Chapter Text
“Vamos cometer crimes !”
Aphelios é a porra de um gênio, um clip no estilo filme de assalto enquanto a gente invade uns estúdios pra gravar é meta linguagem pura. Finalmente, eu to trabalhando com pessoas minimamente capacitadas, de alguma forma todas as ideias malucas que tivemos vão entrar no clip. Até me deixaram ter um solo em rap !
Eu to tão animado que poderia arrancar minha cara fora !
Eu preciso contar isso pra Akali. Abro o celular e escrevo tão rápido que nem deve ta mais fazendo sentido e envio.
Número bloqueado.
Ela me bloqueou em mais uma conta, ótimo, eu vou achar um jeito de falar com ela de qualquer forma. Eu não vou parar até ela me dizer o que tá pegando, nem que eu tenha de dar indiretas pra ela em cada entrevista que eu for fazer na vida, já faz um ano e meio que ela tá assim comigo e não faço ideia do por que. Porra, a gente se conhece desde a adolescência
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Não lembro de nada da minha vida antes de ser adotado pelo Zed, mas lembro muito bem do que vivi naquela casa, minhas melhores lembranças. Eu comecei as aulas de música bem cedo, não lembro se é por que pedi pro Zed ou se ele viu algo em mim e pensou ‘eu posso transformar esse moleque franzino numa estrela da música’. Aprendi o máximo de instrumentos possíveis, meu favorito por muito tempo foi a bateria, para horror dele. Tive aulas de dança também, odiava dança moderna mas o hip hop valia a pena passar pelas outras danças. Nessa época já tentava escrever letras, elas eram horríveis, eu não tinha ideia do que exatamente queria dizer com minha música, apesar disso ganhei um prêmio da rádio local ainda muito moleque. Comecei a ter bandas e artistas favoritos, até hoje Pentakill é minha favorita, mesmo que minha inclinação musical seja o trap, eu amava toda a persona deles.
Quando entrei na adolescência, outra pessoa passou a me acompanhar nas aulas. O nome dela é Akali, ela vinha com o Shen, acho que ele era professor de academia ou tinha um dojo ou qualquer merda dessas. Ela era uma magrela de cabelo de vassoura com uma personalidade irritante, tínhamos 15 anos na época, e eu admito que não estava melhor do que ela.
Zed disse que ela ia dividir os professores comigo a partir daquele dia, ele e Shen decidiram que poderia ser muito bom pra mim ter alguém que estivesse tão apaixonado quanto eu por musica, que iamos nos apoiar e desafiar. Mais tarde descobri que era porque Shen não podia pagar pelas aulas de Akali de forma integral, então os dois combinaram que Shen pagaria só metade das aulas.
Não gostei nenhum pouco na época, eu não era muito bom lidando com outras pessoas e não queria ter de interagir com alguém desconhecido quando fazia algo que gostava.
“E ai emozinho ? pronto pra errar todas as notas do violão hoje ?”
Ah é, e também tinha isso, ela não calava a boca, vivia me chamando de emozinho e me provocando. De uma perspectiva do presente, acho que ela só queria me fazer falar algo, qualquer coisa, obviamente eu sempre respondia. Passamos meses nessa rivalidade/amizade relutante/ parceria, ela também gostava de trap então íamos desde escrever letras juntos a rap battles, ela era feroz e eu tinha ódio do quão boa ela era.
Se tornou rotina, depois das aulas todo fim de semana Shen e Zed diziam pra irmos brincar ou fazer algo juntos enquanto eles tinham coisas importantes pra tratar. Não éramos idiotas, sabíamos que os dois estavam juntos e quando se trancavam no escritório eles iam namorar, que nojo. Nesse tempo livre ela me fazia assistir Naruto tantas vezes que acabei virando fã de anime, ninjas barulhentos não eram bem minha vibe, mas achei Death Note foda.
“Que novidade você gostar de Death Note, é todo sombrio e edgy como você” Ela disse com um sorriso provocativo, aquele sorriso irritante.
“ Eu gosto de ver coisas inteligentes e profundas, melhor do que você que perde tempo vendo 500 eps de um pirata que estica” Eu respondi do lado dela do sofá, ela me chutou pra fora com força, como diabos ela era tão forte ? “Ai ! qual é ?!"
“Se foder, cara”
“Fodase você também”
Ela tava certa, Death Note era uma merda super estilizada, e não ironicamente One piece virou meu favorito secreto, mas eu nunca vou admitir isso pra ela.
Nunca vou esquecer de quando pegamos as bicicletas e fomos apostar corrida até o final da rua, o perdedor ia ter de fazer uma pichação na caixa d’água do bairro e não ser pego, os sprays sendo cortesia de Akali, não entendo como ela conseguiu trazer tantos na mochila. Já estavamos no final da rua principal, a maldita tinha pernas fortes então eu tava na desvantagem, porra de puberdade que não vem nunca.
“ Pronto pra desistir, emozinho?!” Ela gritou da bicicleta em frente a minha. “ Você já sabe como isso vai acabar!!!”
“Nunca !!” Eu pedalei o mais rápido que eu conseguia, a marca de chegada era a padaria no final da rua. Eu quase me quebrei todo freando quando chegamos, tinha caído da bike com força, por sorte só me ralei de leve.
Ela venceu, como sempre, ofereceu a mão pra me ajudar a levantar. Aquele sol de fim de tarde fazia o cabelo preto dela brilhar como fogo, mas não tanto quanto seu sorriso largo e divertido. Eu levei muito tempo pra aceitar, mas foi nessa hora que eu percebi que talvez eu gostasse dela muito mais do que como uma amiga.
“Você tá fazendo cara de bobo” Ela disse e riu de mim com a sobrancelha levantada.
“Tó nada !” Bati na mão dela, recusando a ajuda. Isso só fez ela rir ainda mais.
Aposta é aposta, invadimos o terreno da companhia de saneamento, escalar a cerca de ferro foi moleza mas subir aquela escadinha de metal era meio merda. A caixa d’água tinha um espaço que era pros funcionários andarem, tipo uma sacada circulando a caixa, todo o espaço coberto com pintura verde musgo descascada. Tirei o spray vermelho e rosa da bolsa e comecei, tínhamos pouco tempo antes do segurança do lugar achar a gente.Uma hora eu precisei ficar nos ombros dela pra poder deixar o desenho maior e mais visível, ela era mais alta e mais forte que eu na época, ela aguentava.
Escrevi AK+KA ESTIVERAM AQUI , bem grande, com desenho de kunai e foice, porém como eu não sei desenhar pareciam muito mais fálicos do que era pra ser. Mas de qualquer forma, gostamos do resultado, olhamos um pro outro e começamos a rir pra caralho.
Nossa festa acabou rápido, o vigia nos achou, corremos dele pela sacada e quase pulamos da escadinha de metal, eram 4 metros de altura entre a sacada e o chão, podia dar uma merda se pularmos direito assim. Corríamos pelo terreno, a mochila preta e desgastada cheia de sprays pesando nas minhas costas.Akali conseguiu chegar na grade e já estava subindo, quando o vigia corpulento agarrou meu braço e começou a gritar comigo.
Eu simplesmente apaguei.
A próxima coisa de que me lembro foi estar em frente a casa do Zed. Akali rindo ofegante de uma provável corrida, eu também estava ofegante, quando eu comecei a correr ? o que diabos aconteceu ? Ela começou a me chacoalhar pelos ombros, me olhando quase histérica. Nunca estive tão perto dela assim, eu consegui sentir o cheiro de suor e de mais algum cheiro apimentado, como lámen.
“Puta que pariu !!!! o que foi aquilo !?!!?” Ela disse se sentando nas escadas de ladrilhos vermelhos, só agora eu percebi já era de noite, o pôr do sol se foi a muito tempo.
“O que foi o que ?” Eu perguntei, ainda meio tonto com tanta informação, ela me olhou levemente confusa e divertida.
“Como diabos você simplesmente morde o vigia assim?!? e você ainda jogou todas as latinhas de spray nele HAHAHAHAHA. Acho até que o cara vai tomar uma vacina antirrábica depois disso” Eu sento do lado dela na escada, ainda processando, então era por isso que eu estava com gosto de sangue na boca. “Você é meio doido, eu gosto disso !”
Ela sempre dizia isso, e eu me sentia estranhamente feliz toda vez. Feliz que ela gostava de estar comigo, que ela gostava de quem eu era e não apesar de quem eu era.
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Há um ano e meio saímos de moto pra comer no Lámen do Bill, nosso point favorito. O lugar era simples, uma barraquinha ao estilo japonês com lanternas vermelhas e tudo, além da bancada ele tinha várias mesinhas com banquinhos apesar de raramente estar lotado, ele ficava na periferia da cidade com casas simples nos arredores. O Bill era um cara muito legal, um senhorzinho rechonchudo com um grande bigode branco, conhecia a gente a anos e sabia exatamente o que queríamos toda vez.
Viemos comemorar com nosso especial super apimentado cheio de fatias macias de porco. Ela tava tão animada e não parava de sorrir, contou que foi chamada pra um projeto secreto com Ahri(a princesinha do kpop) e Evelynn(a socialite mais poderosa do sul do país).
“Nada do que eu disser pode sair daqui, ouviu ?” Ela me olha séria, apesar do rosto sujo do caldo marrom que respingou, eu admito que tive de me segurar pra não limpar com o polegar. “ Mas me chamaram pra ser main rapper !!! não faz ideia de quantas ideias e músicas eu já pensei e ainda nem me passaram um endereço de onde vamos nos encontrar” Se o rosto dela pudesse rachar com o sorriso eu acho que já teria despedaçado a muito tempo.
Estávamos um do lado do outro na bancada, a lateral dos nossos corpos se encontrava com frequência e meu coração acelerava toda vez. Ela tava tão bonita naquela noite, com seu rabo de cavalo característico e um blusão preto que combinava com seus tênis brancos novos, nas orelhas estava aquele par de brincos triangulares de prata que dei em seu último aniversário. Eu adorava quando ela os usava, e adorava mais ainda por que eu os dei.
“Mandou bem tampinha ! quem diria que fazer aquelas apresentações de rua ia te abrir portas, ah é, fui eu que disse não é mesmo ?” Eu disse chupando meu macarrão de forma arrogante, apesar da forma como eu falo, ela sabe que eu to feliz por ela. Sei o quanto ela tem tido dificuldade pra ganhar espaço no cenário musical, não que eu estivesse melhor do que ela.
“Tá bom, você estava certo, foi uma ótima ideia. Mas não deixe isso subir a sua cabeça, só deus sabe o quanto não precisamos de você ser mais convencido do que já é” Ela mastigava o pedaço de porco suculento com o rosto franzido, mas eu sabia que ela não estava chateada de verdade “E não me chama de tampinha ! só por que você decidiu virar um vara pau depois dos 18 não quer dizer que eu seja pequena ! cuzão”
“Só não vai esquecer dos amigos quando virar uma super estrela do pop ou qualquer merda dessas” Eu disse depois de roubar um ovo cozido do bowl dela, não sem ouvir um som de reclamação vindo dela. “ E sobre não ser pequena, me poupe, lembra daquele show que eu tive de te pôr nos ombros por que você não conseguia ver nada da plateia ?”
Ela me deu um soquinho no ombro.
“Eu nunca vou esquecer de você, idiota”
O jeito que ela falou, aquele olhar determinado e ao mesmo tempo divertido, eu confiei com todas as forças que isso era verdade e me agarrei a isso. Eu queria me declarar já tinha alguns meses, queria que ela fosse minha namorada, queria fazer música juntos e talvez mais, nós seríamos imbatíveis juntos e nada iria nos parar. Eu nunca quis alguém do meu lado tanto quanto queria ela, talvez nunca conseguisse querer, mesmo que ela não me quisesse.
Já era tarde e a estrada era longa, combinamos que ia levar ela pra casa. Ela subiu na minha moto, usando aquele capacete de tigre idiota que eu adorava, me abraçou pelas costas e eu dei partida no motor, com o vento gelado passando por nos e meu rosto quente escondido pelo meu capacete preto.
Eu acordei no dia seguinte não lembrando de mais nada depois de pararmos no quarto sinal, e desde então ela não falou mais comigo. Hoje eu suspeito que Rhaast tenha algo haver com o que aconteceu, um primeiro sinal da sua evidente existência, se ele sabe o que aconteceu naquela noite, nunca me contou. Pela primeira vez eu senti realmente medo de ter acontecido algo grave e irreversível, sempre vou odiar ser deixado no escuro, nunca antes desejei tanto saber o que acontece quando eu apago.
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Tentei falar diretamente com ela durante semanas, em todo lugar possível, mas ela sempre ignorava minhas ligações, me bloqueava, e nem atendia em casa. Ela se mudou com as K/DA algum tempo depois e não me contou onde morava agora.
O que me deixou mais puto nem foi isso, foi ela ter criado um grupo próprio pouco tempo depois e nem teve a decência de me convidar, ela sabia que eu estava procurando uma banda e mesmo assim eu nem passei pela cabeça dela, que vaca ! Acabei tendo de entrar naquela banda de perdedores porque não tinha mais opções e queria fazer música de alguma forma. Ela…ela me prometeu, prometeu que nunca ia esquecer de mim.
Se eu fiz algo, qualquer coisa, porra, diz na minha cara. Só…não me esqueça.