Chapter 1: O início
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O dia em que Sirius Black fugiu de sua família foi o dia em que seu irmão mais novo, Regulus, aprendeu como era sentir ódio genuíno.
Era como um balde de água gelada e esmagador. Despedaçou e espalhou cada pedaço de quem ele era, definindo tudo o que ele seria daquele dia em diante. Aquilo o consumiu, agarrando seu coração e apertando-o até que parasse de bater. Uma coisa morta e congelada em uma caixa de ossos.
O dia em que Sirius Black fugiu dele, Regulus jurou para si mesmo que conseguiria sua vingança. Ele iria para onde precisasse. Ele faria o que quer que fosse necessário. Nenhum limite era tão sagrado, nem tão perigoso. Ele destruiria todos eles se isso o ajudasse a chegar em seu objetivo.
Vingança.
“Você não tá ouvindo, tá?” Dorcas diz, visivelmente irritada. Ela balança uma mão perfeitamente cuidada em sua cara.
Regulus volta à tona de sua própria mente e encara a amiga. O compartimento do trem está muito cheio pro seu gosto, mas não tem muito o que possa fazer. Essas pessoas se recusam a deixá-lo sozinho nem que seja por um minuto. É o que amigos fazem, eles dizem. Sim, bom, a menos quando ele quer ficar sozinho com seus demônios, o que é irritante.
“Não”, ele diz, até porque não está mentindo.
Evan ri, balançando a cabeça. Barty sorri para Dorcas. “Te disse”.
Dorcas revira os olhos dramaticamente. “Eu tava te perguntando se você não tem patrulha de monitor para fazer, agora que você é uma figura de autoridade.”
Droga. Ela tá certa. Resmungando, Regulus deita sua cabeça no banco novamente, com um leve tuc. Merda. Ele esqueceu completamente, provavelmente porque tem zero interesse no cargo. Ele não queria ser monitor, mas acontece que não se pode simplesmente devolver o broche pelo correio.
“Não pode ser tão ruim assim”, Barty fala quando percebe a cara que Regulus está fazendo. “Você pode tirar pontos das pessoas o quanto quiser.”
Evan concorda, entusiasmado. Dorcas funga, encostando no banco e fechando os olhos. Agora que cumpriu sua função, lembrando Regulus de sua miséria, irá dormir pelo resto da viagem.
Regulus se levanta. Ajusta suas vestes. Sua gravata verde. “Não no trem.”
“Quanto tempo leva essa sua patrulha?” Evan pergunta casualmente.
Regulus até poderia dizer a ele o quão fútil foi essa tentativa de papo furado. Todo mundo nesse compartimento sabe como ele se sente a respeito de Barty, exceto o próprio Barty. Contudo, Regulus não faz nada, porque alguém nesse grupo disfuncional deveria ser um adolescente normal. E Regulus decidiu que esse seria Evan. Então, Regulus dá uma resposta vaga.
“Eu vou voltar antes de chegarmos em Hogsmeade. Vejam se conseguem encontrar Pandora enquanto isso.”
Com isso, ele deixa o compartimento.
O sutil movimento do trem pelos trilhos o força a focar em seus passos enquanto caminha, então seus pensamentos não se esvaiam. Alguns estudantes passam correndo por ele no corredor, tão perto que seu robe se move pelo contato. Regulus faz seu melhor para não reagir.
Tediosamente, a reunião já começou quando chega. Ele é o último a comparecer, e todos os outros se viram para encará-lo quando adentra o vagão. Regulus encara a atenção indesejada da mesma forma que faz com todo o resto. Estoicamente. Quieto.
Seu estômago está se revirando ferozmente, mas sua cara é sólida como pedra.
“Aí está você, Black,” o Monitor Chefe — algum lufano do sétimo ano diz. “Pontualidade é importante. Procure não se atrasar para as patrulhas.”
Os olhos negros de Severo encontram os seus através do espaço. Regulus segura o olhar enquanto assente ao Monitor Chefe saber que ouviu. O lufano não se prolonga, voltando a falar sobre as partes do trem que cada dupla deveria cuidar. Regulus cruza os dedos dentro de seus bolsos enquanto aguarda, silenciosamente implorando ao garoto para não juntá-lo com Severo.
Ele nunca gostou de hipocrisia. Na sua opinião, alguém pode tagarelar sobre pureza de sangue ou passar vergonha pelo seu crush em alguém nascido trouxa. Não os dois ao mesmo tempo.
“Remus Lupin,” o Monitor Chefe chama, desviando a atenção de Regulus para longe de Severo.
Lupin é um dos amigos de Sirius. Obviamente um grifinório — porque Sirius não associa sua imagem com ninguém mais — e um garoto quieto. Inteligente e introvertido. Lupin parece cansado e um pouco magro. Seu maxilar um pouco mais fundo e suas vestes levemente mais largas. Como se ele não tivesse comido o suficiente durante o verão ou como se tivesse ficado alto rápido demais e o resto de seu corpo não tivesse conseguido acompanhar ainda. Talvez ambos.
“E Regulus Black. Vocês têm os vagões da frente.”
Lupin dá alguns passos e fica próximo a Regulus enquanto ambos esperam para ser dispensados para seus turnos. Percebendo quando seu companheiro o olha de canto, Regulus pensa sobre o quanto Lupin sabe sobre ele. Ele sequer sabe de algo? Sirius sequer fala sobre ele para seus amigos? Regulus dúvida disso. Mesmo assim, eles devem saber sobre o que aconteceu, não devem? Não é como se fosse um segredo que Sirius guarda.
Mas os detalhes… com um tremor que mal consegue conter, Regulus se pergunta se Sirius tem cicatrizes pelo que aconteceu na noite em que fugiu.
Regulus não sabe se ele quer que seu irmão carregue consigo evidências em seu corpo de tamanha traição ou não. Cicatrizes são bons lembretes. E não doeria se Sirius mantivesse um lembrete de nunca mais respirar perto de um Black novamente. Apesar de… bom. Regulus sabe como é desejar que as marcas não estivessem lá. Como é odiar seu reflexo no espelho. Desejar… pare. Essa linha de pensamento o faz querer quebrar algo, então ele a empurra para longe.
“Por enquanto é isso pessoal,” o Monitor Chefe diz. “Vão embora. Se qualquer coisa acontecer durante a ronda, voltem pra cá.”
Eles são dispensados, e antes que tenha tempo de formular qualquer plano, Regulus se vê caminhando próximo a Lupin em direção à frente do trem. Para sua surpresa — uma agradável — eles fazem a ronda em silêncio. Lupin não parece estar desconfortável, e isso é o bastante para que Regulus fique curioso a seu respeito. A maioria dos adolescentes que ele conhece — incluindo seus amigos — consideram o silêncio algo desconfortável. Sempre tem alguém tentando substituí-lo com qualquer assunto que consigam pensar, não importa o quão simples ou desinteressante seja. Muito frequentemente, isso leva a debates idiotas e desnecessários como “quem iria ganhar em uma luta entre um hipogrifo e um basilísco”.
Lupin, entretanto, não parece nem ansioso. Ele está cem por cento não entediado.
Na verdade, ele só fala quando é necessário. “Onde você quer começar?” Lupin pergunta quando chegam na sessão que lhes foi designada, virando para olhar Regulus antes de voltar a encarar seus sapatos.
Regulus torce o nariz. “Tanto faz.”
“Hum, da frente então” Lupin indica com a cabeça para a ponta mais distante do vagão.
Regulus pensa em discordar, mas acaba simplesmente por assentir e segue pra direção a onde Lupin indicou. O rapaz o segue.
O silêncio cai sobre eles novamente e, como antes, Regulus não consegue deixar de relaxar um pouco. Ele está impressionado e um pouco confuso sobre o quão confortável está sendo. Eles fazem a ronda lado a lado, atentando-se aos detalhes que a maior parte dos estudantes não queria que percebessem. Ou pelo menos é o que Regulus pensa. Ele mesmo não iria querer que outros descobrissem coisas sobre si só o olhando. É por isso que se preocupa tanto em manter sua face neutra.
Eles estão quase na metade da patrulha quando Regulus percebe. Ele está— por Salazar. Regulus fica surpreso ao perceber que ele está realmente confortável. Essa parceria silenciosa entre ele e Lupin é boa. Quem sabe ser um monitor não é tão ruim assim, se tudo que ele tiver que fazer é andar por aí sem falar nada e encarando crianças.
Infelizmente, tudo o que é bom dura pouco, e logo depois dessa revelação, alguém resolve começar uma briga em um dos compartimentos pelos quais eles são responsáveis.
“Ah, puta que pariu,” Lupin reclama, encarando as crianças que estão brigando enquanto vira os olhos. Lupin se vira para Regulus com um olhar Exasperado, claramente esperando qualquer coisa menos o olhar vago que recebe, baseado na irritação que passa por sua cafa. “Vai ajudar ou não?”
Regulus pisca, considerando a situação. Tá, eu preciso cuidar disso. Mentalmente xingando aqueles alunos por perturbar sua paz, Regulus dá um único e pensado passo em direção à confusão. “Vocês têm cinco segundos para pararem com isso antes que eu faça todos os seus dentes caírem um por um.” Sua voz é cortante. Chega aos garotos como uma lâmina através da confusão. “Um, dois…”
Algo em seu tom faz as crianças hesitar. Elas param de tentar socar umas às outras por tempo o bastante para encarar Regulus, que tirou sua varinha do bolso e a segura casualmente ao lado do corpo.
“Isso aí que ele disse,” Lupin continua “E nós estamos diminuindo dez pontos de cada um de vocês.”
Um dos meninos suspira fundo olhando para Lupin. “Sem chance que vocês podem lançar feitiços em outros estudantes… podem?”
“Dúvido muito, aposto que eles nem têm permissão pra nos machucar” diz outro.
“Ah, mas ficar banguela não dói nem um pouco. Eles só vão cair.” Regulus responde, uma entonação em sua voz que faz o garoto literalmente se arrepiar.
“Vocês não podem tirar pontos da gente fora da escola!”
“Isso não é permitido!”
Apesar das reclamações, os dois briguentos acabam voltando aos antigos lugares. Nenhum deles seguro o bastante para acreditar que Regulus não os fará perder os dentes, a julgar por seus olhares que não saem da mão de Regulus que segura a varinha. Regulus firma o aperto e um dos estudantes engole em seco.
Lupin levanta os ombros. “Quem disse?”
Regulus quer sorrir. Lupin tem culhão. Ao invés disso, Regulus não tira os olhos dos meninos até que eles estejam em silêncio, sentados nos bancos opostos do compartimento. Lupin os dá um aviso extra antes que ele e Regulus voltem ao corredor para continuar sua patrulha.
O silêncio volta novamente. Como antes, é reconfortante. Fácil. Regulus não consegue lembrar a última vez em que se sentiu dessa forma perto de um estranho. Cuidadoso, ele dá uma olhada para Lupin e o analisa. Lupin é encantador. Objetivamente. Ele também é alto. Mais alto que Regulus, que precisa esticar um pouco o pescoço para observar melhor. É meio irritante para ele que Sirius só tenha amigos gostosos. Como se fosse um vai se fuder especialmente para Regulus, por ser amigo de todas as pessoas atrativas e que Regulus nunca teria uma chance em encostar — nem por acidente, pois Regulus é cuidadoso demais pra isso.
Lupin pisca e Regulus encara o corredor tão rapidamente que quase quebra o pescoço. Ele não será pego secando esse cara. Só acima de seu cadáver.
Ele pode sentir Lupin observando seu perfil. Ele quer correr para algum canto, mas não permite a si mesmo se mover. Ou reagir.
“Você é meio aterrorizante” Lupin diz. Regulus percebe que ele soa impressionado, o que é estranho. Ele não esperaria que um grifinório entenderia como é útil ser assustador. Perigoso.
“Você parece surpreso”
Lupin ri. “Eu sou mais durão que a maioria dos estudantes de Hogwarts. Mas aqueles pirralhos quase se cagaram antes.”
Ele xinga. Remus Lupin xinga muito.
Regulus olha pro companheiro. Ele encontra seu olhar com a cabeça erguida, verde no castanho. Tem algo que parece com curiosidade ali. Regulus sente que se ele desse a mínima abertura, Lupin poderia tentar fazer perguntas. Isso faz Regulus virar a cara imediatamente. Um amigo de seu irmão não pode olhar para ele duas vezes. Por qualquer motivo.
Ele segue andando sem outra palavra. Lupin não pressiona a Regulus o odeia um pouco por isso. Seria mais fácil se ele fosse um idiota.
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O dia em que Sirius Black fugiu de casa, James Potter descobriu que ele era capaz de sentimentos sombrios. Foi assustador pra caramba, porque ele sempre foi bom. Brincalhão e engraçado. Fácil de conversar e popular e todas as coisas que James Potter deveria ser.
E ainda, quando Sirius — literalmente sua alma gêmea — apareceu na porta de sua casa a um passo da morte, James teve que se esforçar para ajudar ele ao invés de ir direto à Grimmauld Place e matar quem estivesse naquela casa.
James nunca sentiu nada assim de novo. Ele espera nunca mais sentir. Não é como se ele tivesse medo de sentimentos. Ele é crescido, com uma coração grande, e nunca teve medo de demonstrar isso. Ele só nunca teve uma emoção tão negativa e violenta como aquelas antes. Isso o enlouqueceu um pouco.
Ele está bem, agora. Na verdade, ele está ótimo, porque o trem está quase chegando em Hogsmeade e seu último ano em Hogwarts será o melhor em décadas. Eles vão fazer com que todos lembrem. Eles sendo ele mesmo e seus três melhores amigos.
Sirius está estirado oposto a ele, suas pernas entrelaçadas com James. Ele cresceu neste verão, mas continua menor que James e Remus. Peter está lendo ao lado de James, seu nariz tão enfiado no livro que parece o estar beijando.
A porta do compartimento se abre e James esconde um sorriso ao perceber os dedos de Sirius tremerem ao ver o outro garoto.
“Como foi a patrulha?” James pergunta, porque Sirius precisa de um momento para se recompor quando Remus chega a algum lugar nos últimos dias. James não é nada além de um irmão leal e solidário, então. “Algo interessante?”
Remus se senta. Olha para Sirius. “Eu trabalhei com seu irmão.”
Sirius levanta tão rápido que o estofamento parece ter mordido ele. “Reg? Ele é monitor?”
Remus assente.
“Ele disse alguma coisa pra você?” Sirius indaga, uma pequena veia saltando em
pescoço.
“Não. Ele não fala muito” Remus diz. estreitando a boca. “Mas quando ele fala…” Ele faz uma cara como se estivesse impressionado e James jura por Merlin que os olhos de Sirius irão saltar para fora a qualquer momento. “Ele encerrou uma briga com uma só frase.”
“Tá tão impressionado por quê?” Sirius exige, se inclinando pra perto de Remus. “Não faça isso. Não se impressione. Ele é meu irmão. Ele não é impressionante. Ele é um merdinha traidor. Nós não gostamos dele”
Remus concorda com tudo que Sirius fala. “Eu só disse que ele é assustador, não que queria casar com o cara.”
Sirius dá de ombros e se joga novamente no assento. “Nada engraçado, Moony.”
Peter levanta os olhos de seu livro. “É meio engraçado.”
James pigarreia para distraí-los antes que tudo escale. Regulus não é um assunto seguro. Mesmo fazendo um ano desde que se libertou do desperdício de oxigênio que são Walburga e Orion Black, Sirius ainda não descobriu o que ele ter fugido e Regulus ficando para trás significa para todos. Ele está de luto como se o irmão estivesse morto, tirando o fato de que Regulus está vivo e, bom, aparentemente aterrorizante.
“Falando de coisas super engraçadas,” James diz “Ouvi boatos de que Alice conheceu os pais do Frank esse verão.”
Eles todos se engatam em uma discussão de como a mãe de Frank — ela sim é aterrorizante — pode ter espantado Alice. o casal se formou no último ano em junho e iniciaram seus treinos como aurores no ministério o quanto antes, já que as tensões estão crescendo e junto delas a necessidade de mais aurores, mas James manteve o contato com Frank.
Enquanto seus amigos relembram as muitas vezes em que Augusta Longbottom os fizeram querer cavar um buraco na terra e se esconder, a mente de James divaga. Ele não consegue parar, sendo a pessoa curiosa por natureza que ele é. Da última vez que viu Regulus, nesse mesmo trem no último dia de aula deles do sexto ano e o quinto de Regulus, o garoto parecia que ia voar com o vento. Magro e pálido com um fantasma. Não tinha nada sobre ele que era assustador. Pelo menos não para James, quem sempre foi forte e alto pra sua idade. Ao contrário disso, Regulus parecia que ia sumir.
Tudo porque é curioso e pensou sobre o que Remus disse, James começa a escanear a multidão procurando pelo Black caçula, logo depois de descerem do trem em direção às carruagens sem cavalo. Sirius está reclamando da chuva, sem perceber a busca de James. Remus e Peter estão alguns passos à frente, discutindo o banquete que os espera no castelo.
Irritantemente, James não encontra Regulus. Então ele continua curioso por um pouco mais de tempo enquanto sobe na carruagem com seus amigos.
“Tudo certo ai, Prongs?” Sirius pergunta, passando uma mão por seu cabelo para arrumá-lo novamente. Remus se ajeita em seu assento, olhando pela janela.
James fecha a porta e dá de ombros, se sentido culpado por algum motivo. “Tô morrendo de fome.”
Todos eles murmuram, concordando, enquanto a carruagem começa a se mover em direção à escola.
O hall de entrada está cheio, e cheira como chuva porque a garoa está forte e só ela foi o suficiente para encharcar alguns alunos em seu caminho à escadaria.
Sirius chacoalha a cabeça como um cachorro — James não segura sua risada — e Remus visivelmente tenta impedir um sorriso de se formar em sua face. Peter parece mais civilizado acerca da situação e usa a própria varinha para secar suas vestes. James se prepara para fazer o mesmo quando finalmente vê um sinal de Regulus Black.
E bom. merda.
Quando ele cresceu?
James entendeu o que Remus quis dizer. Regulus está mais alto agora. Ainda menor que James, mas não alguém que passaria despercebido numa multidão. E ele está… musculoso? De alguma maneira? Ele continua fino. Tipo, ele não ficou bombado ou algo assim, mas ele não parece mais estar no mapa da fome. Até sua pele adquiriu uma coloração mais saudável. Ele parece… mais forte. E menos como se fosse cair a qualquer momento. Ninguém poderia descrever este Regulus como fantasmagórico, e agora, James estava curioso. Ele estava realmente doente ano passado? Ele simplesmente teve um estirão de crescimento atrasado? O que tá acontecendo? James tem quase certeza de que ele fez algo no cabelo. Está brilhante, caindo como uma cascata por sua face, molhado por causa da chuva. Ele está franzindo o cenho para Barty Crouch, mas Crouch não parece se importar. James compreende, porque Regulus fique meio bonito franzindo o cenho e—
“James!”
“O que?” Ele pisca, balançando a cabeça. Lembra que está encarando o irmão de seu melhor amigo. “Desculpa, o que você disse?”
Sirius revira os olhos e vira o pescoço para procurar o que, quem, James estava encarando. “Evans? Sério? De novo?”
James então percebe que Lily Evans e seus amigos estavam perto de Regulus esse tempo todo. Ele fica tão aliviado que quase diz em voz alta. “É. Perdão, me distraí.”
Sirius solta um puff com a boca e segura James pelos cotovelos para virá-lo em direção ao Salão Principal. “Você pode babar por ela depois. Agora, nós queremos comer. Vambora.”
É meio embaraçoso James ter que se segurar para parar de olhar por cima do ombro. É bobo, até. Sua curiosidade acabou agora. Não tem mais nada para o que olhar.
Chapter 2: Amortentia
Notes:
discussão/menção à homofobia
insônia
menção a bullying
xingamentos
Chapter Text
Regulus não consegue dormir.
Isso é meio irritante, porque dormir é, na verdade, meio importante. Isso é uma das coisas que ele descobriu este verão. Se pretende continuar com seus planos e sua vingança, Regulus precisa estar mais forte que nunca. Não só fisicamente, mas psicologicamente. Por isso, ele obrigou a si mesmo a começar uma rotina estrita de exercícios — a qual sua mãe acredita que seja para ajudá-lo a ganhar a Copa de Quadribol para a sonserina. Pela primeira vez, ela aprovou tudo isso. É um sentimento estranho, o qual Regulus prefere não entender. Ele também tem comido todas as refeições que Kreacher fez, o que também deixa o elfo feliz, então é um ponto positivo. E, mais importante que tudo, Regulus tem dormido.
Algumas noites mais do que outras, mas ele tenta.
Ele se vira na cama, grunhindo no travesseiro. Não é fim do mundo não conseguir dormir por uma noite, mas não tem muito o que fazer nesse castelo. E ele não trouxe um único cigarro consigo, então escapar pra torre de astronomia e fumar não é uma opção. Também, não seria inteligente levar uma detenção por ser pego depois do horário. Seu dormitório não é o melhor lugar pra um entretenimento no meio da noite. Barty e Evans estão dormindo há tempos, roncando ambos em suas camas. Edward Selwyn está acordado, lendo atrás das cortinas de sua cama. Mas Regulus não gosta dele.
Regulus fica assim por um tempo. Quieto. Deitado em sua cama. Ele pensa nas férias. O amanhecer enquanto corria pelos campos da casa de verão no interior. Os dias escapando e se escondendo na biblioteca da família, lendo cada obra sobre Magia Negra que ele encontrasse. Ele pensa nas tardes, sentado no telhado com cigarros trouxas e nada além das estrelas como companhia. Pensa nas reuniões acontecendo no térreo. Pessoas em capas pretas e máscaras estranhas indo e vindo. As vozes que discutiam planos que fariam qualquer um se encolher.
Logo, a voz do próprio Regulus será uma dessas. Ele vai cochichar no cantos, se esconder nas sombras. Fazer o que for preciso para melhorar o mundo.
Ele conseguirá sua vingança.
Não hoje. Agora, ele é só um estudante com problemas pra dormir e entediado.
Ele sai silenciosamente de seu quarto e desce as escadas para a sala comunal, que a essa hora da noite está deserta. É uma da manhã e a única luz vem das janelas de frente para o lago. Todo o resto é um tom de verde escuro, o qual Regulus considera acalmante. Não que ele diria isso em voz alta.
Assim que senta em dos sofás, a porta da sala abre e Dorcas passa por ela com a boca franzida. Logo que vê Regulus, sua expressão relaxa.
“O que tá fazendo aqui?” Ela pergunta.
Regulus levanta uma sobrancelha.
Dorcas suspira. “Eu não vou te contar onde estava. Não é da sua conta.”
Ele inclina a cabeça, fazendo seus cachos caírem. “Eu não perguntei.”
Regulus gosta tanto de Dorcas quanto de qualquer outro. Ela é uma boa amiga. Ela é valente o suficiente para ser uma grifinória, não fosse pela sua mente meio maligna.
Ela hesita por um momento antes de se sentar ao lado de Regulus. “Não consegue dormir?”
“Não.” Não tem porquê negar o óbvio. E ele poderia estar fazendo algo bem pior do que conversando com Dorcas no meio da noite. Barty seria barulhento. Evan iria simplesmente voltar a dormir. E Pandora vive na torre da corvinal, então ela não é uma opção. Regulus não tem outros amigos. Ele não quer ou precisa deles.
A única razão dele ter esses, em primeiro lugar, é ter os conhecido antes de seu coração congelar. Antes do frio entrar em todos os seus ossos, consagrando a dor em sua alma.
“O que tá te incomodando?” Dorcas pergunta. Tem um certo tom em sua voz, como se estivesse tentando controlar a conversa.
Regulus deita sua cabeça no encosto do sofá, encarando o teto. “Nada. Eu só tenho insônia e não tive tempo de fazer uma poção ainda.”
As sobrancelhas perfeitas de Dorcas se erguem. “É assim que você conseguiu… isso?” Sua mãos vão para cima e para baixo preguiçosamente, indicando que “isso” se refere à muito melhor saúde de Regulus e, consequentemente, aparência.
“Parece que uma rotina de sono sólida pode ser milagrosa.”
Dorcas solta um ah, impressionada. “Eu sei que Barty e Evan te encheram o saco no trem, mas você tá ótimo, Reg. Eu tava ficando preocupada antes das férias.”
“Preocupada?” Regulus sabe que ele era pequeno demais para sua idade. Um pouco pálido demais. Suas costelas estavam aparecendo e as pontas do seu quadril acentuadas.
Mas ele nunca achou que isso poderia preocupar alguém, muito menos Dorcas. Não é como se ela tivesse visto as marcas roxas e amarelas, ou os ossos a ponto de furar a pele. Ou qualquer outra coisa.
“Você parecia que ia cair a qualquer momento.”
Regulus tosse, se sentindo afrontado. “Não parecia não.”
“Você parecia uma criança vitoriana doente.”
“Eu tô isso aqui de te mandar um feitiço, Meadowes.”
Dorcas ri, e Regulus gosta do som. Ele não faz pessoas rirem muito frequentemente. Ele não tenta. Sirius sempre foi o engraçadinho.
“Eu tava tentando te elogiar, e ainda sim você conseguiu transformar em ofensa” Ela diz, divertida. “Talvez eu transforme isso no meu projeto anual. Ensinar Reg a aceitar elogios: desafio de 78.”
Regulus não presta muita atenção. Ele ainda encara o teto, assistindo as sombras balançarem com o movimento do lago lá fora. Dorcas deita a cabeça em seu ombro, olhando pro perfil de Regulus.
O silêncio se alonga. Regulus permite. Ele quase pode sentir Dorcas se esforçando. Qualquer coisa pra preencher o silêncio. Todos eles fazem, cedo ou tarde.
“Eu tava com alguém” Ela sussurra, de alguma maneira, o surpreendendo.
Ele não sabe porque isso deveria ser um segredo. Não é como se as pessoas de seu ano não namorassem entre si. Barty está sempre em um novo relacionamento, por exemplo. Ele assente para que ela saiba que foi ouvida, mas não faz nenhum comentário A vida privada de Dorcas pertence somente a ela. Se ela quiser compartilhar, ele ouvirá. Mas não fará nenhuma pergunta.
O silêncio a deixa confortável, e logo continua. “Eu só não… não gosto de dormir no meu dormitório. Não desde… bom. Só não é a melhor coisa agora.”
Com isso, Regulus se senta ereto e a encara. Todos eles sabiam que Dorcas estava tendo problemas no final do ano passado, mas pensavam que era graças a pressão causada pela chegada dos NEWTS. Assumiram que ela estava nervosa pela formatura. Afinal, não é novidade alguma que os estudantes comecem a entrar em pânico do final de seu sexto ano para o início do sétimo.
Nem passou pela cabeça de Regulus que ela talvez estivesse tendo problemas com suas colegas de quarto. Ele deveria ter se atentado melhor. Prestado mais atenção. Não é ele mesmo que se orgulha por ser um observador? Como não observou isso, então?
Seu coração está morto. Congelado. Mas ainda contém sangue bombeando o suficiente para possuir uma certa fúria assassina quando seus amigos se magoam. Ele possui poucos, e não pode fazer novos, então Regulus vai fazer o imperdoável para manter os amigos que tem.
“Me diga”, ele pergunta, ao mesmo tempo mandando.
Dorcas suspira. “Eu não posso. Mas tudo bem. Elas já estão dormindo agora, então posso apenas me esgueirar para dentro.”
“Não” Regulus diz. “Me diga quem te machucou.”
Dorcas olha para ele, grandes olhos marrons emoldurados por grandes cílios. Ela estuda sua cara, a qual ele sabe que não demonstra nada. Seus lábios formam uma linha fina ao ranger os dentes e encarar sua amiga de volta. Esperando.
“Eu não sei se posso confiar em você” ela sussurra.
Regulus assente. É justo. “Eu realmente pretendo fazer algo bem ruim com quem quer que seja que machucou você.”
Dorcas ri como se não estivesse esperando essa resposta. “Não quis dizer isso. Eu…”
É então que ele percebe. Suas engrenagens funcionam e as peças se encaixam. Isso não aconteceria, e ele sabe, se não fosse pelo próprio Regulus. Imediatamente, ele sabe. Ele sabe, pois ele é igual.
“Quem?” Ele pergunta, um pouco mais gentilmente dessa vez.
Ela o encara, respirando fundo. “Blair.”
O nome flutua entre eles, pesado com todo seu significado. É perigoso para eles falarem de algo assim em voz alta. A família de Dorcas não é restrita como a de Regulus, mas ela continua uma Sonserina. Ela continua no ninho da vespa. Regulus pensa como deve ter sido precisa muita coragem para que Dorcas revelasse seus sentimentos para Blair.
“Você quer me contar o que aconteceu?”
Dorcas o estuda devagar. Eventualmente, ela diz: “Você não é o único com nojo.”
“Não.”
“Por quê?”
Ele toma uma decisão, então. Ele quer manter os amigos que tem porque não irá fazer novos. Não onde está indo. Não com o que precisa fazer. E ele precisa de aliados. Ele vai precisar de ajuda, se as coisas correrem como ele quer que corram. Ele é bom. Regulus é bom pra caralho. Mas não é invencível. Ele depende de poções do sono para se manter saudável e tem um medo irreal de portas trancadas, de todas as coisas. Ele sabe que é irracional. Enfim, o ponto é que ele gosta de Dorcas. E ela acabou de o contar algo que pode destruí-la.
Então, para selar seu destino e amarrá-los juntos, Regulus mantém a reciprocidade.
“Por que você acha?”
A boca de Dorcas forma um O perfeito. “Você? Sério?”
Algo dentro dele se incomoda com essa reação. É mesmo tão chocante? Ele nunca esteve com alguém. Nem mesmo pelas aparências. Nunca esteve perto de outra garota que não fosse Pandora ou a própria Dorcas. Nunca contou de nenhuma quedinha, ou por quem se sentia atraído. Com certeza, alguém deve ter suspeitado em algum momento.
Ela percebe algo em sua cara, e procura se explicar. “Eu quero dizer… eu achei que você simplesmente não… não se sentia dessa forma por qualquer um. De qualquer gênero. Porque você nunca disse, ou olhou pra ninguém, ou…”
“Ah” ele entende. Ele é muito bom em mascarar suas emoções. Em se manter estoico. “Bom, eu olho.”
Dorcas sorri e senta-se melhor para colocar as mãos em seus ombros. Regulus fica tenso, porque não gosta de ser tocado. Mas ele permite quando ela sussurra “Regulus, eu sou gay. Eu gosto de meninas.”
No silêncio da noite, no silêncio quebrado apenas por suas respirações, pela primeira vez, Regulus oferece a alguém uma verdade que tem poder sobre ele. É assustador, mas ele faz assim mesmo. Afinal, é só a primeira coisa assustadora de muitas coisas que ele vai fazer nos próximos meses.
“Dorcas, eu sou gay. Eu gosto de meninos.”
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James não gosta da aula de poções. Ele chega a ser decente nelas, mas não consegue gostar de preparar nada. Ele soube disso por anos, e ainda assim não teve outra escolha a não ser colocá-las em seu itinerário para os NEWTS, já que elas são essenciais para sua carreira como auror. Tipo, por quê? Sabe? Não é como se aurores fossem carregar caldeirões por aí. Certamente existem as pessoas que façam as poções pra eles?
James não tem certeza. Ele chega à conclusão de que não importa, pois elas continuam sendo um requerimento e ele precisa das aulas. Ele dará um jeito.
“Por quê você tá encarando seu caldeirão?” Lily pergunta, trabalhando ao seu lado.
Eles estão preparando amortentia, a qual não é a poção mais difícil, mas ainda assim traz problemas pra James. Ele tem 99 por cento de certeza que a cor está errada.
“Eu acho que fiz algo de errado, mas não sei bem o que. Ou se posso consertar” ele responde, passando as mãos pelo cabelo.
Lily se aproxima e observa sua poção. Ela tem um cabelo muito bonito, volumoso e vermelho. Ele sempre a achou muito bonita. Até desenvolver um crush bem grande nela durante todo o quinto ano. Ele a chamou pra sair um milhão de vezes. Ela sempre disse não. Era devastador, mas ele entende. Eles não encaixam muito bem.
“Hmmmm” ela diz, encarando sua poção um pouco.
Lily é educada e inteligente. Até intimidadoramente inteligente. Ela também calha de ser ótima em poções, então James alegremente dá um passo para trás e a deixa mexer em seu caldeirão. Se alguém pode arrumar sua poção, esse alguém é Lily Evans.
“Eu acho que você colocou mais espinhos de rosa do que o necessário, mas não é grande coisa. Aqui” ela pega o próximo ingrediente, o coloca dentro do caldeirão e mexe em um ritmo tão específico que James nunca viu antes. Ele tem certeza de que isso não está no livro, mas ele nunca foi muito fã de regras mesmo.
Se Lily quer quebrá-las para salvar sua poção, ele vai apoiar com todo o coração.
“Você tem a pedra da Lua?” ela pergunta. James alcança para Lily prontamente. Ela a coloca e sorri. “Pronto. Deve começar a cheirar a algo agora. Sentiu alguma coisa?”
James se aproxima. “Cera pra vassoura” ele diz, sorrindo. Ele franze as sobrancelhas e Lily ri. “E… grama! Eu amo grama” Ele olha pra Lily, que continua rindo lindamente. “Ah e… lavanda? Que?”
James está genuinamente confuso. Ele se afasta um pouco do caldeirão, espera um momento. Tenta de novo. Sim. Tem lavanda lá. Suas engrenagens ainda estão trabalhando, então leva um minuto para perceber que Lily está chorando. “Lavanda? Você tem certeza?”
James assente. “Sim. Nosso elfo de casa ama e usa nas roupas. Eu reconheceria em qualquer lugar” ele junta os lábios, pensando. “Isso significa que eu me atraio por gente que cheira à lavanda? Eu com certeza não me atraio por elfos de casa, sem ofensa. Então o que? É só o cheiro? Ou tipo, alguém específico que cheira à lavanda? Muitas pessoas usam. Eu tô confuso.”
Lily ainda está corada, escutando enquanto James devaneia. Como se ele estivesse pontuando algo importante e não tendo uma leve crise sobre se ele vai se apaixonar por seu elfo (ele não vai. Obviamente. Mas Lily ainda ri e ele gosta disso.)
“Bem, tem a ver com coisas pelas quais você se atrai. Mas tipo, não o cheiro de uma pessoa específica. Eu acho. É mais tipo, alguém que de algum jeito engloba os três? Não tenho certeza.”
“A cera pra vassoura e grama eu entendi” ele declara. “A lavanda que é um pouco confusa, mas eu sou mente aberta.”
Lily ri de novo. James está quase perguntado o que ela cheira da poção quando começa uma comoção atrás deles.
Sirius encara seu caldeirão como se a coisa fosse mordê-lo, e Remus está tentando - e falhando - acalmá-lo. Na verdade, toda vez que Remus se aproxima, Sirius surta mais ainda. Peter os observa sem conseguir ajudar, se movendo para frente de Remus para que ele não se aproxime mais de Sirius novamente, já que isso parece piorar a situação. Peter e James se encaram, e James balança a cabeça, cansado. Ele consegue imaginar o que está acontecendo. Ele também sabe que vai precisar mais do que amortentia para Sirius perceber que está apaixonado por seu melhor amigo.
“Com licença” James diz à Lily, passando entre as mesas para chegar até seus amigos.
James agarra o braço de Sirius e o afasta enquanto Peter distrai Remus. “Pads?”
“Eu não entendo” ele sussurra, os olhos indo de James para o caldeirão e de volta. Suas mãos estão tremendo. “Tá cheirando estranho. Tá quebrado.”
James grunhe, a mão no ombro de Sirius. Ele sabe que o contato físico ajuda. “O meu tem lavanda, dá pra acreditar? Eu? Lavanda?”
“Você odeia lavar roupa” Sirius diz imediatamente, o apoiando mesmo quando não faz sentido. “Isso é bem idiota.”
James concorda solenemente. “Talvez a gente tenha feito algo errado. Ou os ingredientes tavam muito velhos. Por que você tá surtando? Não pode ser pior que lavanda.”
“Bem” Sirius diz, olhando em volta, assustado. “Tem grama. E, sabe quando tá quase amanhecendo e o ar tem um cheiro úmido e fresco?”
James não consegue dizer que sabe, mas ele assente como forma de encorajamento mesmo assim, porque este é seu Padfoot e não tem outra coisa a se fazer.
Sirius olha em volta de novo. Aproxima a cabeça próxima de James, entrando em seu espaço pessoal. Se James se abaixasse um pouco, ele beijaria a ponta do nariz do amigo. Isso é o quão próximos eles estão. Sirius sussurra “E também tem… bom. Tem chocolate.”
James tem que lutar muito para não sorrir. Ele abaixa a cabeça, virando o pescoço um pouco para olhar para Sirius sem acidentalmente o beijar. “Pads. Você ama chocolate.”
“Eu amo” ele diz. Então arruma a postura, mas continua quase grudado em James. “Mas eu não quero comer um chocolate, entende?”
James começa a rir. Sirius fecha a boca como se estivesse tentando continuar sério. Ele está perdendo a batalha. “Pads, eu não quero beijar um monte de lavandas também, mas eu não tô surtando por causa disso. Sua rainha do drama.”
Sirius sorri, passando uma mão por seu longo cabelo. “Eu sou um idiota.”
“Você é” James confirma. “Mas você é o meu idiota. Te amo.”
Sirius imediatamente o abraça, os braços em volta de suas costas e apertando como se nunca fosse soltar. “Eu também tem amo, Prongs.”
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Regulus está fadado a ser cercado por idiotas. É irritante. Ele gostaria que existisse uma seleção, como: se você não é capaz de existir em silêncio ou ir de uma sala de aula para outra sem tumultuar os corredores, está fora. Se não consegue andar sem bater os pés, está fora. Se não consegue mastigar a comida sem mostrar para todo o resto da escola, está fora. Respirou muito alto? Fora. Murmurou enquanto lia um livro? Vai pra porra.
Pessoas barulhentas e bagunceiras são inconvenientes, portanto deveriam sair de perto. Ou do país, se ele pudesse.
Pensando bem, talvez seja por isso que o destino do mundo nunca deveria ficar sob seu controle. Ele acabaria com metade da população se pudesse. Elas são tão…
Um grupo de terceiros anos passa por ele, o empurrando enquanto tentam passar pelo espaço entre Regulus e a parede. Ele se esforça para não pegar sua varinha e os deixar enfeitiçados por um século.
Pelas bolas de Merlin. Essas crianças.
“Eu tenho quase certeza que a gente não era tão insuportável no terceiro ano” diz Evan, encarando as costas do grupo que passou.
“Isso é porquê Reg preferiria morrer do que ser prgo parecendo um selvagem” Barty diz. “Ele tá impregnando o comportamento frio e civilizado dele em nós.”
“Só em aparência” Regulus diz, porque seus dois amigos são criminosos que irão incitar o caos se ficarem sem supervisão por mais de dois minutos.
“Sua vida seria tãooo chata se não tivesse nós” Barty insiste. “Dá pra imaginar, Evan?”
“Seria trágica” ele diz. “Ele seria tão melancólico, as pessoas iriam o confundir com um fantasma quieto e depressivo assombrando a biblioteca.”
“Um fantasma bonitão” Barty coloca, levantando as sobrancelhas. “Já tem garotas atrás de você, Reg?”
“Não.”
Evan está notoriamente quieto, mas Regulus decide que não vai pensar no porquê. Se Evan quiser falar sobre, terá que ser com a parede. Uma confissão dramática por noite já é o suficiente. Ele nunca mais precisará de outra. Nunca.
“Logo terá” Barty continua. “Você sempre foi bonito, mas agora você tá tipo… você sabe, crescido.”
“Eu tenho dezesseis” Regulus o lembra. “Nós nem saímos da puberdade ainda.”
“Você consegue dizer sempre coisas tão sensuais” Barty responde. Evan ri e Regulus engole uma reclamação.
Eles entram em um corredor e, pro absoluto horror de Regulus, duas meninas o veem e começam a dar risadinhas. Barty ri tanto que acaba soltando um ronco. “Regulus Black, o novo arrasador de corações de Hogwarts. Seu irmão nunca vai aceitar.”
“Vocês são malucos.”
“É você. Tá nos deixando doidos! A gente não consegue se conter mais’ Barty diz, e começam a rir de novo.
Regulus revira os olhos, mas não comenta. Seu amigo continua o provocando por todo caminho até a próxima sala de aula, onde eles se sentam para uma aula realmente chata de história da magia. Quando acaba, Evan e Barty seguem para a sala comunal da Sonserina para um jogo de baralho explosivo, enquanto Regulus vai para a biblioteca. Ele tem patrulha de monitor à tarde e prefere matar tempo nos livros.
Ele está lendo um livro de feitiços, aprendendo como lançá-los silenciosamente, quando escuta. Um nome. O único nome que tem assombrado Regulus desde que ele entrou nessa escola.
“Tá falando do James Potter?”
O estômago de Regulus pesa como se tivesse levado um soco. A esse ponto, ele tem certeza de que é uma reação de Pavlovian. Tudo e qualquer coisa relacionada a James Potter o faz borbulhar.
Se desgostar tivesse uma personificação, para Regulus seria James eu-nao-ligo-e-tenho-orgulho-disso Potter. Naturalmente, isso significa que Regulus não pode fazer nada a não ser prestar atenção na conversa das garotas.
“É óbvio. Não tem outro James Potter no nosso ano, Marlene” uma voz responde. “Vai me deixar terminar?”
Tem uma voz de rendição de quem Regulus assume que seja Marlene. A garota continua com a história.
“Ele disse que sentiu cheiro de cera pra vassoura, grama e… bem, lavanda.”
Há um silêncio profundo por um momento durante o qual Regulus está genuinamente confuso, até outra voz dizer “ele sentiu o principal ingrediente do seu perfume, creme e shampoo na amortentia?”
Regulus se ajeita imediatamente. Conhecimento sobre o que James Potter sentiu em sua amortentia é algo poderoso. Qualquer conhecimento sobre seu inimigo é poderosa, mas isso - o que tem potencial para ser bastante humilhante - é ouro. Regulus se levanta da cadeira silenciosamente e se apoia em uma das estantes, espiando pelos pequenos espaços entre os livros.
Ele reconhece todas as meninas. Tem Lily Evans, cujo cabelo é tão brilhante que parece uma chama. Ela é quem está explicando. Também Marlene Mckinnon, jogadora do time de quadribol da Grifinória, e Macdonald. Seu primeiro nome escapa da memória de Regulus agora, mas ela também é barulhenta e meio irritante, então Regulus sabe quem é.
“O que ele disse?”
Evans está corando. “Bom, ele estava confuso. Surtando sobre lavar roupas e elfos domésticos. Não acho que ele saiba que sou eu.”
Macdonald franze os lábios, mexendo os cachos em seu ombro. “Mas tipo… a gente tem certeza? Quer dizer, ele obviamente se atrai por coisas que cheiram à lavanda, então sim. E ele teve um crush em você o quinto ano inteiro. Isso não é segredo. Mas não como se Lily passasse muito tempo lá fora. E você não usa uma vassoura desde que as aulas da Hooch pararam de ser obrigatórias no segundo ano.”
“Bom, ele claramente tá gostando de alguém. Ele tem que estar. James não namorou com ninguém desde que terminou com Jo depois do Natal ano passado. Já faz muito tempo, né?” Mckinnon fala rapidamente. “Você acha que ele gosta de alguém que não gosta dele?”
Evans levanta o olhar, parecendo alarmada. “Quem em sã consciência diria não pra James Potter?”
“Uma lésbica” diz Macdonald imediatamente.
“Bom, sim. Mas se James gostasse de alguma lésbica, certeza que ela contaria que não está interessada e ele seguiria em frente” Evans responde. “Qualquer um que gosta de homens é incapaz de dizer não pra ele. É impossível.”
“Talvez ele goste de um cara hetero.” Mckinnon fala.
Regulus está prestes a desmaiar. Como essas meninas falam disso tão casualmente? Como se não fosse nada? Suas mãos estão suando e ele com certeza está hiperventilando. Mesmo assim, por alguma razão, ele não consegue voltar para seu lugar. Ele quer ouvir o que as garotas têm a dizer sobre a possibilidade de James Potter - o cara mais hetero do mundo - estar gostando de outro garoto.
“Mesma coisa da lésbica, na verdade. Ele diria que não e James seguiria em frente” Evans, quem aparentemente sabe tudo sobre James Potter agora, diz.
Regulus de repente se irrita. A coisa toda é ridícula.
“Bom, você tem duas escolhas Lils. Ou você o chama pra sair ou espera pra ver se ele percebe sozinho que gosta de você. Mas isso pode demorar um pouco.”
Evans suspira, parecendo agitada. “Eu vou. Chamar ele pra sair, quer dizer. Eu faço isso sexta depois da festa.”
Regulus se afasta da prateleira, voltando para sua cadeira e se curvando para o livro de feitiços, como se não tivesse passado os últimos dez minutos espiando um bando de meninas. Ele, entretanto, não volta a ler.
Rishkaaaaa on Chapter 1 Mon 10 Mar 2025 02:15PM UTC
Last Edited Mon 10 Mar 2025 02:17PM UTC
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moonsf4ll on Chapter 1 Tue 10 Jun 2025 01:53PM UTC
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