa de merda, é óbvio que Kaori não estava te alimentando corretamente. — piscou o olho, procurando entender o motivo para essa acusação injusta. Não faltava comida no armário, ele estava sempre cheio, mas faltava tempo para cozinhar, então acabava comendo qualquer coisa. — Vamos, senta e come isso. É falta de educação rejeitar algo que fizeram especialmente para você. — Viu pelo canto do olho que Choso e Wasake estão prestes a interromper a explosão de Sukuna, antes de ser puxado bruscamente pelo braço e forçado a sentar à mesa, entre Megumi e Tsumiki, de frente para Jin e Waseke. Abriu a boca para reclamar, mas Sukuna simplesmente enfiou o garfo por entre seus lábios e se tentasse cuspir iria fazer uma bagunça na mesa ou se engasgar, na pior das hipóteses.

Fervendo de ódio, aceitou o ato ultrajante e mastigou o pedaço de massa. Sentindo o peito doer ainda mais forte quando o sabor doce encheu sua língua.

Viu um mini Sukuna com as mãos na cintura, sorriso arrogante no rosto, colocar um prato em cima da mesa posta. E um mini Yuuji atacando tudo ansiosamente, "Eu sei que está delicioso, sou o melhor de todos os chefes." Ele disse, sonhadoramente. É fácil esquecer depois de tanto tempo, mas o sonho de Sukuna era ser um chefe de cozinha. Um famoso. O melhor de todos. E Yuuji estava sempre provando suas novas receitas.

Isso foi antes de tudo. Muito antes da sua família cair em desgraça. Antes de perderem a conexão de irmãos e o amor fraterno, antes de nunca estarem perto um do outro. Antes de perderem a inocência. Só mais um dos sonhos esquecidos.

— Está bom? — Ele perguntou, com o mesmo sorriso arrogante de antes. Olhando-o assim, quase chega a acreditar que ele ainda é o mesmo Sukuna da sua infância, ele tem os mesmo olhos perigosos e sorriso malicioso (sem precisar fazer esforço nenhum), ainda parece alto demais e inalcançável.

Talvez o único que tenha mudado tenha sido Yuuji? As circunstâncias o forçaram a mudar para sobreviver, ele não teve escolha. Sukuna cresceu, mas a aura rude, rabugenta, arrogante, insensível e mal humorada apenas se intensificou com o tempo. Ele está feliz. Todos estão felizes.

O incômodo no estômago se torna insuportável, ele abre caminho por entre as vias estomacais, subindo lentamente pelo esôfago e… merda, arregalou os olhos, levantando de supetão e empurrando Sukuna para o lado (claro, não faz muito diferença), ele mal se move.

— O que foi agora? — Perguntou, com uma carranca no rosto. Yuuji não se digna a responder (não é como se conseguisse abrir a boca sem despejar uma mistura nojenta no chão) então desviou do caminho de Sukuna e correu para o banheiro mais próximo, ouvindo passos logo atrás. Assim que abriu a porta do cômodo, jogou-se sobre o vaso sanitário e vomitou tudo o que comeu nas últimas oito horas.

— Merda. — Escutou Sukuna reclamar, mas está muito ocupado tentando não se engasgar com o próprio vômito. O esôfago força ainda mais a evacuação, provocando involuntariamente uma dor chata na garganta e o ardor nos olhos. Isso é horrível. Uma péssima maneira de começar o dia, deve acrescentar.

Sente uma mão grande esfregar suas costas suavemente e afastar os fios rebeldes que escaparam da trança para balançar na frente do seu rosto.

— Calma, vai passar logo logo, você está indo bem. — Murmurou delicadamente ao pé do seu ouvido, mantendo os movimentos suaves e calmantes de círculos em suas costas. Quando foi a última vez que alguém (que não seja Junpei ou Kenjaku) esteve ao seu lado em momentos como esse? Não se lembra, talvez porque não tinha ninguém, talvez porque escondeu seus problemas muito bem. O reconhecimento disso trouxe um sentimento de solidão para cutucar seu cérebro defeituoso, que enviou a mensagem para o coração e o coração enviou para o estômago, fazendo vomitar ainda mais.

Nesse ponto, não há nada dentro do estômago, e o líquido amarelo que sai é amargo e quente. Tossiu, forçando a garganta ainda mais do que antes, ignorando a dor atual e que virá futuramente. A mão suave continua esfregando círculos em suas costas, quase, QUASE o faz sentir-se melhor.

— Okay, você mandou bem, Yuuji. Estou orgulhoso. — Ainda tossindo, olhou de soslaio para Jin, que está com um sorriso falsamente animado no rosto e mostra os dois polegares para cima. Idiota. Ele parece patético assim. — Agora vamos levantar e limpar a boca, não queremos ficar com um sabor estranho na língua, certo? — Porque ele está agindo como se Yuuji fosse uma criança? Isso é tão, tão ridículo. Quer rir da cara patética dele (porque realmente é engraçado) e apontar que pode se levantar sozinho, muito obrigado. Mas antes que diga algo (demora porque a tosse continua persistente), é levantando facilmente pelos braços fortes de Jin e colocado de pé, em seguida conduzido até o lavatório.

Isso é déjà vu? Acha que passou por uma situação parecida quando criança…

Bem, de qualquer maneira, não é mais uma criança, empurrou Jin com o cotovelo.

— Eu… Posso fazer isso sozinho. — "Não, você não pode" é o que Junpei ou o tio Kenjaku diriam, mas Jin é apenas o Jin, então ele aceita e se afasta. Embora seus olhos preocupados nunca deixem os de Yuuji. Tsc. Irritante. Fechou a porta do banheiro na cara dele (e de todos os filhos da puta intrometidos que estão atrás espiando por trás, pensando que estão sendo discretos). — Porra. — Reclamou, mergulhando o rosto no lavatório bem embaixo da torneira.

Não vai perguntar se tem como piorar, conhecendo a sorte que tem, a resposta obviamente será sim. Escovou os dentes novamente, lavou o rosto e para substituir o boné roubado colocou uma touca preta na cabeça, esse Toji não pode dizer ser proibido na escola. Certo?

Voltou para a cozinha, todos já se dispensaram (amém) restando apenas Choso, que parece está correndo de um lado para o outro com os nervos à flor da pele. Fez um barulho proposital, esbarrando na cadeira de madeira, (honestamente, não quer ficar perto de nenhum lunático, então se ele poder agir normalmente iria agradecer muito), isso chamou atenção de Choso, e o fez diminuir o ritmo.

— Yuuji! Como está se sentindo? Seu estômago dói? — Quase riu do rosto preocupado dele, é engraçado vê-lo fora do personagem calmo e controlado. Dispensou a pergunta com um aceno despreocupado de mão, pegando o depósito grande cheio de abacaxi que deixou em cima do balcão.

— Estou bem. — Disse simplesmente, às vezes, quando o peito está doendo muito e mesmo assim insiste em comer, põe tudo para fora. Esse é um dos motivos pelo qual o tio Kenjaku o força a manter a alimentação o mais saudável possível, perdeu muitos nutrientes nos últimos meses por causa dos problemas intestinais e precisa repor todos eles em menos de um ano. A expressão de Choso é desacreditada, e Yuuji está prestes a ir embora.

— Espere. — Ele é mais calmo que antes, no entanto, suas sobrancelhas estão quase juntas. Não sabe dizer se é frustração ou preocupação, talvez os dois juntos. A remoção da marca afetou algumas características normais de um ômega, o olfato foi uma delas, como pertencente a classificação recessiva sempre cheirou menos que os outros e teve sentidos fracos, mas eles caíram para 5% depois do procedimento. Isso significa que não pode sentir o cheiro das emoções de Choso, a menos que elas estejam muito fortes, ou esteja extremamente perto das glândulas odoríferas dele (o que por razões óbvias não vai fazer). — Aqui, leve para escola e beba no lugar da água, vai sentir melhor. — Piscou os olhos para a garrafa térmica que deve ter no mínimo quinhentos mls. — Ou seria melhor ficar em casa? Está com febre? — Intrometido, Choso pousou a mão fria na sua testa, afastando um pouco a touca de tricô.

— Não tenho febre, pare com isso. — Deu um tapa na mão dele, afastando-se sem pegar a garrafa. Choso o seguiu de perto. — E não quero seu chá. — "Afogue-se no seu veneno" pensou, andando mais rápido.

— Por favor, pegue. Vai ajudar na dor do estômago. — Pelos deuses, não há dor no estômago nenhuma. Segurou o suspiro cansado, porque ele também não fez um chá assim quando Mahito esqueceu-se de usar camisinha e simplesmente gozou dentro? Passou semanas com o estômago doente. "Talvez por que ele não sabia?"

Parou um segundo, considerando a resposta lógica da consciência. Ela tem razão. Que ódio.

— Tudo bem, me dê logo essa porcaria. — Acabou aceitando a contragosto.

— Não é melhor ficar em casa hoje? — Ele perguntou, estranhamente preocupado. E sim, adoraria ficar em casa, mas não aqui, não numa casa que não é sua e onde não se sente bem. Por mais insuportável que seja a escola, é melhor ficar por lá. — E se passar mal novamente? — Insistiu, como uma mãe galinha. Ele sempre foi assim?

— Estou incluso no plano da funerária do tio Kenjaku. — Disse normalmente.

— Estamos indo? — Encontrou Jin e Megumi na sala, ambos preparando-se para sair. Arqueou sobrancelha, desentendido. — Não é melhor ficar em casa, Yuuji? — Isso de novo?!

— Se estiver se sentindo mal, deve descansar. — Megumi completou seriamente.

Eles são uma seita?

— O pirralho tá indo pra escola? É melhor ficar em casa e descansar. — Mordeu a língua para não retrucar a fala de Toji, que está descendo as escadas vestido em roupas diferentes, ainda esportivas, mas muito menos desgastadas que as antigas.

— Também acho que deveria ficar, sua frequência escolar é péssima de qualquer maneira, um dia a mais não vai fazer diferença. — Deixou-os falando sozinho, essa última frase vinda de Sukuna foi o fim da picada. Calçou o sapato e saiu no jardim, verificando a hora no relógio de pulso.

Pegar o metrô para escola nesse horário vai ser um pé no saco, ainda mais para a Jujutsu, um táxi faria mais sentido.

— Onde pensa que vai sem a gente? — Toji chamou, aquele sorriso irritante ainda brilhando no rosto. Jura que vai matá-lo algum dia. Como se sua presença não fosse um problema por si só, ele ainda mantém o boné vermelho na cabeça. O odeia. Verdadeiramente o odeia. — Estamos todos indo para o mesmo lugar, entra no carro. — Deu um tapa na cabeça de Yuuji quando passou, bagunçando a touca e o cabelo embaixo dela.

— Está indo conosco, mas se se sentir mal fale comigo, Toji ou Megumi-kun imediatamente, entendeu? — Foi segurado no lugar por Jin e suas palavras muito tranquilizantes. Ele deveria saber que qualquer um desses que acabaram de ser citados seriam as últimas pessoas que iria procurar se precisasse de ajuda.

— Pode me soltar agora? — Perguntou, puxando o braço.

— Você entendeu, Yuuji? — soltou um suspiro, quando a voz de Jin fica séria assim, ele só vai desistir quando conseguir o que tanto deseja.

— Sim, eu entendo. — Respondeu arrastado, e para sua surpresa, Jin abriu um sorriso. Não aquelas sorrisos inseguros, extremamente doces, ou nervosos que vem mostrando desde a semana passada, é um sorriso deslumbrante e brilhante, amoroso e quase aliviado.
Antes que tivesse qualquer reação, recebeu um beijo no topo da testa coberta, e foi deixado sozinho.

QUE PORRA ACABOU DE ACONTECER?! Piscou, parado debilmente no mesmo lugar de antes, com a boca aberta e olhos arregalados. Desde quando deu liberdade para Jin beijá-lo?! Isso é ultrajante, humilhante, a pior coisa que poderia acontecer! O que ele pensa que Yuuji é? Um estudante do maternal que precisa de beijinhos o tempo todo?! (Beijinhos idiotas!) Ou um omega indefeso que precisa de carinho e proteção?!

— Vai ficar parado aí? — Acordou dos devaneios com a voz suave de Megumi, ele está encarando-o com o mesmo rosto delicado, expressão calma e olhos esverdeados como esmeralda. Tão lindo. Não é surpresa que Sukuna tenha trocado-o por ele.

— Não. — Balançou a cabeça para espantar tais pensamentos e seguiu-o até o carro, entrando e colocando o cinto de segurança. Passou o caminho inteiro preso em devaneios, “PUTA QUE PARIU!! Quando foi que ganhou um beijinho inocente na testa? Talvez a nove anos atrás?” Kaori e Waseke nunca foram fisicamente carinhosos (no caso de Wasake, nenhum tipo de carinho explícito) então… está surpreso.

Bem, Jin sempre foi alguém do tipo que gosta de contato físico, isso provavelmente não significa nada para ele. E também não significa nada para Yuuji.

Simplesmente, não significa nada.

 

°

 

Não importa se é uma escola antiga ou nova, o primeiro dia de aula sempre vai ser uma merda (e nem sempre isso está relacionado ao fato de ser um novato) por mais surpreendente de seja, Yuuji realmente não gosta de ser o centro das atenções (de adolescente maldosos e desocupados do ensino médio) e isso é um dos motivos pelo qual continua protegendo a identidade do público. Existem muitos casos assustadores de stalkers japoneses que não conhecem a palavra: "Limite" e aparentemente estavam apaixonados (lê-se: obcecados) por idols de grupos musicais ou solo.
No seu caso, é improvável que o stalker seja japonês ou de qualquer outro país asiático, a grande maioria não é simpatizante do "Killer Cat", ou como eles chamam, "a vagabunda sem vergonha" que dorme com qualquer um (uma grande mentira), mas vamos lá, realmente não quer ser perseguido pelos paparazzis como Britney Spears e Michael Jackson.

Claro, está ciente de que uma hora ou outra terá que mostrar o rosto descoberto para o público, mas enquanto esse dia não chega, quer continuar vivendo o mais normalmente possível, isso significa, sem chamar atenção. No entanto, esse plano — assim todos os que fez para o resto do semestre —, foi arruinado por Kaori e Jin, principalmente por Jin, porque é meio óbvio que ser filho de um professor muito amado pelo corpo discente de uma escola é motivo de fofoca em todas as rodas de conversa. E infelizmente, não há como negar a ligação sanguínea que compartilham, seja por causa das características físicas ou o fato de que saiu do carro dele ao chegar na escola. Ser acompanhado até a sala de aula como se fosse um bebê também deve contar.

Outro ponto importante, é a proximidade de Megumi durante as aulas, ele fez questão de compartilhar o assento e escreveu cartinhas durante as explicações (completamente idiotas, não conseguiu se concentrar em nada) enquanto ignorava todos os alunos que tentaram falar com ele. Yuuji adoraria ter ficado em uma turma diferente, ou melhor, uma escola diferente, onde nenhum dos seus piores pesadelos estivessem presentes. Rabiscou a folha em branco com palavras inelegíveis, mal absorvendo as palavras do professor de história, completamente perdido no mundo da lua, onde navega no próprio desgosto.

Minutos ou horas depois, é o tão esperado intervalo do almoço, permaneceu onde estava, fazendo rabiscos ainda mais proeminentes na folha antes limpa. A escola deixou de ser um lugar legal e sociável a muito tempo atrás, na verdade, apesar de ter uma personalidade extrovertida e gentil na infância nunca foi bom em manter amizades, então era comum que ficasse sozinho durante o intervalo. E depois… bem, acostumou-se a está sozinho e a presença de Junpei apareceu do nada, foi uma ótima aquisição, não pode negar, mas o fez ficar ligeiramente dependente. Como se não pudesse ir à escola se Junpei estivesse doente e acamado, ou suportar os olhares repulsivos das ômegas (competitivas) se o garoto não segurasse sua mão.

É assim que se sente agora, não quer sair no corredor e ver o desprezo no olhar de outros ômegas (que estão com ciúmes dos seus alfas), como se fosse culpa de Yuuji ter uma bunda grande e chamativa. Isso o fez pensar como será quando finalmente revelar ser a Killer Cat. Os ômegas, betas e alfas ainda o verão como uma ameaça? São todos tão idiotas. Não está interessado em adolescentes inexperientes que sequer sabem foder ou fazer um oral, nem tomar o namoradinho de alguém por diversão. Não precisa desse tipo de coisa. E definitivamente não transa com pessoas comprometidas.

Por enquanto, os boatos e fofocas estão controlados porque é parente de Jin, Toji e Megumi, eles não são tão óbvios quando na escola do fundamental — e não é porque são maduros, mas porque querem manter as aparências no mais alto nível. A aparência e reputação é tudo o que as pessoas mais prezam na alta sociedade, uma hierarquia juvenil seguem os mesmo princípios (influências dos pais ou porque querem ser como os ricos), e quanto mais focam na aparência e reputação, mas nojentos ficam.

Seus sorrisos falsos, cabelos bem cuidados, maquiagem leve e simpatia fingida é uma maneira de atrair idiotas para suas rodas, e quando percebem que o tal idiota não se encaixa, fazem dele o bobo da corte. Na melhor das hipóteses, o idiota pode ser alguém rico e logo está cheio de amizades vazias e falsas. O tanto de gente tentando socializar com Yuuji diz por si só.

A adolescência sem dúvidas é a pior fase da vida.

De saco cheio, saiu da sala e entrou no corredor, apesar de ser horário de almoço ainda havia muitos estudantes conversando despreocupadamente encostados nas paredes (sem dúvidas imitando os badboys dos filmes), não fez questão de dar uma olhada neles, e continuou andando corredor adentro. Quase se amaldiçoou por ter rejeitado a oferta de Megumi de acompanhá-lo à cantina, estava pensando nisso quando uma mão disparou e segurou-o pelo antebraço, forçando-o a parar e olhar para trás.

— Fugindo de alguém? — Olhou da mão cheia de anéis envolvendo seu antebraço até o rosto de maxilar marcado, o sorriso atrapalhado espalhado nos lábios e olhos cinzas escuros com pequenas rugas nas bordas. Junpei. Ele está vestido em calças pretas e camisa branca com as mangas arregaçadas até os cotovelos, deixando a tatuagem de tigre e a pele incrivelmente branca como a neve à mostra. O cabelo negro que vai até o queixo está preso em um coque bagunçado e alguns fios rebeldes balançam com seus movimentos ágeis.

— Alguns colegas fofoqueiros com quem estou compartilhando a sala. — Respondeu, oferecendo um sorriso cansado, os dedos de Junpei foram recolhidos e ele ficou ao seu lado. Ombro e ombro. — Impressão minha ou não seremos colegas de assento? — Fez uma pergunta retórica, enfiando as mãos dentro dos bolsos da calça.

— Talvez impressão sua, apenas cheguei atrasado para o primeiro dia de aula. — Acenou, sentindo-se internamente satisfeito e aliviado. — Desculpe… — Pediu humildemente, é claro que Junpei iria sentir a tensão zumbindo sob sua pele e as mordidas violentas dos lábios. Mas não é culpa dele, então ele não deveria se desculpar.

— Está tudo bem, o importante é que você está aqui agora. — Olhou-o com o canto dos olhos, dando um sorriso sincero. Junpei acenou, concordando. — E, ainda não estou sabendo como conseguiu uma transferência tão rápido… — Foram apenas dois dias? É incomum que tenham aceitado, provavelmente não chegaram a fazer o exame de admissão.

— Minha mãe deu um jeito. — Junpei disse, encolhendo os ombros. Isso explica muita coisa, a tia é alguém com muitos conhecimentos, e agora com dinheiro, as coisas ficam ainda mais fáceis. — E você não parece bem… como está se sentindo? — Seu tom é cheio de preocupação genuína, semelhante a quando se conheceram a quatro anos atrás. Ele não mudou nada.

— Honestamente? — Virou o pescoço na direção de Junpei, esticando-o um pouco para alcançar a altura dos olhos. Recebeu um "humrum", e soltou um suspiro, dizendo: — Me sinto uma merda. Tem ideia de quantos "bom dia, Yuuji." Recebi hoje pela manhã? Aquilo me deu nos nervos! Eles pensam que depois de tudo o que fizeram, alguns comprimentos irão me fazer voltar a amá-los?! — Exclamou indignado, sem segurar a raiva no tom de voz.

— Bem… sim, considerando que você nunca deixou de amá-los. — Deu uma cotovelada em Junpei, que facilmente desviou, mantendo um sorriso pequeno no rosto. — Okay, eu parei, mas… você só não está acostumado a viver em uma casa cheia, eventualmente irá se acostumar. — E aí é que está um dos problemas, não quer se acostumar com Toji, Tsumiki e Megumi, eles não são sua família. Junpei parece ler seus pensamentos e muda de assunto. — Estamos indo comer? Não trouxe meu Bento. — Perguntou, colocando um braço sobre o ombro de Yuuji e trazendo-o para perto.

— Não tenho fome, mas posso fazer esse sacrifício por você. — E quantos outros sacrifícios já não fez por esse garoto apenas porque são melhores amigos? (Melhor dizendo, irmãos de pais diferentes). Junpei é como uma âncora que mantém o seu barco perto da margem da praia, puxando-o sempre que as ondas ameaçam levá-lo para longe.

— Não me venha com essa, sei muito bem que você não comeu direito pela manhã… — Junpei resmungou, cutucando-o na bochecha.

— Culpe Sukuna que fez uma panqueca terrivelmente doce e me causou uma indigestão. — Disse com dificuldade, empurrando a mão de Junpei com um tapa.

— Panquecas doces? — Ele perguntou surpreso, piscando os olhos quase debilmente. — Mas você não come açúcar. — Afirmou, perplexo.

— Me forçaram a comer. — Confessou entre suspiros cansados. — Acabei vomitando depois de engolir uma garfada. — E falando nisso, ainda sente a garganta contrair em busca de alguma coisa (que definitivamente não sabe o que é), ela está seca e dói, deveria beber um pouco do chá que Choso fez.

— … o que vale é a intenção, certo? — Revirou os olhos, está mais do que claro que Junpei, apesar de tudo, ainda acredita que Yuuji pode se reconciliar com Jin e os Itadori-Fushiguro. Isso não vai acontecer, algumas coisas simplesmente não tem conserto, mas ele prefere insistir e acreditar nessa ideia boba.

— Se a intenção era me matar, ele está de parabéns. — Murmurou, sem nenhum humor na voz. Chegaram no refeitório e pararam no saguão, ambos com a expressão vazia, enquanto encaram o tanto de alunos conversando e brincando com seus amigos. — Lembre-me o por que odiamos adolescentes. — Pediu, soando quase desesperado.

— Eles são imaturos, manipuláveis, idiotas, escrotos, burros e arrogantes. A lista é enorme, eu poderia passar o resto do dia nisso, se você quisesse. — Junpei ofereceu, com o cenho franzido.

— Vamos apenas pegar sua comida e procurar um lugar longe daqui. — Ignorou a última parte, balançando a cabeça para os lados. Mantiveram-se colados um no outro, isso aplaca um pouco a ansiedade de ambos.

A vitrine da cantina é bonita e organizada, em compensação, as comidas têm um preço abusivo, nada semelhante aos lanches comprados em um Konbini aberto por vinte quatro horas. A aparência é melhor, então não está reclamando.
Junpei pegou meia dúzia de comida, sob a desculpa de que não tomou café da manhã, apesar de manter a sobrancelha arqueada, Yuuji não disse nada. Conhece muito bem o apetite insaciável do amigo para questionar seus hábitos alimentares.
Pagou pelas comidas (foi ao céu e voltou com o valor total das compras), mas o que realmente o deixou divertido foi a expressão do caixa ao ver um cartão negro.

Supõe que nem todos os estudantes tenham um.

Com todas as mesas ocupadas, não tiveram escolha senão sair do refeitório, o que realmente considera algo bom, aquela barulheira de vozes altas e risadas despreocupadas estavam deixando-o no limite. Junpei concordou em sentar na área externa, debaixo de uma árvore com ramos enormes e galhos que fazem uma sombra deliciosamente relaxante.

— Então… é realmente tão terrível assim morar com eles? — Ele perguntou, abrindo o pacote de sanduíche natural. Encarou o pão de forma de fatias fina e os poucos vegetais no recheio, decidiu que é melhor fazer o próprio ao invés de comprar na escola. É caro e não vale a pena.

— Trás lembranças. — Murmurou, desviando os olhos do sanduíche para o céu azul livre de nuvens, o vento é refrescante, não frio ou congelante. Em algumas semanas estarão precisando usar blusas de frio para virem aqui fora.

— Boas ou ruins? — Soltou um suspiro cansado, honestamente, não quer ter essa conversa. Só quer reclamar e reclamar, não resolver o problema, até porque esse está fora dos seus limites. Junpei o olha de lado, esperando a resposta.

— Preciso dizer? — Devolveu a pergunta, inconscientemente fazendo bico com os lábios.

— Acho que sim, é melhor que guardar tudo para si mesmo e ficar depressivo mais tarde. — Odeia quanto os argumentos de Junpei fazem sentido (e infelizmente, todos fazem), desfez a careta emburrada do rosto, ainda olhando para o céu azul.

— Eu só… lembro de quando éramos uma família feliz, e então depois vem os gritos e a casa vazia. Tenho a sensação de eles continuam os mesmo, que superaram as brigas de Jin e Kaori, ou que os almoços de domingo nunca foram pausados. Eles parecem tão… felizes. — Junpei escutou tudo atentamente, mastigando o pão e bebendo refrigerante com preguiça. Sorriu, um sorriso triste e quebrado. — Sinto que eu fui o único que mudou, não para melhor, você sabe. — Encolheu os ombros.

—... Sente que está preso ao passado, é isso? — Acenou suavemente, e o silêncio seguiu por alguns minutos, apenas o som das conversas e risadas alheios ao fundo e o farfalhar das folhas ao vento. — Não sou um terapeuta, mas acho que você só precisa relaxar. Dê uma chance a eles, tenho certeza que não será tão ruim. — A ideia de se aproximar de qualquer um deles é nojenta. Da ânsia de vômito. — Você foi capaz de perdoar Kaori-san por todas aquelas coisas, o que seria diferente com Jin-san? — Junpei insistiu.

— Você não entenderia, porque seu pai nunca esteve lá. Ele nunca existiu na sua vida, e você nunca se sentiu amado por ele. — Falou o óbvio, e é claro que Junpei não se importa. Ele sabe o nome do pai, onde ele mora e como vive, mas nunca tentou nenhum contato. Diz que está muito satisfeito com a pequena família que tem, a mãe e Yuuji. — Eu tive um pai, e ele me abandonou, me trocou por uma alma gêmea idiota. — Esse não é o verdadeiro ponto, mas Junpei entende de qualquer maneira.

— Seus problemas de abandono são muito para eu lidar, aconselho ir a um terapeuta. — Escutou depois de um tempo, bufou, rindo em seguida.

— Prometo que irei, assim que terminamos nossos trabalhos. — É uma mentira. Ambos sabem disso, mas se permitem esquecer esse assunto momentaneamente.

O resto do intervalo é gasto com piadas sarcásticas, comentários julgadores sobre todos os estudantes que estavam dentro do seu campo de visão e comida. Passar o tempo com Junpei é sempre gratificante, não se encontra alguém que compartilhe o mesmo senso de humor (muito duvidoso) tão facilmente, eles são praticamente almas gêmeas platônicas, nasceram para ser melhores amigos eternamente (e quem sabe, até a vida após a morte) e nunca, nunca ficarem longe um do outro. Junpei o conhece melhor do que o tio Kenjaku, completa todas as suas frases (por mais inusitado e imprevistas que sejam) e apesar de todas as vezes que foi rejeitado e chutado, ainda está apoiando-o.

Não sabe o que faria sem a companhia dele todos esses anos.

Quando o sinal tocou, finalizando o final do intervalo de almoço, voltaram a sala de aula juntos, (porque de alguma forma, a tia descobriu antecipadamente qual a turma de Yuuji e deu um jeito de encaixar Junpei) deve presenteá-la com algo caro, de preferência um vestido ou sapato de luxo, ela adora essas coisas, para retribuir o trabalho perfeito que realizou em pouquíssimo tempo. Junpei ocupou o assento vazio atrás de Yuuji, e Megumi chegou minutos depois com duas garotas, uma loira e outra morena. Eles parecem ser bastante próximos.

Bem, que seja, realmente não se importa. Embora se pegue pensando onde já as viu antes, tem certeza que já se encontram em algum momento. Talvez no cruzamento da rua ou na estação de trem? Pior, poderia ser de um dos eventos na casa de Jin (os quais foi forçado a ir)? Existem muitas possibilidades, mas as descarta, elas não são pessoas relevantes em sua vida.
Megumi sentou ao seu lado novamente, dando uma rápida olhada desconfiada em Junpei antes de ocupar a cadeira. É normal olharem duas ou três vezes para Junpei, sua aparência nem sempre é uma das melhores, na maioria das vezes, ele parece mais desgrenhado que o próprio Yuuji.

Não é isso que realmente chama a atenção, mas sim a tatuagem de tigre no antebraço esquerdo e as rosas que contornam o desenho. É cheio de detalhes, pagaram extremamente caro no melhor estúdio de tatuagem de Malibu nas férias passadas, mas olhando agora, valeu muito a pena.
Acontece que Japoneses ainda têm visões distorcidas de pessoas com tatuagens, especialmente betas e ômegas, e por Junpei ser um adolescente ele é ainda mais marginalizado. É divertido ver o olhar de apreensão nas pessoas que acreditam veementemente que ele é um gangster, quando na verdade Junpei é somente um garoto apaixonado por cinema, produções cinematográficas, cenários naturais e roteiros. Um verdadeiro nerd.

No entanto, é bastante claro que os novos colegas de turma não o vêem desse jeito. Estão longe de reclamar, intimidar adolescentes arrogantes foi um dos motivos que levaram-o a fazer essa tatuagem, porque assim como Yuuji, Junpei foi vítima de bullying durante todo o ensino primário (um pouco mais violento e físico, enquanto Yuuji passava mais por tortura psicológica) ele está fazendo terapia no momento, se recuperando bem e a cada dia desenvolvendo mais e mais a autoconfiança. Sente-se orgulhoso dele. No entanto, isso não muda o fato de que fazer a abençoada tatuagem os livraram de muito valentões, e deixou a autoestima de Junpei nas alturas.

Pagou caro, mas olhando para esses aspectos, não se arrepende de nenhum centavo gasto.

— Te vi na cantina… — Fez um som de reconhecimento para o murmúrio de Megumi, um pouco excitante, ele prosseguiu. — Acenamos para você e seu… amigo, mas parece que vocês não nos viram. — A questão é que mesmo se tivesse visto eles não iria compartilhar a mesa. Muito obrigado.

— Realmente não vi. — Respondeu indiferente, com os braços cruzados na altura do peito e sentado ereto na cadeira dura. — Mas teria ignorado caso tivesse visto. — Admitiu, oferecendo um pequeno sorriso doce.

Sente os olhos de Junpei queimando em suas costas, "Isso foi cruel, Yuuji." Pode ouvi-lo dizer, mas esse pequeno fato apenas o deixa mais satisfeito. Megumi, entretanto, não se abala com resposta cínica, seu rosto sereno e impassível continua o mesmo, como se já esperasse por algo assim.

— É uma pena, as meninas querem muito conhecê-lo. — Yuuji Arqueou a sobrancelha, estudando as duas garotas discretamente pelo canto do olho. Isso é estranho. As pessoas geralmente não procuram conhecê-lo, a menos que deseje algo em troca e nesses casos, sempre são alfas. Soltou um suspiro, cortando a linha de raciocínio estúpido assim que o professor entrou na sala.

E…

Espere. Esse não é Gojo Satoru? Uma das suas indesejadas ex-almas gêmeas? O homem também parece surpreso em vê-lo, percebe isso mesmo com os olhos dele escondidos pelos óculos de sol (ridículos) que usa por hábito (presume), há um momento em que sente ser estudado minuciosamente, desnudo até a alma. Mas esse momento vai embora tão rápido quanto veio, e logo Gojo comprimenta a todos usando uma voz enjoativamente animada.

— Parece que temos dois alunos novos. — Continuou, colocando os livros que carregava sobre a mesa sem tirar o sorriso incrivelmente desagradável do rosto. Eca. — Se importariam de se apresentar? Tenho certeza que muitos colegas estão curiosos sobre vocês, admito que sou um deles. — Alguns riram com a frase final, Yuuji apenas arqueou a sobrancelha, desentendido com toda essa encenação idiota.

— Yoshino Junpei, dezessete anos. — Como se para encorajá-lo, Junpei tomou a frente. — Pedi transferência para continuar perto de Yuuji. — Os murmúrios começaram, segurou o revirar de olhos. Ele tinha que falar exatamente essas palavras? Já é bastante insinuante essa declaração, e usar o seu primeiro nome (prefere que usem o primeiro) sem nenhum sufixo só aumenta ainda mais os pensamentos idiotas dessas garotas.

Todos estão pensando que são namorados, almas gêmeas ou algo parecido. O sorriso animado de Gojo vacila um pouco, é tão rápido que provavelmente ninguém percebe além de Yuuji, meio atrapalhado, ele rir.

— Uau, vocês devem ser bons amigos. — Junpei acenou desinteressado.

— Sim, claro, somos mais do que amigos. — Deu de ombros, Yuuji resistiu a vontade de virar o pescoço e encara-lo, para entender qual jogo estão fazendo aqui. Claro que são mais do que amigos, mas não no quesito romântico. É um amor fraterno.

— Okay, certo, vamos passar a vez para o seu… colega. — Gojo mudou o rumo da conversa, pensou que nunca chegaria a esse ponto, mas agradeceu internamente por ele ter feito isso.

— Kamo Yuuji. — Falou em alto e bom som, e sentiu o olhar questionador de Megumi sob sua pele, assim como as duas garotas que chegaram com ele. Ou melhor, todos os intrometidos da turma. Qual o problema disso? Usa o nome de Kaori há sete anos, não é apenas um capricho, é algo que o faz se sentir bem.

— Mais alguma coisa? — Gojo instiga, assim como os alunos, esperando uma continuação.

— Não. — Foi curto. Nunca falou mais do que o próprio nome nas apresentações escolares, acha inútil, e não é como se quisesse ficar mais próximo aos colegas de turma.

Porque definitivamente não quer.

— Okay, tudo bem. Sobre o que estávamos falando bimestre passado mesmo? — Felizmente, entraram no tópico inútil de matemática. Não precisa ser um gênio para saber que a última coisa que Yuuji fez foi dar atenção à aula.

Sempre teve dificuldade nessa disciplina, mas diferente de agora, costumava se esforçar e receber ajuda do vovô para responder às atividades, seu processo era lento, mas as notas nunca estavam no vermelho. Encarando a louça cheia de números e equações no quadro, se pergunta quando foi que começou a achar matemática tão impossivelmente difícil, ou melhor dizendo, passou a dizer que não conseguia sem ao menos tentar.

Gojo explica de maneira descontraída e divertida, envolvendo os alunos e chamando-os para responder a algum exemplo na louça, (prestando auxílio e recapitulando o que já foi dito, sem fazer o aluno parecer desatento ou burro). Entretanto, apesar de toda descontração, não consegue se ater ao que está sendo dito, e há vários motivos para isso. 1) Gojo Satoru, sua ex alma gêmea é o professor. 2) é matemática. 3) gostaria de estar longe daqui. 4) tem muitas ideias na cabeça. Sim, muitas ideias, a ansiedade gera um turbilhão de ideias e com elas a pressa de fazer tudo rapidamente, obviamente não consegue e isso o deixa roendo as unhas (literalmente).
A pressão sob sua cabeça imposta pelo tio Kenjaku também é um bom motivo, ontem não tiveram conversas do tipo: "quando vai sair novas músicas?", "Algum single em vista para os próximos meses?", "Qual o tema do próximo álbum?" Ele não tem más intenções, contudo, é estressante da mesma maneira.

Vai produzir quando conseguir produzir. Existem artistas que passam três ou quatro anos sem lançar álbuns novos, a Lorde é um belo exemplo, ela só vem a cada quatro anos, e sempre é um acontecimento tão maravilhoso quanto a copa do mundo. O tio Kenjaku não pode deixá-lo ser como ela? A resposta é não. Um grande e explícito não. O Killer Cat (Yuuji) é um artista recém-nascido, com apenas seis anos de carreira (menos de uma década!) Não pode se dar ao luxo de descansar e sumir, isso fará os fãs ficarem desanimados e futuramente acabará caindo no esquecimento. Discorda dessa linha de pensamento, mas discordando ou não, tio Kenjaku permanecerá firme.

Precisa produzir… tem escritas e sonoridade prontas, mas falta algo. O que falta? Eis a questão, também não sabe.

Fechou os olhos e massageou a têmpora nada suavemente, soltando a respiração pesada presa na garganta, está na escola, pensamentos sobre trabalho não deveriam ocupar sua cabeça nesse momento, já disse isso tantas vezes a si mesmo que tornou-se um slogan. Gojo finalizou a aula repassando uma lista de exercícios, não olhou o conteúdo da folha, apenas guardou-a na pasta cor vermelho cereja e esqueceu-se dela. Junpei provavelmente irá mandar a resposta quando terminar de resolver os problemas. As próximas aulas passaram-se tão rapidamente quanto a de matemática, não lembra de absolutamente nada (nem o nome do professor).

Agradeceu a Deus quando o sinal tocou novamente, sinalizando o final das aulas escolares. O relógio de pulso marca três e quarenta da tarde, levantou da cadeira e jogou a mochila nas costas de maneira desleixada, olhando para Junpei dor cima do ombro.

— Você vem? — Perguntou, sem muita vontade de esperá-lo terminar de copiar o texto desnecessariamente grande no quadro branco.

— Só um minuto… — Ele pediu, fechando o caderno apressadamente e jogando tudo dentro da mochila desgastada de qualquer maneira, conseguindo ser ainda mais desorganizado que Yuuji. — Pronto, terminei. — Anunciou, levantando da cadeira e ficando do seu lado.

— Eu vejo. — Murmurou, indo na frente. Junpei obviamente o acompanhou, mais uma vez passando um braço por cima do seu ombro e puxando-o para perto, Yuuji retribuiu o meio abraço segurando-o pelos quadris, prendendo o dedo no bolso da calça dele. — Não entendi nada do que aquele cara falou… — Comentou, apenas para ter algo que falar.

— Teria entendido se não estivesse no mundo da lua, outra vez. — Junpei implicou, com um sorriso carinhoso no rosto. — Sabe, não estarei te dando as respostas de todas as atividades sempre, durante os exames e testes é difícil colar. — Completou, há um tom preocupado e autoritário nisso, mas Yuuji realmente pouco se importa.

— Tanto faz… eu aprendo melhor sob pressão, de qualquer maneira. — E isso é um fato. Procrastinar até o último minuto e depois passar a noite em claro aprendendo o que poderia ter aprendido lentamente em três meses é um hábito inquebrável que se estende da vida escolar até a vida profissional.

Por esse lado, é até compreensível a pressão que o tio Kenjaku faz para receber musicas novas, ideias, conceitos e figurinos, ele conhece Yuuji tão bem quanto Junpei, e ele sabe que o sobrinho deixará tudo para última hora se não for pressionado a fazer antes, (e diga-se de passagem, tio Kenjaku é o pior nisso) certa vez ele passou o prazo de entrega antecipado, com duas semanas antes da data de entrega original sem que Yuuji ou Junpei soubessem. Resultado: foi a primeira vez que conseguiu trabalhar tranquilamente em algo, sem nenhuma correria.

Inicialmente ficou bravo, mas entendeu o ponto dele, e hoje o agradece por ter feito aquilo. (Anteriormente, Junpei precisou acalmá-lo para que não agredisse fisicamente o tio Kenjaku, insistindo que os xingamentos de baixo calão eram o suficiente).

— … de fato. Contudo, esse não é um hábito saudável. — Desviaram de alguns alunos, os corredores estão cheios nesse horário, todos os estudantes loucos para irem aos clubes (alguns obrigatórios) e outros para irem embora do terreno escolar. — E você acaba se sobrecarregando desnecessariamente. — Completou quando passaram pela maior parte da multidão, finalmente chegando ao corredor de saída.

— Posso lidar com isso. — Dispensou as preocupações de Junpei, cansado de toda essa conversa inútil. — Você vem comigo ou… — Deixou a questão no ar, não sabe a programação de Junpei, mas ele sem sombras de dúvidas está livre o resto do dia. O cursinho de inglês avançado é apenas às quartas-feiras, entre às cinco da tarde e sete da noite, o resto da semana é gasto com revisão de material escolar (ele é um verdadeiro nerd) e segue Yuuji incansavelmente (eles estão presos pelo quadril).

Junpei não respondeu imediatamente, como normalmente faz, ao invés disso olhou para um ponto e fixou-se nele durante tempo o suficiente para Yuuji seguir o olhar dele e fazer o mesmo. Encontrou Gojo Satoru (esse desgraçado está o perseguindo agora?!) encostado no capô do carro preto tamanho família, braços cruzados e expressão despreocupada, enquanto conversa animadamente com Jin.
Sem desviar o olhar, questionou Junpei.

— O que estamos olhando? — Isso pareceu tirá-lo de um transe, sentiu-se ser puxado para mais perto, ficando quase colado no peito plano de Junpei (que inveja, queria ter peitorais lisos assim também!).

— O moreno não para de encarar, é Geto Suguru? — Piscou confuso, procurando-o discretamente, e finalmente o encontrou dentro do carro no assento do motorista, a porta está aberta e Gojo e Jin conversando do lado de fora chama bastante atenção. — Posso sentir que ele e o Gojo me odeiam, querem me matar, tenho certeza. — Franziu as sobrancelhas, achando engraçado o comportamento destemido de Junpei quando sua voz expressa um sentimento totalmente contrário.

— Que foi? Está com medo? — Provocou, com um sorriso malicioso tomando conta do rosto. Junpei desviou os olhos do carro a poucos metros de distância e fez uma expressão indignada, parecendo realmente ofendido.

— O que? O que pensa que eu sou?! — Perguntou alto, ainda com os olhos arregalados. O sorriso malicioso de Yuuji passou a ser falsamente complacente, e ele fechou os olhos, abraçando-o com os dois braços.

— Não precisa ficar assustado, eu vou te proteger. — Afirmou, usando um tom enjoativamente meloso.

— Eca! — Junpei riu, tentando se desvencilhar dos braços de Yuuji. Claro que ele não está realmente tentando, pois se quisesse, já teria afastado-o com um chute. — Não sou uma donzela em perigo. Saia de cima de mim, vadia. — Negou com um aceno de cabeça.

— Oh, vamos lá, não fique ofendido! Até os príncipes precisam ser salvos às vezes. — Insistiu, apertando ainda mais o aperto.

— E desde quando você é um herói? — Retrucou, parando os motivos em prol de encará-lo com uma sobrancelha arqueada.

— Bem, eu nunca disse que era, posso está te resgatando para fazer algo pior… Muito pior. — Abriu um sorriso cheio de dentes, Junpei engoliu em seco, e rapidamente se soltou do abraço (mortal) de Yuuji e correu. — Ei, volte aqui… — Correu atrás dele, rindo e ouvindo a risada humorada de Junpei a frente.

— Me deixe em paz, vadia descarada. — Colocando mais velocidade e força nas pernas, Yuuji o alcançou facilmente (academia dá bons resultados) e pulou em suas costas, passando os braços pelos ombros largos e abraçando-o por trás, enquanto as coxas apertam-se ao redor da cintura. — Okay, eu me rendo. Pode fazer o que quiser comigo, oh grande senhor da maldade. — Entre longas baforadas de ar, Junpei assumiu ter pedido a pequena disputa, levantando as mãos em sinal de rendição.

— O que eu quiser? — Perguntou, sussurrando ao pé do ouvido pequeno e livre de piercing (apesar de insistir para que ele os faça), deu uma lambida e em seguida uma mordida suave no lóbulo da orelha, causando arrepios involuntários em Junpei, riu disso. — Acho melhor estar preparado então, não vou pegar leve, querido. — Avisou, soprando à respiração quente onde acabou de morder.

— Puta merda, você deveria testar isso no Aoi. — E assim, Junpei conseguiu trazer uma imagem engraçada à mente de Yuuji, a ponto de ambos caírem na gargalhada juntos.

— Aposto que ele iria ficar paralisado! — Disse entre gargalhadas, e Junpei acenou, também rindo.

— Ou iria desmaiar. — Oh, sim! Todo consegue ser tão dramático. É uma surpresa que aquele grandalhão seja um romântico que espera pacientemente encontrar sua alma gêmea para juntos fazerem pela primeira vez o "ato físico de amor", é engraçado, fofo e muito engraçado de se ver. Por esse motivo, provocá-lo com piadas de duplo sentido é tão divertido.

Junpei já está acostumado demais para se importar (ele faz piadas piores e quase sempre de moral duvidosas).

— Ei, crianças, sei que o amor jovem é selvagem, mas demonstrações desse tipo na escola é proibido. — Foram interrompidos por Gojo, ele não está mais encostado no capô do carro e seu rosto perdeu o sorriso brilhante e genuíno de antes, parece excessivamente educado e… forçado.

— Yuuji? Quem é esse? — Jin completou, lançando um olhar estranhamente desconfiado para a figura de Junpei. É possível que tenham corrido nessa direção no meio de toda brincadeira? Fala sério, precisam ter mais atenção às pessoas que estão por perto, elas podem ser um verdadeiro pé no saco.

— Oh, desculpe-nos Gojo-sensei, mas como o senhor mesmo falou, o amor jovem é selvagem, nem sempre conseguimos nos controlar e manter as mãos recolhidas para nós mesmos. — Não entendeu o jogo de Junpei, mas manteve a expressão neutra quando ele passou as mãos por suas coxas, dando leves apertos. O sorriso de Gojo não vacilou, mas teve a impressão de que seus olhos estavam em chamas. — No entanto, iremos procurar lugares mais… discretos para nossa selvageria na próxima vez. — Concluiu, com um sorriso gentil. Yuuji segurou a vontade de rir alto, escondendo o rosto vermelho entre o ombro e pescoço de Junpei.

— E você deve ser Fushiguro Jin-san, certo? O pai de Yuuji. — Perguntou/afirmou, tirando a atenção de Gojo e encarando Jin suavemente. — Querido, precisarei colocá-lo no chão agora. — Avisou, dando um tapinha na coxa de Yuuji. Desprendeu-se dele, voltando para o chão e dando dois passos para o lado, ficando a uma distância segura dos adultos.

— Sim, eu sou, e você seria? — Jin continuou com os olhos apertados, exalando desconfiança.

— Yoshino Junpei, prazer em conhecê-lo. — Curvou-se respeitosamente, e isso fez Yuuji revirar os olhos. Um brilho de reconhecimento atravessou o rosto de Jin, e qualquer névoa de desconfiança foi embora.

— Yoshino-kun, o prazer é todo meu, sempre ouvi falar sobre você, mas nunca tive a sorte de conhecê-lo pessoalmente. — (O que??) Yuuji arqueou a sobrancelha, tem certeza que nunca mencionou o nome de Junpei para ninguém da casa Itadori-Fushiguro antes. — Obrigado por cuidar de Yuuji. — Agradeceu, curvando-se também. Okay. Algo está errado aqui.

— Não precisa agradecer, Fushiguro-san, na verdade é o Yuuji quem tem cuidado de mim desde sempre. — Junpei mentiu (e riu) descontraidamente. — Desculpe pela bagunça que estávamos fazendo na frente da escola, buscaremos ser mais reservados futuramente. — Assegurou, e essas palavras pareceram agradar Jin.

— Tão educado… — retira o que disse, ele está completamente apaixonado pelo cavalheirismo (falso) de Junpei, pode até ver estrelas em seus olhos. Eca. Piscou os olhos, não conseguindo conter a expressão de nojo, e Gojo faz o mesmo (mas provavelmente por razões diferentes). — Gostaria de convidá-lo para um jantar em nossa casa, todos ouvimos falar de você em um algum momento, e seria certo admitir que sentem-se curiosos sobre seu relacionamento com Yuuji. — Estava prestes a questionar QUANDO e ONDE falou sobre Junpei, mas Toji o interrompeu.

— O que temos aqui? Reunião de família? — Ele perguntou divertido, trazendo Megumi e as duas meninas a tiracolo.

— Toji-san, acredita que esse é o Yoshino-kun de quem Kaori-san tanto fala? — Então a culpa é daquela vagabunda? Yuuji pensou, observando o desenrolar da situação (desagradável, muito desagradável) a sua frente. Nenhum pouco surpreso, Toji examinou Junpei dos pés a cabeça com um olhar crítico.

— Hum, o pirralho tem um namorado do rock e ainda diz que eu sou o traficante?! — Exclamou, apontando o dedo para Junpei de maneira rude.

— Prefiro pop clássico, como Michael Jackson, senhor. — Junpei se defendeu, oferecendo um sorriso falsamente simpático. Yuuji escondeu o riso, levando a mão para cobrir a boca. — Embora o rock não seja desagradável de ouvir. — Acrescentou tardiamente. Toji continuou estudando-o minuciosamente, pode dizer que se Junpei fosse um alfa recessivo estado se sentindo intimidado pelo comportamento passivo-agressivo dos alfas Toji e Gojo.

Felizmente ele é um beta alheio a essas idiotices.

— Ainda sim, pensei que o pirralho teria um namorado mais sofisticado. — Comentou, com uma careta de desgosto.

— Toji-san, isso foi rude. — Jin o repreendeu, em seguida, deu um sorriso constrangido para Junpei.

— Pai! — Megumi também disse, ao mesmo tempo que Jin.

— Posso garantir que sou sofisticado o suficiente para manter Yuuji satisfeito, senhor. — Junpei, no entanto, piorou a situação trazendo um comentário cheio de duplo sentido. Toji apertou os olhos, dando um passo para frente e inacreditavelmente, Jin não tentou impedi-lo.

— Bom, as apresentações terminaram, nós estamos indo. — Puxou o braço de Junpei e o arrastou para longe daquela gente doida. — Digam adeus. — Falou, já longe, vendo Junpei acenando para eles com uma mão e um sorriso maroto no rosto. — Eu vou matar você. — murmurou entre os dentes.

— Foi divertido vê-los acreditar que somos namorados. — Okay, isso é verdade, não pôde negar. Mas eca! Namorar Junpei? Ele é bonito, gentil, fofo, tem gostos maravilhosos, mas não, namorar com ele é nojento. São melhores amigos, ou melhor, irmãos! Seria o mesmo de se imaginar com Choso ou Sukuna. O pensamento é… perturbador.

— E agora irão encher o meu saco por causa disso! — Reclamou, mas não está realmente irritado. Junpei fez cara de paisagem, puxando para perto e apoiando o queixo na sua cabeça. — Leve isso mais a sério, é sobre minha vida que estamos falando. — Exigiu, fazendo um bico manhoso nos lábios.

— Nada do que eu faça irá estragá-la ainda mais. — Ele disse divertido. Revirou os olhos, resolvendo descartar todas as acusações que preparou de antemão, ou ficará nisso até o final do dia.

— Vai de foder. — Resmungou ao invés.

— Não, mas obrigado pela oferta. — Sorrisinho bonito e irritante.

Junpei é… simplesmente perfeito.

 

°

 

sexo

substantivo masculino
Nos animais, incluindo os seres humanos, conjunto das características que diferenciam, numa espécie, os machos e as fêmeas e que lhes permitem reproduzir-se.
Nos vegetais, conjunto de características que distinguem os órgãos reprodutores femininos e masculinos.
Conjunto das pessoas que pertencem ao mesmo sexo.
Sensualidade, lubricidade, sexualidade.
Conjunto dos órgãos sexuais; genitália.

 

Essa é a definição que qualquer pessoa encontrará se pesquisar pela palavra no Google, além da infinidade de sites e vlogs que serão apresentados para acesso rápido. Com apenas um clique, o mundo do prazer sexual e suas inúmeras fantasias estará escancarado para quem quiser vê-lo (e quem sabe, talvez participar), essa é uma das facilidades que a modernidade trouxe ao mundo (devemos agradecer a globalização, ela mudou o planeta!). Antes da internet possibilitar o acesso a essas informações básicas sobre o prazer sexual, os ômegas obrigatoriamente conheciam apenas o que era conveniente aos olhos julgadores dos alfas. E é claro que eles iriam odiar fazer algo que envolve o conhecimento dos ômegas sobre isso, porque na cabeça retrógrada deles os ômegas devem ser inocentes e intocados, quanto menos experiente melhor, mais fácil de manipular.
E se eles não sabem uma maneira melhor de ter prazer, não irão questionar os métodos usados pelo cônjuges.

Talvez seja esse um dos motivos que faz Killer Cat e tantos outros artistas ativistas serem alvos do ódio da comunidade conservadora e anti-progressista. Supõe-se que cantar sobre sexualidade, abusos e injustiças seja fácil no meio do século vinte e um, mas essa é uma suposição completamente errada, e existem muitos motivos que comprovam isso.
Educação sexual para crianças e adolescentes não é sobre "Ah, vocês estão querendo trazer essa imoralidade para nossas crianças, destruindo nossos valores e família…" e blá, blá, blá.
Não, não tem nada haver com isso. É mais sobre: "Fui abusado sexualmente e não sabia que estava sofrendo abuso sexual.", Yuuji entende o sentimento angustiado que vem depois da descoberta, porque quando ele fez sexo pela primeira vez, não sabia o que realmente estava acontecendo com o seu corpo. O porquê doeu e sangrou, mas ainda assim, foi tão bom no final.

Às vezes a ignorância é uma benção, esse não é o caso, no entanto.

E acreditar nisso e defender publicamente a educação sexual nas escolas o faz ser visto como uma vagabunda, vadia, prostituta, poço da promiscuidade, desavergonhada, descarada e todos os outros adjetivos que remetem a uma figura de um ômega pecaminoso, pode-se resumir tudo isso em: Destruidor de lares ou filhote de satã. A educação sexual não pretende levar um vibrador para uma escola do maternal e ensinar as crianças como usá-lo (isso ultrapassa os limites do repulsivo), também não vai colocar um filme pornográfico para rodar na projeção holográfica durante o intervalo para todos assistirem.

Não. Absolutamente não, não irão fazer isso. Inicialmente, consiste apenas em dizer onde pode ser tocado por um adulto e se esse toque incomoda (ou não, mas ainda é estimulante), palestras sobre abuso sexual e temas NECESSÁRIOS, crianças são crianças, ninguém quer traumatiza-las. Na adolescência, quando estiverem no ensino médio, introduzir a sexologia pode sim ser interessante, principalmente para os ômegas. Existem garotos que nem sabem como colocar uma proteção vaginal… isso é inadmissível. Ou desconhecem as variedades de tsd circulando pelo globo e a facilidade na transmissão delas, sequelas, tratamentos e até mesmo aquelas que chegam a ser um problema para o resto da vida. Os adultos conservadores aparentemente querem esconder isso dos jovens (ômegas) e betas (fêmeas), e uma onda de artistas falando sobre o tema tão abertamente é nada menos do que irritante.

Graças aos avanços da rainha mãe do pop, a estrela internacional Madonna (e a maior ídola de Yuuji, antes mesmo até da Britney Spears e Beyoncé), é comum ver ômegas se apresentando em palcos vestidos dentro de roupas consideradas vulgares, falar sobre sexo e sexualidade, ganhar espaço não somente no meio artístico, como no mundo dos negócios e respeito da sociedade. Ela deu passos de bebê, Britney Spears caminhou e Beyoncé e Rihanna correram, a nova geração agora pode tirar os saltos, calçar um tênis e cruzar a linha de chegada sem grandes empecilhos (ou pelo menos, essa era a ideia). As pessoas se esquecem que sempre, sempre terá alguém, um grupo específico que será contra os avanços progressistas e liberalistas dos ômegas.

Eles dizem: "Que direitos mais vocês iriam querer? Já alcançarem a igualdade, tem liberdade e livre arbítrio." Uma grande mentira. A sociedade pode ter sim evoluído, mas ainda permanece com os mesmos velhos preconceitos enraizados na mente dos velhos, que passam para os mais jovens e espalham a semente de geração em geração. É uma luta interminável, nunca vai acabar. Yuuji sabia disso desde o início, desde que nasceu e foi diagnosticado como um ômega recessivo suas escolhas foram tiradas do seu alcance. Não tão brutalmente como nas décadas passadas, foi um processo sutil e delicado, ele não teria percebido se fosse distraído.

O fato de Jin ficar tão sem reação com a insinuação de duplo sentido sexual que Junpei fez hoje mais cedo só alimenta ainda mais essa ideia, talvez ele tenha reagido desse jeito inconscientemente, é esperado que um ômega japonês (recessivo ou dominante) seja recatado a ponto da ignorância sobre o sexo, e mais, sem demonstrações públicas de afeto físico em público. Os japoneses definitivamente não gostam muito de contato físico, e tendem a ver essas demonstrações públicas como vulgares e obscenas (principalmente entre um casal beta/ômega), ômega e ômega é algo normal, devido a natureza sensível do gênero, mas agora com a normalidade (algo que deveria ter sido normal desde sempre) de um relacionamento romântico entre ômega/ômega, até isso tem sido evitado e visto com repulsa.

Jin e Toji sem dúvidas já foram vítimas de piadas sem graça e olhares de ódio, embora duvide muito de que alguém seria corajoso o suficiente para enfrentar Toji.

De qualquer maneira, o rosto chocado deles ao ouvir o comentário de Junpei expressou muito dos seus pensamentos em relação a Yuuji. Devem pensar que assim como Megumi, ele é um ômega intocado? Essa crença provavelmente foi por água abaixo depois de hoje. Poderia bufar e ficar estressado com Junpei, mas o que ele fez de mal? Absolutamente nada, e Yuuji está longe de ser virgem (apesar de só ter tido um parceiro sexual até agora), é experiente o suficiente para saber como e onde tocar um alfa para enlouquecê-lo, e conhece o próprio corpo o suficiente para saber onde gosta ou não de ser tocado. Claro, sua experiência não pode ser comparada a de Mahito (ele deve ter fodido umas quatro dezenas de garotos e garotas antes de conhecer Yuuji), e também depois, o mesmo se aplica para Jin e Toji. Mas se comparar a esses adultos é injusto, colocá-lo de frente para Megumi e Junpei faz mais sentido (e sim, Junpei é totalmente virgem).

Ou talvez não, uma vez que seria injusto com os dois virgem do lado oposto.

Contudo, esse não é o ponto. O ponto é: quando Junpei fez um comentário "duvidoso", Toji tornou-se implacavelmente ameaçador. Até aquele momento ele estava sendo passivo-agressivo, estudando, provocando, dando as boas-vindas enquanto mantinha a guarda alta, e inesperadamente, o ar ficou pesado e seus olhos gritavam: "Perigo, afasta-se" como um verdadeiro assassino. E Jin, o tão doce e compreensivo Jin apenas assistiu o esposo ficar quase selvagem sem tomar nenhuma atitude sensata. Na verdade, ele tinha um quê de aprovação no olhar. Yuuji pensa seriamente que Jin deixa Toji fazer o serviço sujo porque ele não tem coragem de fazer, mas sente muita, muita vontade e extrema satisfação em vê o companheiro sendo violento. E enquanto isso, Junpei riu animadamente na cara do perigo, e saiu vivo para testemunho.

Revirou os olhos com o pensamento, voltando ao início outra vez, qual é o motivo exagerado dessa reação? Adolescentes não podem ter uma vida sexual ativa? (Honestamente, sua vida sexual não está nada ativa, faz meio ano que Mahito foi embora e desde então, não sente nenhum pingo de tesão por ninguém, absolutamente ninguém.) Esperavam que fosse apenas um garoto problemático?
Bem, não pode realmente culpá-los. Sempre os manteve à margem, nunca permitindo uma aproximação ou aprofundando-se em conversas, nunca revelou nada sobre si mesmo durante as visitas (forçadas), muito menos deixou-os a par de alguma situação difícil. A pessoa a quem recorre em momentos inoportunos é sempre o tio Kenjaku, que na verdade é muito mais do que um "tio", ele consegue ser um amigo paciente e sábio (quando quer), um empresário inteligente e meticuloso, seguindo inabalavelmente o caminho do sucesso, um pai confiável e respeitável, e um cúmplice de um crime perfeito. Ele é a primeira pessoa na vida de Yuuji, aquele que o ocupa a posição mais alta na sua lista de responsabilidades.

Quando entra no aplicativo de mensagem, ignora trezentas e dez conversas atrasadas para dar atenção ao tio Kenjaku (Junpei também tem prioridade) seu chat tem o privilégio de não está silenciado ou arquivado, e melhor, ainda é fixado. É mais do que natural que ele saiba tudo sobre Yuuji, uma vez que recebeu espaço para isso.
Em contrapartida, Toji e Jin nunca foram bem recepcionados, nem ninguém relacionado a eles. Os amigos de Sukuna e Choso, Tsumiki ou Megumi. Nenhum deles receberam suporte para manter um espaço ao lado de Yuuji, e posteriormente, dentro do seu coração. Então, também é comum que não saibam nada sobre ele. Também não é como se Yuuji saísse falando sobre sua vida sexual para as pessoas, detalhes a aparte, o único que escuta suas frustrações é Junpei.

Sexo nunca incomodou profundamente tio Kenjaku, na verdade, acredita que o que realmente o incomodava era com QUEM estava fazendo (foi assim quando descobriu). Ele odiou a grande diferença de idade, status e a construção (nada saudável) do relacionamento. E depois da última briga, a aversão dele por Mahito passou dos limites considerados humanos (ainda acredita que o tio mandou matá-lo). Fugindo desse contexto, o tio Kenjaku pouco se importa se Yuuji está transando com alguém ou criando teias de aranha entre as pernas (o que é uma realidade), contanto que não engravide de um vagabundo (definitivamente, Yuuji não transaria com um cara falido!) e mantenha o pescoço fora de alcance, ele não vê problemas em um adolescente descobrindo os prazeres da vida adulta e apesar de não terem tido esse tipo de conversa, ofereceu um livro com o título: "O que é sexo?" A um Yuuji de quatorze anos.

Foi surpreendente… mas supõe que ele fez isso porque percebeu o seu desconforto ao sentar, as tentativas de esconder as marcas deixadas por Mahito e especialmente as letras das músicas do álbum XXI, que falam explicitamente sobre sexo, drogas, abusos, festas e infidelidade. Qualquer pessoa acharia estranho um adolescente de quatorze anos escrever sobre esses temas com tanto domínio, é meio óbvio que há uma experiência por trás de tudo, ninguém vai ler um livro sobre sexo para em seguida fazer uma música sobre ele. É algo que precisa necessariamente de experiência, e Yuuji não teria escrito nada do que escreveu se não tivesse passado por aquelas experiências (algumas desejadas, outras nem tanto).
Tio Kenjaku foi esperto em perceber o que estava acontecendo e tentar ajudar, talvez dá um livro explicativo sobre o sexo entre a espécie humana não tenha sido o melhor plano de curso, mas o que vale é a intenção.

Eles nunca chegaram a ter essa conversa que geralmente funciona melhor entre mãe e filho, ou pai e filho, mas ainda assim tiveram. É complicado de explicar. Kaori nunca chegou a perguntar o motivo dos barulhos em que vinham do seu quarto no meio da noite, embora as paredes fossem finas e o ranger da cama alto, a melhor pergunta seria: quem está no seu quarto à noite? Ela nunca veio, entretanto. Imagina que ela acredite que o invasor era Junpei, já que estão grudados pelo quadril desde que se conheceram. Ou talvez, tão alheia quanto (intencionalmente) é, prefira acreditar que Yuuji ainda é um ômega inocente e intocado, esperando pacientemente por uma apaixonante alma gêmea.

Sim, admite que era um romântico incurável quando criança, mas então a vida aconteceu e mudou toda a sua visão sobre relacionamentos. Não é que tenha aversão por eles, definitivamente não, mas acredita que para manter uma relacionamento saudável em pleno funcionamento exige atenção e esforço de ambos os lados, às vezes o amor acaba por falta de manutenção ou é só um desvio de caráter da pessoa que traiu ou deixou o companheiro de lado. Não tem condições de dar atenção a alguém, muito menos se esforçar para mantê-lo feliz, nem tem paciência para isso. Pelo menos, não no momento. Conscientemente, também sabe que nem todo casamento acabará de maneira trágica como o de Jin e Kaori, e nem sempre uma das partes vai se machucar além do imaginado, contudo, mesmo sabendo disso, há um pouco de medo no seu interior.
Esperava superar esse medo ao conhecer sua almas gêmeas e construir um relacionamento saudável, muito diferente do que viu no casamento dos pais, jurou que nunca iria brigar com o cônjuge na frente do seu bebê e dá a notícia do divórcio abruptamente (nunca passou pela sua cabeça se divorciar depois de casado), mas esses planos foram jogados fora quando os conheceu.

Inicialmente, pensou que Gojo e Geto seriam sua salvação, mas eles apenas o levaram para mais fundo. Eles certamente nunca fizeram nada para machucá-lo, foram gentis e educados, não tinham a intenção de fazê-lo sofrer, vê isso nos olhos preocupados de Geto (ele pensa que sabe ser sutil?). Mas ter uma alma gêmea, duas na verdade, e não poder se envolver romanticamente com elas é… deprimente, ainda mais quando esses dois estão em um relacionamento. Você se sente excluído, porque eles têm uma intimidade maior por se conheceram e estarem juntos a mais tempo, sente-se indesejado e deslocado em certas situações.
A escolha de não se aproximar deles sem dúvidas foi a melhor que já tomou na vida, evitou mais dor e sofrimento, ao custo de não ter um amor incondicional. (Mas quem poderia garantir que eles fariam um relacionamento a três funcionar?)
As crenças que tem sobre o amor são genuínas, mas acreditar no amor e ser romântico são duas coisas separadas e diferentes.

Talvez ainda apareça alguém capaz de despertar esse seu lado novamente, mas até que esse dia chegue, continuará sendo o Killer Cat destruidor de lares que os conservadores amam odiar. Kaori pode continuar no seu mundinho fantasioso onde Yuuji ainda é uma criança ansiosa e inocente, desesperado para agradar (ele é tudo menos isso) e seguir vivendo pacificamente onde quer que esteja. Enquanto Jin e Toji? Eles são um caso à parte, pareciam muito preocupados com seu desenvolvimento sexual com Junpei mais cedo, e terá sorte se não for encurralado e forçado a confessar crimes horríveis (que nunca cometeu). Ou talvez só esteja sendo excessivamente dramático?

Bem possível que seja a segunda opção.

Sim, deve esquecer sobre as estranhezas do dia e tomar um banho gelado para diminuir a dor nos músculos, o instrutor de pole dance pegou pesado nos exercícios e mais uma vez, deu atenção exagerada para Yuuji, não conseguindo esconder seu flagrante favoritismo. Não estaria reclamando se esse maldito favoritismo fosse algo favorável (o que definitivamente não é) apenas significa que será obrigado a ser melhor que os outros alunos porque SEMPRE, sem exceção, será usado como exemplo. A cobrança é realmente algo irritante, e com certeza, desgastante. Suspirou, chutando o chão coberta de grama verde.

Não quer entrar, mas ficar do lado de fora não é a opção mais inteligente, já está começando a esfriar e as roupas que está usando são recomendadas para o verão, não o outono ou inverno. Short legging curto e camisa masculina (tamanho alfa) que vai até metade das suas coxas e tênis vans velhos, pegar um trem para casa do tio Kenjaku seria cansativo, não por causa da pequena viagem até o distrito de Minato, sim por causa dos velhos pervertidos caminhando pela rua a essa hora da noite. Além, é claro, de ter prometido ao vovô Wasake que chegaria em "casa" antes do toque de recolher, que é às dez.

Soltou um suspiro profundo, deixando os ombros caírem e girou a maçaneta da porta, entrando e já tirando os tênis. Dentro de casa está quente, sem vento frio e ar levemente pesado, todas as luzes estão acesas e isso infelizmente significa que tem pessoas acordadas. (Claro que tem! Ainda não é meia noite) caminhou pelo pequeno corredor e logo chegou à sala, onde avistou o vovô dividido entre ler um livro (ou seria jornal?) E assistir um programa culinário de tv?

— Bem-vindo ao lar, Yuuji. — Piscou um tanto confuso, o que há com essa saudação? Parou onde estava e virou o pescoço na direção do vovô, vendo-o abrir um pequeno, quase imperceptível sorriso. É como se estivesse com saudade de dizer isso…

— Ah… boa noite?? — Respondeu, sentindo-se confuso. O que deveria dizer nessa situação? Faz anos que não recebe nenhum comprimento ao cruzar a porta de casa, Kaori nunca estava, Mahito o comprimentava com beijos e abraços, e Junpei … Junpei é Junpei, não precisam de cumprimentos quando podem apenas entrar e dizer: "Esperou muito?" No caso de Yuuji, que sempre chega atrasado, ou um: "A tia está em casa?" Não que saber se ela está em casa faça alguma diferença, ainda vai se jogar no sofá depois de vasculhar o armário em busca de comida. O vovô não parece se importar com isso, entretanto.

— Tem jantar na cozinha, se estiver com fome. — Ofereceu, voltando a ler o jornal. Ainda sentindo-se deslocado, Yuuji acenou com a cabeça, mesmo que não estivesse sendo assistido.

— Tudo bem… — Murmurou, continuando a subir as escadas.

Quando foi a última vez que tinha jantar esperando-o em casa? Realmente não lembra. Tio Kenjaku geralmente faz, mas não é a mesma coisa, e Yuuji nem sempre pode passar a noite na casa dele. Mahito costumava levá-lo para comer fora durante os fins de semana, ele era um péssimo cozinheiro, não seria nenhuma surpresa se sua comida causasse uma intoxicação alimentar. Acabou meio que comendo fora todos os dias, frutas ou alguma refeição saudável que vende na padaria do centro de Shinjuku, e se estiver com forças o suficiente, depois de um dia inteiro na escola, treinos e trabalho, pode cozinhar algo simples e fácil e dormir em seguida.

O que quase nunca aconteceu, cozinhar é bom, mas comprar uma comida já preparada é muito mais fácil.

Terminado de subir as escadas, andou despreocupadamente pelo longo corredor, seus passos são pesados e desleixados, e isso é o melhor que pode fazer, ser silencioso nunca foi sua praia. Chegou antes do toque de recolher, não fez nada de errado, então não precisa necessariamente se esconder (embora seja bom não ter que ver Jin ou Toji), por outro lado, o treino de pole dance foi exaustivo a ponta de sentir os músculos dormentes, se conseguir ir a academia amanhã cedo, merece um prêmio por sua força de vontade e disciplina.

Bateu na porta do quarto, esperou e esperou, bateu novamente, e então Megumi abriu-a.

— Posso entrar? — Perguntou, certificando-se de manter o rosto neutro.

— É o nosso quarto… não precisa bater. — Ele repetiu pela milésima vez e saiu da frente, abrindo espaço para Yuuji passar. Deu de ombros, entrando no quarto e indo pegar uma muda de roupas (um conjunto moletom, nenhuma novidade nisso)

— Não, esse "era" o meu quarto, isso foi antes de você aparecer, agora ele é seu, mas nunca será nosso. — Implicou, com um sorriso pequeno e malicioso, olhou para os ursos idiotas pendurados na estante branca de madeira. — Deveria ter jogado-os no lixo. — Comentou, apontando com um dedo para a estante. Megumi continuou plácido, e disse calmamente:

— Imaginei que eles tinham um valor simbólico para você, não achei certo jogar um pedaço seu fora. — Arqueou uma sobrancelha. Valor simbólico? Uma parte sua? Esse garoto é mais sentimental do que deixa transparecer.

— Olha, Fushiguro-kun… — Foi interrompido.

— Pode me chamar de Megumi. — Odeia ser interrompido. Fechou os olhos e respirou fundo, então abriu o sorriso mais falso que conseguiu convocar.

— Não obrigado, não somos próximos o suficiente para isso, nem acredito que seremos um dia. — Apontou o óbvio, por que quem é amigo do amante do seu "pai"? Ele ser um ômega dominante não tem nada haver com isso, está pouco de fodendo para as classificações de gêneros secundários e como eles devem se comportar. Ele também não tem culpa nas escolhas de Jin e Toji, ainda assim, prefere manter distância. — E continuando, não tente ser legal comigo só porque você e sua família pensam que faço parte dela. Não pense que poderemos ser amigos, isso nunca vai acontecer, nem se você estivesse carregando os bebês de Sukuna faria alguma diferença para mim, você, ele, e todos nessa casa, não tem nenhum valor simbólico para mim, entendido? Vamos encerrar a encenação agora e viver normalmente, por favor. — Estalou os dedos, e saiu do quarto antes que escute uma réplica.

Valor símbolo? Ele deixou todos aqueles ursos atrapalhando a decoração do próprio quarto porque presumiu que tinham um valor simbólico para Yuuji? Eles não trazem nenhuma lembrança quente e que deseje manter. Claro, a vida na infância nem sempre foi uma merda, mas a maior parte dela está repleta de lembranças onde Jin e Kaori estavam brigando, e Yuuji abraçava um urso fofo com força, tentando afastar a dor que corroía o peito.

Lembra-se brevemente que adorava abraços (ainda gosta deles, honestamente) e à medida que crescia, todos os adultos estavam sempre ocupados (exceto Wasake), Sukuna e Choso também. Sem muitas opções, agarrou-se às pelúcias para preencher o vazio e solidão que tanto o atormentava. Olhar para elas o faz lembrar o quanto era patético, até mesmo para uma criança. Então não, Megumi não tomou uma boa decisão em escolher manter as pelúcias ou manter qualquer coisa que já pertenceu a Yuuji. As memórias e sentimentos que elas carregam dificilmente são bem-vindas.
As intenções dele podem ter sido genuínas, mas ainda não foram bem recebidas.

Deveria ter esquecido de tudo relacionado a essa casa e a família que um dia teve, e a melhor maneira de fazer isso é manter-se longe de tudo e todos, graças a Kaori, conseguirá realizar seu desejo apenas em seis meses (se não morrer de desgosto até lá).
De volta ao corredor, bateu na porta do banheiro e felizmente ele estava vazio. Tomou um banho quente e demorado, esfregando-se de maneira rude.

É bom que aqui as trancas das portas estejam em bom funcionamento, na casa de Kaori, quase todas estavam quebradas e era comum ter Mahito invadindo o banheiro enquanto tomava banho. Isso o faz lembrar o quanto sexo debaixo do chuveiro é bom, a parede fria em contato com sua pele quanto é esmagado entre ela e o corpo quente e musculoso de Mahito, os sons sujos e bons apertos em sua bunda, mordidas e tapas. Involuntariamente, soltou um gemido arrastado, esfregando as coxas juntas. Mordeu o lábio inferior com força, pensando seriamente em deslizar a mão entre as pernas e dar prazer a si mesmo, (já faz um bom tempo que não se toca), mas esse plano desce pelo ralo junto com a água quando escuta uma batida forte na porta.

— Ei, preciso usar o banheiro! — É a voz de Sukuna, grave e alta, toda o tesão que sentia a poucos minutos atrás esvaziou-se rapidamente. Quando demorou para responder, Sukuna bateu na porta de novo, com mais força dessa vez. — Ei, quem está aí dentro?! — Soltou um suspiro frustrado, engolindo a saliva e acalmando os nervos, a última coisa que quer é deixá-lo ouvir sua voz trêmula (por nenhuma razão lícita).

— Sou eu… já vou sair. — Silêncio. Talvez não tenha mascarado bem a voz? Desligou o chuveiro, sentindo o coração bater forte dentro da caixa torácica, enxugou-se rapidamente e vestiu-se, saindo do banheiro. Sukuna está parado na frente da porta, e consequentemente, atrapalhando a passagem. — Com licença…? — Pediu, evitando olhá-lo nos olhos.

— Está tudo bem? — Engoliu em seco, forçando um sorriso cínico. É claro que ele iria perguntar isso, a voz de Yuuji sempre fica… frágil depois de umas sessão de sexo, ou qualquer coisa relacionada a atividade sexual. O que tinha na cabeça?! Essa não é a casa de Kaori, Mahito não vai invadir o banheiro e fode-lo contra a parede, nem pode se mastubar e gemer alto como uma cadela no cio, (não se importa em ter espectadores, mas prefere manter a modéstia na frente da família Itadori-Fushiguro, pelo menos por enquanto). Quer se bater por ser tão idiota. — Digo, sobre hoje mais cedo, não queria causar nenhum mal estar e… me desculpe, Yuuji. — Arqueou a sobrancelha, perplexo com esse pedido de desculpas fora do contexto. Mas supõe que seja melhor não ser questionado sobre o quê estava prestes a fazer no banheiro.

Contudo, esse pedido de desculpas recarrega sua bateria de sarcasmo diário, e é impossível segurar o comentário ácido que escapa por entre os lábios.

— Uma pequena indigestão não é nada comparado a alguns socos, você não se desculpou por eles, no entanto. — Sukuna arregalou os olhos levemente, antes de uma carranca adornar o rosto de expressão naturalmente severa. Sorriu inocentemente, fechando os olhos para dar um ar ainda mais inocente (nenhum alfa mais velho resiste aos seus pedidos quando sorri desse jeito).

— Nesse caso, você é o único que deveria se desculpar. — Sorriu ainda mais, já esperando essa resposta. A relação que manteve com Choso e Sukuna na infância foi totalmente destruída durante as brigas de Jin e Kaori, eles nunca estavam por perto, então é normal que em algum momento, tenha parado de vê-los como uma figura confiável. O vovô é o único em quem confia (nessa casa). Com o casamento de Jin e Toji essa relação piorou, eles ficaram ao lado de Jin, e repreendiam Yuuji por fazer comentários ácidos e espirituosos.

A situação piorou quando descobriram que Sukuna e Megumi eram almas gêmeas. Aquele garoto está desde sempre tentando encontrar maneiras de se aproximar, e Yuuji está desde sempre afastando-o propositalmente, um pouco rude às vezes, outras nem tanto.
E em uma dessas vezes, acabou empurrando-o e chamando-o de vadia, claro que Sukuna não gostou disso e "ordenou" que Yuuji se desculpasse. Ele iria se desculpar? Nunca, não viu onde errou, ou o que fez de errado. Megumi, Tsumiki e Toji são seus substitutos e ele é quem deveria se desculpar? Yuuji riu, realmente riu com as palavras de Sukuna, mas aquilo foi apenas uma maneira de esconder a dor que estava espalhando-se pelo peito e ameaçava transbordar em lágrimas. Talvez, xingar Megumi e o vínculo de alma deles não tenha sido a melhor escolha, Sukuna reagiu como qualquer alfa dominante reagiria ao ter seu ômega recém descoberto atacado (fisicamente ou não) e avançou em Yuuji.

Luta corpo a corpo nunca foi o forte de Yuuji, e a diferença de três anos entre ele e Sukuna o colocou ainda mais em desvantagem. Apanhou feio, foram vários socos e rosnados assustadores, a briga estendeu-se por vários minutos (parecerem horas) até que vovó Wasake ouvisse os gritos de Megumi e tirar Sukuna de cima de um Yuuj ensanguentado.

Honestamente, apanhar não foi o que realmente doeu, mas sim o olhar de puro ódio nos olhos vermelhos de Sukuna.
Naquele dia, não aceitou os cuidados de Wasake, apenas foi para casa de Kaori e escondeu-se no quarto. Mahito remendou seu rosto no meio da noite, deu-lhe beijos suaves e acariciou seu cabelo até que dormisse.

Nunca pediram desculpas por aquele dia. Sukuna é um alfa dominante feroz e estava defendendo a honra do seu companheiro, ele se arrepende, mas não vai voltar atrás. Enquanto Yuuji… bem, ele foi o único que saiu machucado, não vê o porquê de se desculpar. Querendo ou não, sente receio em ficar perto de Sukuna, não por medo, mas como um ômega, é normal que queira ficar longe de algo ou alguém que já o machucou de alguma forma. E naquele dia, algo quebrou entre eles.

Não vê Sukuna como um irmão. E não vê como podem consertar isso.

— Vou passar, mas obrigado pela oferta. Agora sai da frente. — Empurrou-o, e sem surpresa nenhuma, Sukuna permaneceu exatamente onde estava. A presença de Sukuna impõe dominância e respeito, é quase difícil manter o rosto erguido na presença dele.

Yuuji diz a si mesmo que classificações secundárias não importam, e seguindo essa linha de raciocínio, nunca vai se submeter a nenhum alfa, por mais dominante que ele seja.

— Tem ideia do quanto machucou ele com aquelas palavras? — Machucou? Yuuji sente a dor no coração aumentar, junto dos batimentos cardíacos. Sukuna pergunta isso com descrença, como se não conseguisse imaginar o porque Yuuji odeia os Fushiguro (e ele não os odeia, não realmente, mas não quer tê-los por perto) ou porque um ômega diria algo que iria machucar outro ômega propositalmente. Ele ficaria surpreso ao saber o quanto omegas não tem nenhum senso de companheirismo para com seus iguais.

— Não, até porque não sou um empata para saber dos sentimentos das pessoas, nem gostaria de ser. — E também porque já tem muita confusão emocional própria para lidar, não precisa de mais uma. Sukuna estreitou os olhos, eles já são estreitos naturalmente, algo que herdou de Kaori, assim como Choso. — Agora, tem ideia do quanto aqueles socos foram dolorosos? Imagino que não, então pare de fazer perguntas idiotas e saia da frente, tenho mais o que fazer. — Viu arrependimento e raiva (provavelmente de si mesmo) passarem pelos olhos de Sukuna. Ele afastou-se com um pequeno grunhindo, e Yuuji finalmente pode respirar tranquilamente.

— Não era minha intenção… apenas..- — Interrompeu, completando a frase dele.

— Apenas agiu por instinto, claro, vocês alfas agem como animais na maioria das vezes. Acho que é idiotice esperar algo que não seja decepção vinda da sua classe. — dispensou-o com um comentário maldoso, dando as costas para ele.

Yuuji conviveu com alfas desde que nasceu, e não tem as melhores experiências com eles. Jin, Choso e Sukuna são bons exemplos, Mahito juntou seus pedaços apenas para quebrá-lo novamente… os únicos alfas de respeito são tio Kenjaku e Wasake, os outros são apenas desculpas de um.

Alfas servem apenas para aquecer uma cama e serem descartados posteriormente, mantê-los em um relacionamento gera muita dor de cabeça, e já tem isso o suficiente.

Desceu as escadas, dessa vez, sem encontrar o vovô assistindo ou lendo no sofá da sala. É uma pena, deveria ter falado melhor com ele quando chegou. Foi até a cozinha e descascou um abacaxi grande, colocou-o em um pote fundo e começou a comer, enquanto rolava o feed de atualizações de postagens no twitter. Parou na foto do Rapper Tabeck, também conhecido como THC, ambos os apelidos remetem a maconha e o uso de drogas ilícitas, nada surpreendente vindo de um rapper. Yuuji, por mais inacreditavelmente que pareça, simpatiza com o rapper, cujo nome de batismo é Zenin Naoya, um japonês de família tradicional que mudou-se para os EUA após terminar o ensino médio e acabar se envolvendo demais com os garotos de rua.

A história dele é um tanto trágica, perdendo o apoio da família e tudo mais, (as pessoas dizem que o afastamento dos parentes se deve a personalidade escrota dele), mas ele não é um artista que está frequentemente envolvido em escândalos públicos. Na verdade, nunca o viu envolvido em nenhum escândalo, e tem pensado seriamente em fazer um feat com ele no álbum em que está trabalhando atualmente.
Curtiu a foto (muito reveladora, por sinal) dele sem camisa na praia, e teve uma ideia que sem dúvidas irá deixar os internautas loucos e paranóicos (e o tio Kenjaku furioso)

Rindo diabolicamente, procurou uma imagem de um abridor de garrafa no google e salvou no dispositivo móvel, voltando para a abrir o twitter e colocando as fotos (do Google e do Naoya) lado a lado, com a seguinte legenda: abridor de garrafa/abridor de pernas e publicou. Em menos de dois segundos, os comentários e curtidas começaram a aparecer.

Prontinho, agora só precisa esperar por alguma mensagem privada ou um discurso do tio Kenjaku, sobre como estão envolvidos com os Tsukumo e essa pequena postagem nas redes sociais pode fazer os Tsukumo terem a ideia errada sobre quem é o verdadeiro Killer Cat, (ou melhor, sua personalidade imoral). Yuuji pouco se importa, ele não está à beira da falência para mendigar o interesse de riquinhos idiotas.

Faz o próprio dinheiro e nunca precisou de um alfa para pagar as contas do cartão de crédito(Na verdade, usa apenas o cartão de débito, o de crédito funciona como uma reserva). Muito obrigado.

Os comentários dos fãs de várias partes do globo começaram a ficar demais, fazendo o celular vibrar interminavelmente, achou melhor silenciar as notificações e verificar a repercussão dessa brincadeira inocente amanhã. Estava tão distraído comendo os pedaços grandes de abacaxi e de olho na tela do celular que mal notou a chegada silenciosa de Jin, percebendo a presença dele apenas quando foi comprimentado.

— Está comendo abacaxi a essa hora da noite? — Parou o que estava fazendo, olhando entre a tábua de cortar carne cheia de abacaxi e o rosto de Jin. Ele parece preso em uma mistura de confusão e indignação. — Deixamos jantar para você na geladeira, posso esquentá-lo se quiser. Não é saudável comer abacaxi a essa hora da noite, é uma fruta ácida, fará mal ao seu estômago. — Reclamou para ninguém em especial, com as sobrancelhas franzidas. — Costumava comer isso no jantar? — Perguntou, e Yuuj tem certeza que ele está transferindo essa irritação para Kaori.

— Jantei fora. — Disse ao invés de responder a pergunta feita, e isso pareceu acalmá-lo um pouco.
Ninguém precisa saber que sempre jantou fora, seja em uma padaria que serve refeições saudáveis, a casa do tio Kenjaku ou a casa de Junpei.

— Fora onde? — No entanto, aparentemente desviar do assunto não é tão fácil com Jin, ele continuará fazendo perguntas e mais perguntas. Enrugou o nariz inconscientemente, Kaori apenas aceitaria a resposta anterior e iria embora, deixando-o em paz assim como deseja e o silêncio tomava conta do cômodo.

Admite que por muitas vezes quis que ela insistisse nos assuntos inexplicados entre eles, para conhecê-lo melhor e apoiá-lo, mas ela nunca fez isso. Nunca se preocupou o suficiente ou se importou. Ela estava tentando dar espaço a ele ou apenas… realmente não se importava? É difícil saber o que se passa na cabeça de Kaori, ela é muito boa em mascarar as emoções (quando não está bêbada).

— Uma padaria de Shinjuku. — Comentou, encolhendo os ombros.

— O que comeu em uma padaria? — Olhou feio para Jin, começando a ficar irritado com tantas perguntas. — Desculpe, é que geralmente jantamos todos juntos… talvez você não tenha esse hábito. — Jin ofereceu um sorriso pequeno. É claro que não tem esse hábito, Kaori cozinha de vez em nunca, e apesar de ser um bom cozinheiro, Yuuji não tinha tempo ou energia para passar horas na cozinha. — De qualquer maneira, queremos conversar com você, eu e Toji-san. — E agora, ele realmente parece nervoso.

— Não temos nada para conversar. — A menos que seja uma reclamação sobre as notas vermelhas no boletim escolar ou a falta de atenção nas aulas

— Sim, nós temos. — Jin afirmou, tentando manter-se firme. — Termine de comer e venha até a sala, estaremos esperando por você. — Assistiu-o sair do cômodo a passos rápidos, perguntando-se o que diabos fez. Comportou-se bem, bem até demais no primeiro dia escolar e ainda não foi mandado para detenção.

Então o que é?

Bufou, jogando pedaço por pedaço de abacaxi na boca e engolindo quase sem mastigar. Terminou em questão de segundos, levou a tábua de carne e a faca que usou para cortar a fruta e foi até a sala. Assim como imaginou, Jin e Toji estão sentados lado a lado, e a julgar pela expressão sombria no rosto de Toji, não estarão tratando de um assunto muito amigável.

— Iaê. — Chamou, acenando com uma mão. Logo, os olhos verdes esmeralda de Toji estão sob seus ombros, assim como os dourados opacos de Jin (esse desvia rapidamente). — Sobre o que é isso? Cheguei dentro do toque de recolher. — Defendeu-se antes de ser acusado de algo.

— Senta, pirralho. Não é sobre isso que queremos conversar. — Toji falou, o tom dele não deixa espaço para discussões, então Yuuji jogou-se no sofá macio e confortável, em uma posição desleixada.

— Tudo bem, sobre o que é então? — Questionou, encarando-os impaciente. Toji bufou, colocando a mão no bolso e puxando uma cartela de preservativos, colocando-os em cima da mesa de centro. Piscou os olhos, perdeu algo por acaso? O que isso significa? Olhou para Jin, mas ele mantém os olhos no chão, suas bochechas estão quase roxas de tão vermelhas.

— Vamos conversar sobre sexo. — "O QUE??" Perguntou-se mentalmente, sentindo o mundo girar a trezentos e sessenta graus. Continuou sem reação, e Toji tomou isso como uma deixa para continuar. — Você provavelmente conhece bem sua própria biologia e sabe que há riscos de engravidar, assim como contrair doenças sexualmente transmissíveis, ao fazer sexo desprotegido, certo? Os preservativos servem exatamente para isso, para mantê-lo longe de doenças indesejadas e… pode não ser a mesma sensação ao fazer pele a pele, mas é melhor proceder com cautela. — O desconforto de Toji é visível, ele parece irritado em ter que falar isso. Seu maxilar está trincado e as veias do braço saltado.

— As escolas geralmente evitam falar sobre esses assuntos, mas achamos que é importante que você saiba, para que tenha uma vida sexual segura. — Jin completou gentilmente.

— Ao fazer sexo… oral, recomendo usar o preservativo também, você ainda pode contrair alguma tsd pela boca. — Sim, sabe disso, mas qual a graça de fazer sexo oral com preservativo? Mahito estava limpo, isso não tinha necessidade. E não vai transar com alguém que não esteja totalmente limpo, saudável e seja rico. — Essa revista explica melhor os casos de tsd e como eles são repassados de pessoa para pessoas. Por enquanto, vamos focar nos cuidados que você deve ter ao fazer sexo durante o cio, seria preferível se o seu namorado estivesse aqui para ouvir também. Ele é um beta, pelo que pude ver, pode não saber como agir em algumas situações. — Piscou novamente.

Isso tudo é sobre a maldita insinuação de Junpei? Tentou segurar o riso, mas no final não conseguiu e acabou gargalhando alto, para perplexidade dos dois adultos. Toji o encara com a sobrancelhas seguidas e sua expressão é imitada por Jin.

— Olha, eu aprecio sua genuína preocupação com a minha vida sexual, mas eu já sei de tudo sobre tsd e sexo protegido, e não, não gosto de chupar um pênis coberto com um preservativo. Qual a graça disso? A ideia de fazer um oral é sentir o sabor do pênis na língua e o calor da cavidade , então acho que não poderei seguir esse conselho, não seria totalmente prazeroso para mim e para o meu parceiro. — Jin ficou horrorizado com essas palavras, ainda mais vermelho do que antes, e Toji parece a ponto de explodir. — Além de que não estou transando com o Junpei, ele não é meu namorado, é apenas um amigo e não estamos envolvidos dessa maneira. — Sentiu a necessidade de esclarecer esse mal entendido, sentindo que Junpei estaria em sérios problemas se não desmentir a brincadeira dele.

— Mas…- — Interrompeu Jin.

— Sim, é fácil nos interpretar mal, ele gosta de fazer piadas sexuais e está tudo bem, eu realmente não me importo em ser o alvo delas na maioria das vezes. — Deu de ombros, até porque as piadas que faz suas mil vezes piores que as Junpei. Revirou os olhos, continuando: — Não estou transando com ninguém no momento, então, sem chances de gravidez. Vou no ginecologista regularmente e tomo anticoncepcionais feitos sob medida, sem chances de gravidez na adolescência também… não transo com um vagabundo qualquer, gosto de fazer sexo pele a pele e eles me provam que estão livres de qualquer tsd antes de continuarmos. — Pensou um pouco, falta algo? Coçou o queixo. — Ah, e eu não gosto dessa marca de preservativos, é muito barata. Sabe aquelas com sabores diferentes? Elas são exóticas, eu adoro as com sabor de morango, me disseram que é parecido com meu sabor natural. Mas outra vez, aprecio sua preocupação. — Sorriu suavemente.

Gostaria de tirar uma foto da cara deles agora, é tão engraçado.

— Bem, se isso é tudo, eu estou de saída. — Levantou do sofá, passando por dois alfas paralisados e subindo as escadas calmamente.

Deveria ter mantido a imagem de garoto alheio e inocente? Não, acha que isso não iria funcionar. Garotos inocentes não usam calcinhas que entram na bunda, nem rebola no pau de um alfa até perderem as forças das pernas. Ah, garotos inocentes não têm a pilha e pensamentos obscenos na cabeça nem escrevem sobre sexo.

Subiu as escadas e caminhou até o quarto, Megumi ainda estava acordado, quase debruçado sobre a escrivaninha cheia de lixos e a luminária ligada sobre a mesa. Não disse nada, apenas se jogou na cama e fechou os olhos, vagando sobre como está surpreso pela iniciativa de Jin e Toji. Pelas regras impostas sob o relacionamento de Megumi e Sukuna, pensou que ele iriam deixar os ômegas dessa casa totalmente alheios ao mundo sexual, (e isso infelizmente envolve Yuuji), mas eles se superaram.

O livro sobre Tsd tinha a aparência velha e desgastada, é fácil presumir que já passaram por esse tipo de conversa com Megumi e Tsumiki, talvez até mesmo com Choso e Sukuna antes. Sentiu-se tocado pela preocupação deles, ainda mais pelo fato de ter falado tão abertamente sobre sexo e não ser imediatamente repreendido (Kaori com certeza teria lhe dado uns bons tapas), essa atitude seria melhor apreciada se não tivesse descoberto sobre a vida adulta tão cedo.

Eles também não pareciam nada felizes em ter aquela conversa, principalmente Toji, ele estava inegavelmente irritado. Mas irritado com o que exatamente? O assunto ou a suposição de Yuuji está namorando com Junpei?

Perguntas e mais perguntas surgem na sua cabeça, no entanto, não vale a pena perder tempo pensando nisso tão tarde da noite. Dormir por agora é a melhor opção, terá que levantar cedo amanhã e faltam poucos minutos para meia noite, fechou os olhos e fingiu dormir… até realmente está dormindo.

Foi uma noite sem sonhos.

 

Não é sortuda, essa garota de Hollywood?

Ela é sortuda, mas por que ela chora?

Se não há nada faltando na vida dela

Por que caem lágrimas à noite?

Lucky - Britney Spears