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Language:
Português brasileiro
Stats:
Published:
2025-01-23
Words:
11,759
Chapters:
1/1
Comments:
3
Kudos:
62
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6
Hits:
967

Se a Vida Pudesse Dar-me uma Benção

Summary:

Julian é um ômega escravo, treinado desde bebê para agradar seus mestres, sem perspectiva para o futuro além da esperança de conseguir um proprietário gentil.
Felizmente, no dia de seu décimo oitavo aniversário, enquanto ele sentia saudades de um passado agridoce e desejava um futuro melhor, a Vida decidiu dar-lhe uma benção.

(Your browser can translate the story into your language, just click on the three dots in the right corner of your cell phone, notebook or computer and click on "translate")

Notes:

Por conta de erros com o Google Tradutor, resolvi postar as histórias em português, mas espero que a tradução automática de seu navegador faça uma tradução digna. Felizmente, minha própria experiência com isso não é ruim, muito pelo contrário, até agora foram poucos os erros ortográficos que enfrentei.

No mais, deixo alguns avisos.

Avisos: Essa história contém assuntos sensíveis, esteja atento ao ler e pare de sentir qualquer desconforto, sua saúde deve ser a prioridade.

Alguns dos temas sensíveis são: abuso infantil, aborto (brevemente citado), agressão, tortura física e psicológica, sadismo, TEPT, escravismo, nudez pública, não consentimento típico do sistema escravocrata.

Se esqueci de listar algum, por favor, avise para que eu possa acrescentar.

NENHUM DOS AVISOS DE APLICA AOS BRUXOS, para eles o consentimento é a coisa mais sexy do mundo e eles cuidarão de seus ômegas com suas vidas, pois são mais devotos a eles do que as sacerdotisas à Melitele.

Dito isso, espero ter conseguido não tornar essa fic problemática, pois foi difícil trabalhar a perspectiva de Jaskier sem fazer parecer que ele gostava de determinada situação. Em nenhum momento durante o enredo quero que seja esse o caso, muito pelo contrário. Felizmente, acredito que minha antipatia pelas práticas a seguir tenham ficado claras no decorrer da história.

(Essa fic é pra eu pagar minha língua quando disse que nunca mais escreveria uma A/B/O, aqui estamos.)

Work Text:

De joelhos, mãos cruzadas atrás das costas, corpo inclinado para frente, pernas afastadas e bunda empinada para expor seu buraco e pau, nenhuma peça de tecido para fingir modéstia e com uma mordaça em forma de anel que mantinha sua boca desconfortavelmente aberta.

Era assim que Julian, com seus recém completados dezoito anos, encontrava-se no Grande Mercado de Escravos da Redânia, sendo vendido como um dos escravos mais caros e cobiçados do reino.

(Bem, tanto quanto um escravo já usado pode ser caro e cobiçado, o que para ele era muito, mas não chegava perto das Jóias da Coroa. Não que fizesse diferença para Julian).

Ele não era jovem, é verdade, geralmente os preferidos eram as crianças, que podiam ser moldadas à vontade de seu mestre, mas Julian era considerado uma beleza única, facilmente confundido com um elfo.

Tão facilmente confundido que seu pai não acreditou em sua mãe quando ela disse que não o traiu, então o vendeu ainda bebê para seu primeiro proprietário.

Afinal, nenhuma criança teria seus "olhos azuis tão anormalmente vibrantes, ou cabelos loiros como raios de Sol iluminando um campo de girassóis".

Palavras de seu quarto proprietário, um poeta gentil que permitia que Julian dormisse sobre o tapete felpudo, macio e quentinho em frente a lareira de seu quarto, ao invés de no chão frio ou dentro de gaiolas, como os últimos dois.

Ele também ensinou Julian a tocar alguns instrumentos musicais e a cantar e o apelidou como Dandilion, mas um inverno rigoroso secou sua bolsa de dinheiro e, ainda com o mundo coberto de neve, Julian foi vendido por seu proprietário choroso que implorava seu perdão enquanto passava sua coleira para um homem com um sorriso carismático e fala mansa.

O homem em questão gostava de fazê-lo gritar enquanto o fodia e prendê-lo dentro de um caixão a sete palmos do chão, com apenas alguns tubos permitindo sua respiração, apesar da venda impedir que ele pudesse apreciar a iluminação mínima.

Ele fazia tudo isso com aquele mesmo sorriso gentil e fala mansa do primeiro encontro.

Julian passou a ter medo de homens com sorriso gentil e fala mansa, ele aprendeu com o tempo que eles podiam, e geralmente eram, muito piores do que aqueles que externamente pareciam perigosos ou cruéis.

Bem... Julian refletiu enquanto observava as pessoas passarem e sentia suas mãos inspecionando seu corpo, pelo menos ele teve uma infância relativamente boa.

Seu pai/mestre foi um homem atencioso e sua mulher era definitivamente a melhor pessoa que Julian já conheceu. Ele teve uma cama então, lençóis macios e brinquedos.

Claro, havia todo o treinamento de escravo.

Ele foi ensinado desde que começou a engatinhar que não tinha lugar com os outros filhos do casal, seus filhos de verdade, aqueles que não seriam vendidos e eram seu sangue.

Ele deveria comer no chão, ajoelhado ao lado do mestre, deveria manter os olhos baixos, não rir, falar ou levantar o olhar a não ser que estivesse sozinho.

Ele podia brincar, mas apenas depois de cumprir todas as suas tarefas na casa (principalmente limpar os móveis e o chão, já que eles não confiavam com os pratos de barro em suas mãos jovens, muito menos a panela quente, que poderia queimá-lo).

Ele podia sair aos fins de semana, mas deveria voltar antes do anoitecer e só depois de limpar as roupas dos seus "irmãos" e passar por suas "lições de escravo" que deveriam ser praticadas ao decorrer da semana.

Ele tinha quatro anos quando foi introduzido à lições de prazer, aprendendo toda a teoria do que deveria ser feito e como para dar prazer a homens e mulheres, usando brinquedos para praticar com suas mãos e boca sob a supervisão de seu mestre.

Ele tinha cinco anos quando começou a praticar com o seu mestre e a esposa dele, e ele... bem, ele amava o carinho que eles ofereciam depois de usá-lo, podendo dormir entre eles na cama e ser mimado com beijos e elogios e até cócegas.

Eles nunca fizeram algo que doesse e, portanto, Julian nunca pensou que o que faziam estava errado, muito pelo contrário, ele gostava como a mulher brincava com seu peito e o homem lambia entre suas pernas.

As cócegas eram estranhas quando eles faziam isso, diferentes de quando eles estavam brincando depois, mas eram boas e Julian sempre terminava trêmulo e com a sensação de que iria fazer xixi, mas nunca saía nada e ele não tinha certeza porque aquela sensação de querer fazer xixi era tão boa comparada a quando realmente o xixi saía, mas era.

Claro, haviam punições quando ele errava, mas consistiam principalmente de sentar no cantinho sem poder brincar, comer ou beber água, o que variava de acordo com a gravidade de seu erro, sendo apenas não brincar o mais leve e não comer o mais pesado.

Ainda assim ele nunca passava mais de um dia sem comer, sempre tendo direito de jantar aos pés do mestre.

Comparado a ser enterrado vivo ou fodido até sangrar e ter que dormir dentro de gaiolas minúsculas?

Julian considerava aqueles seus melhores anos, mesmo sabendo hoje que tudo pelo o que passou foi abuso, independente de quão pouca dor física causou.

Julian realmente desejava poder voltar para seu primeiro dono, voltar a ser criança e poder ter a simples e deliciosa liberdade de correr pelo prado coletando flores, mesmo sabendo que ao anoitecer estaria entre os corpos de seus mestres.

Claro, as vezes ele ainda se pegava desejando uma infância normal, imaginando como seria ter sido uma criança com pais amorosos, com reprimendas aos erros ao invés de punição, sem ter seu corpo usado.

Agora mesmo, por não ter nada melhor para lembrar além de sua infância (uma que ele sabia que muitos escravos invejariam se soubessem), Julian distraí-se de sua situação atual fugindo para aqueles dias perdidos, tentando fingir que ainda tinha cinco anos ao invés de seis.

Seis anos foi quando seu mestre considerou-o preparado para assumir suas funções, então vendeu-o e... bem... nenhuma criança deveria ter que suportar o que ele suportou.

Seu dono anterior nunca tinha penetrado-o para que pudesse vendê-lo mais caro, afinal, escravos virgens eram altamente valorizados.

Por isso, ele não estava minimamente preparado para a dor excruciante daquela primeira vez.

E não esteve preparado por longos meses até que seu corpo minúsculo pela idade cresceu a um tamanho onde ele não derramava rios de sangue toda vez que era penetrado.

Foi quando seu dono resolveu vendê-lo.

Aparentemente ele gostava de crianças sangrando e, quando seu corpo cresceu e ele aprendeu a relaxar o suficiente para não ser rasgado, ele não queria mais nada com ele.

Ele ainda tinha seis anos quando foi vendido pela segunda vez, e ele ainda era ingênuo o suficiente para pensar que teria um destino melhor.

Quantos donos já foram agora? Sete? Mais? Alguns só ficaram com ele algumas semanas, outros anos, ele realmente não conseguia mais lembrar.

Quantos filhotes ele perdeu nesse meio tempo?

Ele atingiu a puberdade precoce aos 10 anos e seu cio foi infernal, seu dono teve a brilhante ideia de dividí-lo com metade da aldeia antes mesmo dele se perder no calor e por dias depois que já havia passado.

Foi seu primeiro cio.

Foi sua primeira gravidez.

Ninguém quis assumir a criança como sua e seu dono não queria outra boca para alimentar, então deu-lhe ervas e...

Julian sacudiu seu corpo inteiro para abandonar a lembrança dolorosa, voltando a prestar atenção aos seus arredores e, infelizmente, tornou-se hiperconsciente das mãos em seu corpo, principalmente dos dedos testando sua dilatação.

Alguns donos mais sádicos queriam apenas destruir seu buraco e enfiaram utensílios cada vez maiores, mas ele nunca deixou de ser tão apertado quanto na primeira vez, algo que aumentava e muito seu valor.

Talvez ele tivesse um pouco de sangue não-humano em suas veias mesmo.

Nesse caso, ele amaldiçoava sua mãe, porque se ele ainda tivesse sido vendido como escravo por seu pai mesmo sendo humano, pelo menos perderiam interesse nele como escravo sexual se ele estivesse tão largo que não poderia segurar um pau.

Pena.

Como estava, ele estava satisfatoriamente apertado (os clientes estavam elogiando sua dilatação para seu proprietário atual), com um rosto e corpo jovens sem quase nenhuma marca e com todos os traços élficos que os humanos tanto cobiçavam.

Uma pena que a marca do escravo estivesse queimada em sua nuca, onde o cabelo longo poderia esconder, mas era facilmente verificável.

Com um rosto e corpo como o seu, ele poderia facilmente tornar-se uma prostituta. Ao menos assim o dinheiro seria seu e ele poderia escolher com quem deitar-se e impor limites.

Sendo um escravo, ele teve que levantar o rosto para a luz e permitir que um comprador enfiasse os dedos em sua boca para verificar seus dentes e língua.

(O anel da mordaça era coberto por um tecido macio justamente para evitar machucados, ninguém quer um escravo sexual com os dentes quebrados).

(Julian já pensou em quebrar seus dentes com uma pedra para evitar ser comprado para esse propósito, mas ele era covarde demais para se lesionar assim).

- Este é um bom animal, não sou seu primeiro mestre, mas ouvi dizer que ele foi treinado desde o nascimento, e o último dono só o vendeu porque precisava do dinheiro.

Seu proprietário falava enquanto o cliente agora puxava seu pau como um maldito brinquedo de apertar.

Se Julian não estivesse tão acostumado à dor, estaria grunhindo agora. Como ele era bem treinado, no entanto, seu pênis apenas irrigeceu mesmo sob os "cuidados" bruscos, mesmo quando Julian, tal qual todas as vezes que sentia seu corpo reagindo como treinado, sentia vontade de vomitar.

- Veja querida, você gosta desse tamanho?

O cliente gritou para a esposa, que Julian percebeu estar olhando uma outra escrava, uma mulher mais velha, talvez trinta anos, que tinha sua vagina exposta por duas cordas que mantinham suas pernas abertas.

A esposa estava enfiando o punho inteiro dentro da outra mulher e parecia muito, muito satisfeita com a abertura, ao ponto de esfregar entre suas próprias pernas com a mão que deveria estar livre.

- Oh querido, ele é muito grande para mim.

Ela diz após olhar o pênis ereto nas mãos do marido.

- Eu quero menor, quero que pareça um clitóris e quero essa vadia arrombada.

Seu marido, o homem que ainda estava acariciando Julian, gemeu junto com a esposa, então largou Julian, agradeceu ao vendedor e foi até a esposa, já puxando um saco de moedas para negociar a escrava que encantou sua esposa.

Julian abaixou a cabeça sem querer ver a mulher sendo vendida ou qualquer outra pessoa que, assim como ele, foi reduzida a um animal... não, pior, a um objeto...

Viva a Redania, lar da moralidade distorcida e do preconceito, das mesmas pessoas que vestem-se como se a própria luz solar não devesse tocar nenhuma parte de seus corpos, mas que fodem mulheres escravas com seus punhos e se masturbam em público por estarem animadas com seus novos bichinhos.

Julian poderia rir da hipocrisia, se não fosse receber uma punição por emitir qualquer ruído que não fosse previamente solicitado.

Seus joelhos doíam...

Ele estava com cede...

Levantando o olhar de novo em preparação para esfregar-se aos pés de seu proprietário para pedir por água, Julian congelou no lugar ao fitar olhos de gato amarelos como ouro olhando-o intensamente do outro lado do mercado, a parte não destinada a escravos.

Julian sabia que era para ele que o bruxo olhava, sentia aquele dourado incandescente queimar sua pele como a própria luz do Sol.

Ele ouviu muito sobre eles, bruxos, principalmente sobre sua ferocidade e violência, eles foram a ameaça principal durante sua infância.

"Não grite, Julian, ou venderei você para os bruxos e eles vão matá-lo".

Então, com os anos tornou-se.

"Chupe esse pau direito ou vendo você para os bruxos, então eles vão quebrar sua mandíbula se você não chupá-los direito, talvez assim você aprende a não morder, cadela estúpida".

Julian também já esteve de frente para um bruxo, oferecido como pagamento por um contrato. Uma noite de foda com tudo o que ele quisesse atendido, se ele apenas deixasse a cidade em paz.

O bruxo zombou dizendo que poderia pagar por cadelas dispostas se quisesse foder e que o vereador deveria dar-lhe sua moeda.

O vereador então ofereceu Julian por três noites e três dias ininterruptos, dizendo que não tinha a moeda prometida.

O bruxo não gostou e o vereador, junto a cinco outros homens (guardas) perderam a cabeça, sobrando apenas ele, encolhido em um canto, olhos arregalados com a carnificina realizada na sua frente, nu e sem nenhuma forma de defender-se de um homem que havia matado outros seis sem nem mesmo suar ou ofegar.

No entanto, o bruxo apenas pegou todos os objetos de valor do cômodo, olhou-o de cima a baixo, cuspiu em sua direção com uma expressão de nojo e foi embora.

Julian tinha quatorze então, e nunca mais esqueceu da fera que, por capricho, milagre ou desinteresse, poupou sua vida.

Agora, sob o olhar intenso daquele bruxo que mesmo de longe parecia analisar cada parte de seu corpo, Julian sentiu-se aterrorizado, pois reconhecia um olhar de cobiça quando via um, e aquele bruxo de cabelos brancos olhava para ele como um maldito predador caçando sua doce e frágil presa.

Oh...

Julian era caro e ele sabia em primeira mão que os bruxos não recebiam bem, mas se aquele homem de alguma forma tivesse o dinheiro ou apenas exigisse Julian em troca de poupar a vida de seu dono...

"Não pode ser pior do que ser enterrado vivo". Julian ponderou para se acalmar, além de listar todas as outras coisas horríveis que teve que suportar.

Humano ou bruxo, faria realmente diferença? Ele seria um escravo independe de quem desse a moeda.

Mas ele pensou que, agora que fez dezoito anos e parecia um jovem adulto ao invés de uma criança, seus compradores seriam mais gentis, do tipo menos doente, que quer um brinquedo sexual, mas não um que seria considerado crime ter se escravos não fossem menos que animais.

O tipo que bateria como punição, sim, mas não ficaria satisfeito por ver o que seria praticamente um bebê sangrando e berrando em agonia.

Ele pensou que escaparia do pior da humanidade. Mas então, bruxos não são humanos, não é? Até onde Julian sabia, eles podiam ser até piores.

Mesmo com todos esses anos de atrocidades presenciadas e vividas, Julian nunca havia visto alguém ficar tão obviamente feliz e satisfeito matando outra pessoa que considere um igual (muitos humanos ficavam felizes matando não-humanos, mas isso é outra história) como aquele bruxo ficou.

Ele podia não saber muito sobre satisfação sanguinária, mas sabia sobre prazer, e o olhar no rosto daquele bruxo enquanto desmembrava aqueles homens era órgastico.

Julian não teria se surpreendido se ele tivesse abaixado as calças e gozado sobre os retalhos. Foi pura satisfação e plenitude, foi loucura e desejo como ele nunca viu antes.

Julian definitivamente não queria ser comprado por um bruxo, mas que escolha ele teria se assim fosse?

Ele voltou a baixar o olhar.

Ele não podia fazer nada, nem mesmo forçar a ereção entre suas pernas a amolecer.

Patético.

Seu proprietário ainda estava falando com possíveis compradores, mas Julian voltou a pensar em sua infância, no abraço da mulher de seu primeiro dono e nas histórias de ninar que ele ganhava depois de um bom serviço.

Ele amava aquelas histórias.

Ele queria desesperadamente que alguém o segurasse e lesse para ele novamente.

O cheiro de alfa o atingiu antes mesmo da voz grave, um cheiro que falava sobre poder e dominância, um que fez Julian querer deitar e mostrar sua barriga e pescoço frágeis em submissão, mas que só resultou em seu corpo congelando mais uma vez.

- Quanto é o escravo?

Julian nunca sentiu um cheiro tão... alfa, quanto o do mais novo cliente, também nunca tinha escutado uma voz tão grave e rosnante antes.

Se lobos falassem, Julian achava que seria exatamente assim, como trovões dentro de uma caverna ou... ou pedras se chocando ou...

Céus, ele não conseguia pensar em descrições para aquele cheiro e voz, ele estava ficando tonto tentando não sentir o odor que ativava todos os seus instintos ômega para submeter-se, para ser bonzinho, porque ômegas bonzinhos não eram punidos.

Só aquele cheiro foi suficiente para Julian saber que nunca, nem mesmo uma vez, ousaria desobedecer o homem caso ele o comprasse, ele temia punições piores do que a morte caso cometesse tal infração.

E, mesmo sem olhar, ele sabia que tal cheiro, tão intenso e poderoso, com aquela nota de acidez animalesca que nenhum humano tem, só poderia pertencer ao bruxo.

Ah Melitele, porque tão cruel?

Julian queria chorar, mas fechou os olhos com força e impediu os soluços de escaparem.

Ele nunca teve um comprador, alfa ou não, que pudesse subjugá-lo somente com sua mera presença.

O que seria dele se não pudesse nem mover-se quando sozinha, caso aquele alfa ordesse que ficasse parado?

Julian enlouqueceria. Ele era um homem perdido, morto provavelmente. O bruxo não podia comprá-lo, não podia, por favor, deuses por favor, ele não ia sobreviver dessa vez.

- Vou levar.

Foi a frase que adentrou os pensamentos em crise do escravo, e ele enterrou suas unhas nas palmas das mãos para impedir-se de gritar por socorro.

Nunca, nem uma única vez, seu chamado ômega, o som ancestral usado pelos ômegas para chamar alfas para socorrê-los, foi atendido.

Ele nem mesmo tinha o instinto de usá-lo mais, sumiu aos dois anos. Ou assim ele acreditava, pois queria desesperadamente gritar no momento.

Moedas foram trocadas, então seu (ex) proprietário entregou sua coleira ao bruxo, que ordenou que levantasse e o seguisse.

E, sim, exatamente como ele imaginou seu corpo moveu-se antes mesmo de processar adequadamente as palavras.

Um alfa dominante que podia controlar ômegas com um única entoação diferente... Julian achava que eles eram lendas... uma pena que o destino gostava de fodê-lo muito literalmente.

Uma pena maior ainda que ele não tivesse permissão para chorar, ao invés disso, ele caminhou com a cabeça baixa e os pulsos ainda cruzados atrás das costas, mesmo que não haja corda real prendendo-os juntos.

Talvez o bruxo permita que ele cante, pelo menos? Os outros donos não deixaram, mas bruxos ficam longe da civilização por muito tempo, então talvez este gostasse de relaxar com um pouco de música?

Ousando espiar por debaixo dos cílios para avaliar seu novo mestre, Julian não viu nada que dissesse do que o outro gostava ou não.

Roupas simples e eficientes.

Cabelo longo e bem tratado, é verdade, então talvez ele cedesse a algumas indulgências.

Espadas dentro de bainhas lustradas, mas qualquer caçador que se prese cuida bem de suas armas.

Alto, musculoso, basicamente um exemplar perfeito de alfa que fariam outros caírem de inveja, se o dito alfa exemplar não fosse um mutante.

Julian odiou isso, ele preferia betas ou ômegas, principalmente ômegas, ambos tendiam a ser mais gentis no sexo e tentar oferecer prazer, ao invés de só tomar.

Não que Julian gostasse de ser um escravo sexual, óbvio que não, mas você preferiria ter uma doença irritante como uma gripe persistente ou uma doença mortal?

Ambos são doenças, nem por isso deixam de serem piores ou melhores que o outro.

E Julian achava pior quando não recebia prazer algum, principalmente porque quem não oferecia tendia a ser sádico, mas também porque era mais fácil deixar sua mente fugir da realidade quando seu corpo estava relaxado.

O alfa não parecia ser do tipo sádico (sorriso gentil e voz mansa), muito pelo contrário, mas bruxos não seguiam regras humanas, eles não tinham que fingir ser o que não eram para manter uma imagem.

Pelo menos ele não o apalpou ou levou-o para um beco para estrear seu novo brinquedo, como era comum.

Um ponto a favor do alfa, mesmo que já haja um ponto contra, por ele ter usado sua voz para forçar sua obediência ao invés de simplesmente chamá-lo.

(Era bom contabilizar, mesmo que no fim não servisse de nada além de descobrir se ele foi um tolo ou não, esperando por determinado comportamento apenas para ser outro completamente diferente).

- Aqui.

A voz do bruxo soou mais calma agora, não mais como rochas colidindo, mas talvez apenas se chocando levemente? Foi melhor, mas ainda era difícil de entender.

Em todo caso, Julian parou de andar e observou os arredores do estábulo rapidamente antes de fixar o olhar no peito do bruxo (aquilo era um medalhão em forma de lobo?) esperando instruções.

Não houve nenhuma, apenas um par de mãos subindo por seu rosto, inspecionando sua mordaça antes de segurar seus ombros para virá-lo de costas e mexer no fecho ali.

Um instante depois o fecho soltou e Julian agarrou a mordaça para não cair muito rápido e machucar sua boca (já aconteceu antes, ele sabia melhor agora).

Com cuidado, ele retirou o aro de sua própria boca e virou novamente para seu alfa, estendendo o material para ser guardado por ele.

Contudo, quando o bruxo agarrou a mordaça não foi para guardar nos alforjes e sim para jogar na lata de lixo do estábulo.

Dois pontos para o alfa.

Aparentemente ele era do tipo que não gostava de manter a boca de seu escravo aberta para uso livre, ótimo. Esses tendiam a permitir descanso prolongado e um tapete para dormir, ao invés de gaiolas apertadas.

- Qual é o seu nome?

O bruxo perguntou (perguntou, não exigiu com sua voz alfa).

- Este foi nomeado Julian por seu primeiro proprietário, mestre, mas também atendo por cadela, vadia, puta, boneca, brinquedo, escravo, animal e bichinho, e entenderei por como desejar me chamar, mesmo que não seja um desses.

- Julian.

O escravo poderia ter chorado de alívio por ouvir seu nome de novo, faz dois proprietários que ele não era utilizado nem mesmo uma única vez.

Podia não ser o melhor dos nomes, podia ser o nome dado por um abusador pedófilo e comerciante de escravos, mas ainda era um nome, ainda lembrava a todos que ele era na verdade uma pessoa.

Julian sentiu falta disso.

- Vou soltar sua coleira, não fuja, eu vou conseguir alcançá-lo, entendeu?

- Sim, mestre.

Julian encolheu-se com o rosnado do alfa. Parecia irritado, mas ele não tinha certeza, pois não soava com os dos outros alfas.

Os humanos perderam suas características animais, até seus rosnados hoje em dia soava... estranho.

Ainda eram melhores do que betas tentando rosnar, que poderiam ser comparados a cães tentando falar.

Todavia, enquanto o beta rosnando parecia um cão tentando falar, um alfa humano rosnando poderia ser comparado a um cachorrinho de madame filhote ao lado de um lobo selvagem adulto.

Simplesmente não havia similaridade entre o bruxo rosnando e qualquer humano que Julian já conheceu.

O bruxo era o lobo adulto, e Julian acabou de descobrir que havia ficado com medo de simples filhotes bravos.

Aquilo era um rosnado. Ressoou no próprio peito de Julian, fez sua respiração falhar, o medo e a adrenalina pulsarem em suas veias e seus joelhos tremerem.

Sem nem mesmo pensar, agindo apenas por instinto cego, ele ergueu a cabeça para expor o pescoço vulnerável e soltou um som de derrota, um que reconhecia a dominância do alfa.

Soava muito com um choramingo e Julian nunca antes havia feito tal som, mas não importa, porque o alfa imediatamente agarrou seu corpo e afundou o nariz em sua glândula de cheiro, farejando o doce aroma liberado quando um ômega se submete.

- Porra, desculpe.

O alfa pareceu alarmado ao se afastar, olhando para Julian com pupilas dilatadas, mas com as mãos fechadas em punhos e puxadas para trás.

- Eu não queria fazer isso, seu cheiro é incrível, não queria assustá-lo antes, desculpe, eu só não gosto de ser chamado de mestre.

Julian piscou devagar, sentindo-se perdido por um momento antes de concluir que, sim, três pontos a favor do alfa.

Pouquíssimos se desculpam depois de assustá-lo. Por coincidência, foram os mesmos que gostavam de oferecer prazer, então ei, Julian estava com sorte, ele foi comprado por um bom alfa, ele não seria morto.

Ainda havia o fato de quê aquele alfa escolheu um ômega adulto, então na verdade seriam quatro pontos para ele.

Faz muito tempo que Julian não encontrou um alfa com quatro pontos. Ele teve a sorte grande, perfeito, perfeito, perfeito.

Julian sorriu adequadamente, nem tão largo para não ser vulgar, nem tão breve para não ser rude, o sorriso de um ômega recatado.

Sua boca doía por ser mantida nessa posição depois de tanto tempo usando a mordaça.

- Obrigado por desculpar-se, mestre, é gentil de sua parte. No entanto, sinto que sou eu que devo pedir seu perdão, pois falhei em meu serviço ao não perguntar, mas do que você gostaria de ser chamado?

- Geralt, é meu nome.

- Assim será, Geralt.

O alfa grunhiu, e Julian não soube se foi em aprovação ou não, mas não importava muito, pois o outro já estava em movimento novamente.

Primeiro para soltar sua guia e coleira, jogando-as no lixo, então começar a preparar um cavalo para sair dali, uma égua, sua mente forneceu depois de uma análise mais cuidadosa.

Ótimo, ele tinha medo de cavalos, por algum motivo inexplicável eles eram rudes com ele, já éguas eram gentis e tratavam-no como um potro. Uma pena que o resto dos animais parecesse não gostar dele em um geral.

Julian gostava de animais, foi simplesmente injusto que eles fugissem dele e sua criança interna sempre faria biquinho por isso.

- Aqui.

O bruxo (Geralt) estendeu para ele um monte com quatro tecidos dobrados com um par de botas deitadas em cima.

- Comprarei roupas quando puder, mas minha moeda acabou comprando você, então isso terá que bastar.

- Oh...

A lei do pudor não aplicava-se a escravos, então pouquíssimos donos tinham tais escrúpulos, ainda mais quando deixá-los nus torna seus buracos de tão fácil acesso.

Ele só teve roupas compradas exclusivamente para si quando criança e com o mestre poeta, de resto, foram roupas velhas de seus donos, muitas vezes rasgadas.

Ainda assim, não foram muitos os mestres que deram-lhe roupas, mesmo usadas. A maioria preferia, quando importavam-se com o pudor, só cobri-lo com um lençol.

Quinto ponto para seu novo alfa.

Nesse ritmo, não haviam muitas coisas que Julian não estaria disposto a fazer por vontade própria para mantê-lo.

Oh, ele faria o melhor boquete possível no bruxo quando fosse pedido e apertaria seu buraco daquele jeito que fazia os alfas gritarem.

Quando terminar com ele, Geralt irá querer mantê-lo para sempre, vai implorar por ele, para ser levado ao limite e além.

Julian sabia que bruxos eram resistentes, ele ouviu sobre suas proezas, sobre como eles podiam foder por um dia inteiro.

Mas Julian também sabia por experiência que podia foder por uma semana ininterrupta, graças a um mestre que gostava de se masturbar assistindo outros tomando o que deveria ser somente seu.

Claro, ele não andou por três dias depois disso e no fim da semana ele não sabia mais quantas vezes havia desmaiado e o que era real, seu corpo inteiro doía como um único e excruciante hematoma.

Mas Julian conseguia, então também conseguia satisfazer seu novo mestre completamente, o que significava não ser deixado e poder viver com um alfa com cinco pontos!

Cinco!

Julian soltou um arrulho feliz para acariciar o ego do alfa e teve sucesso, dado o pequeno sorriso do mesmo.

- Muito obrigado, Geralt, conceda-me um momento.

Bem assim, Julian estava vestindo-se no meio de um estábulo imundo, lamentando apenas enfiar seus pés sujos dentro das botas limpas. Mas ei, o que ele poderia fazer?

Pedir um balde com água para se lavar?

Se seu alfa não achou necessário oferecer, então ele não podia pedir, regra básica que todo e qualquer escravo aprende rápido.

Infelizmente isso inclui comida e água para beber também, o que pode resultar em alguns dias de fome e cede, o que irritou muito o jovem Julian que estava acostumado a comer pelo menos todas as noites.

Atualmente? Julian sabia que podia passar muito, muito tempo sem comer ou beber água, mais tempo ainda se estivesse bebendo esperma constantemente, mesmo que isso não cessasse a fome ou a cede.

Foi só quando ele vestiu a camisa que reparou em algo muito, muito importante. As roupas não cheiravam como Geralt.

O cheiro ainda era dominante e poderoso, ainda falava daquela ameaça sutil que só um predador silencioso poderia proporcionar, mas não era de Geralt.

Outro alfa? Não parecia, mas um ômega não cheiraria tão forte, não é?

Seria um alfa mais fraco que o bruxo em sua frente, mas ainda mais poderoso que qualquer humano que Julian já viu e, portanto, muito mais forte que ele próprio?

As roupas também eram menores do que Geralt poderia vestir, dado que eles eram do mesmo tamanho, mas o bruxo parecia uma pequena montanha comparado ao seu corpo esguio.

Talvez fosse um filho?

Bruxos não eram estéreis?

Pouco importa.

A única questão era se Geralt pretendia compartilhá-lo com o alfa que era tão obviamente próximo, dado que suas roupas estavam cuidadosamente dobradas nos alforjes.

- Tenho permissão para perguntar uma coisa, mes- Geralt?

Se Julian fosse menos treinado, ele teria recuado diante da carranca do bruxo, mas ele sabia que recuar só piorava as punições, por isso manteve-se parado.

- Pergunte.

- Você tem matilha?

"Eu serei compartilhado?"

Era a real pergunta, mas se esse não fosse ser seu destino, ele não queria dar-lhe ideias falando as palavras em voz alta, muito menos tentar o destino.

- Sim, vou levar você até eles agora mesmo, suba.

Bem, nem tudo são flores, não é? Um ponto desfavorável para o bruxo, mas com outros cinco a favor?

Julian esperava que seu novo mestre ordenasse que seus companheiros fossem gentis. As vezes eles ordenavam isso e Julian nunca deixou de sentir gratidão pelo ato.

Sim, um alfa com cinco pontos provavelmente ordenaria gentileza.

Tentando ser otimista, Julian subiu no cavalo, mentalmente grato por não ter sido fodido por dois dias para que pudesse parecer adequado para o mercado ao invés de uma bagunça pingando e aberta.

Do contrário, cavalgar teria sido excruciante. Nada que ele não pudesse aguentar, provavelmente, mas ainda doloroso.

Oh, ele lembrava quando seu mestre decidiu foder em cima de um cavalo. Pobre animal, ficou todo sujo porque seu mestre era um imundo que decidiu usá-lo para prazer e como depósito de mijo.

Mesmo que ele tenha ficado dias sem andar depois disso por conta de suas pernas e buraco doloridos, pelo menos foi uma experiência única, pois Julian odiou e ele tentaria arrancar a garganta de qualquer um que tentasse isso novamente.

Desconfiado, o escravo observou o bruxo subir atrás de si e preparou suas presas para atacá-lo se tentasse alguma coisa ali em cima.

Felizmente nada aconteceu.

Como um cavalheiro, Geralt enrolou um braço ao redor de sua cintura e agarrou as rédeas com a mão livre, então incitou a égua a andar em um trote rápido.

Suas mãos não vagaram, seu cheiro não continha luxúria. A única indicação de quê ele apreciava a situação era seu nariz, que vez ou outra pressionava perto de sua glândula de cheiro e inspirava demoradamente.

Uma única vez seus dentes roçaram o local, mas foi tão breve que Julian achou que pudesse ter sido um deslize.

Não que importasse ou significasse algo caso o alfa decidisse marcá-lo, a única alteração que isso causaria é torná-lo mais barato para o próximo comprador.

Houve um tempo em que uma marca impedia atos atrozes e aproximações indesejadas.

Não impedem mais.

Julian queria ter nascido no tempo em que impedia, ele teria se insinuado mais para seus mestres ao invés de ser só obediente.

Ele faria de tudo por uma marca naquela época.

- Geralt, posso fazer outra pergunta?

Julian pergunta quando eles saem da estrada para a floresta, observando as luzes ficarem cada vez mais distantes.

Veja, não é que ele se preocupasse com o que quer que fosse ser feito com ele nos confins de uma floresta escura.

Julian sabe muito bem que pouco importa se está nos confins de uma floresta escura ou no meio de uma praça pública em plena luz do dia, ninguém fará nada para ajudar, não importa o quanto ele grite.

Não, o problema não era a localização, não exatamente. Ele só estava nervoso porque sempre doía mais ser fodido em um chão de terra, principalmente quando era mais de um.

- Não precisa perguntar se pode perguntar, apenas diga, se eu ou qualquer um dos outros não quisermos responder, não responderemos e só.

Julian não pergunta se haverá punições se ele fizer uma pergunta que eles não querem responder.

Ele sabe que sempre há.

- Quantos são?

"Quantos eu vou ter que suportar?"

- Estou levando você para encontrar outros dois, mas ainda há mais dois.

Cinco ao todo.

Ótimo, perfeito.

Julian já teve números muito piores, ele está muito satisfeito com cinco. Por outro lado, ele teve muitos humanos, bruxos, no entanto...

- Como eles são?

O escravo escuta Geralt soltar um grunhido, mas novamente não soube dizer a emoção que carregava, mesmo quando o bruxo pressionou o nariz contra a sua carne e...

E lambeu toda a extensão de sua glândula de cheiro e além, passando por toda a extensão do pescoço até a mandíbula, bochecha e maxilar, só para terminar prendendo a ponta de sua orelha entre os dentes.

E... porra... foda-se.

Julian gemeu abertamente enquanto fechava as mãos em punho sobre suas próprias coxas, apertando com força para impedir seu corpo de cair mole contra o alfa.

"Alfa, alfa, alfa, alfa." Sua mente cantava por ser tão rapidamente subjugada por um alfa dominante, e de maneira tão primitiva.

Não precisou de rosnados, ameaças ou golpes. O simples fato de ter suas glândulas estimuladas e perfurmadas e estar cercado pelo cheiro do alfa em instantes foi suficiente para jogar sua mente em uma grande nuvem.

Sua visão embaçou, sua mente foi coberta por névoa, seu corpo inteiro pareceu hipersensibilizado mesmo quando também pareceu flutuar, com a sensação do cavalo entre suas pernas sumindo, restando apenas o alfa que o dominava.

Isso nunca aconteceu antes.

Claro, Julian sabia das histórias sobre ômegas flutuando em uma doce névoa de satisfação depois do cio ou de ser perfurmado por seu alfa.

Mas Julian nunca teve tanta sorte, ou o que ele achava ser sorte até agora, porque a doce névoa de contentamento foi imediatamente sufocada pelo desespero de não controlar o próprio corpo.

Como alguém pode gostar disso?

Ele gemeu alto involuntariamente, e se seu mestre não gostava de barulho?

Como qualquer um pode gostar de perder o controle assim?

Ele não pode, sua vida, sua segurança, é baseada em estar no controle de seu próprio corpo. Não com relação a quem vai usá-lo, óbvio, mas em tomar cada atitude certa para não piorar a dor que sabe que será causada.

Em seu desespero, Julian gemeu novamente, dessa vez um som aflito e choroso que implorava por misericórdia, antes que ele tentasse se jogar para fora da montaria e para longe dos braços daquele alfa que podia controlar sua mente com uma única ação.

Não foi uma ação inteligente, se não fosse o braço do bruxo prendendo-o no lugar ele provavelmente teria se machucado muito, mas ele perdeu totalmente o controle de seu corpo no momento em que seu cheiro foi dominado pelo do alfa.

Não foi uma ação inteligente, mas também não foi consciente.

Julian estava em desespero e chorou abertamente por isso, soltando um soluço lamentável enquanto se debatia nos braços do bruxo.

Há quantos anos ele não chorava?

Uma pequena parte de sua mente se perguntou, e Julian, a parte de si que estava lutando para estabilizar seu eu, percebeu que não se lembrava.

Ele ainda lembrava da primeira vez que chorou por algo além de um joelho ralado, no entanto. Foi na sua primeira penetração.

Mas quando foi a última vez que ele teve permissão para chorar?

Não importa, não é? Ele também não tinha permissão agora e mesmo assim chorou e será punido por isso, e por se debater e gemer e provavelmente agitar a égua entre suas pernas ou até machucá-la sem querer.

Nunca importou se foi sem querer.

- Ômega, pare, pare.

A voz do alfa soava naquele mesmo tom de comando que o ômega seguiu sem nem mesmo registrar estar fazendo isso anteriormente.

Mas agora não havia ômega manso, já submetido só esperando um comando para submeter-se mais ainda.

Agora só havia um ômega selvagem lutando por sua vida, mesmo quando a parte racional de si mesmo gritava para ele parar, para não piorar as coisas.

Agora, Julian gritou e enterrou suas unhas curtas nas mãos que o seguravam, apenas para ter elas agarradas e torcidas em ângulos dolorosos, fazendo-o gritar mais ainda.

- Pare, porra, fique quieto.

Julian deseja poder dizer que quer obedecer e implorar por perdão por não conseguir, mas tudo o que ele consegue fazer é chorar pensando em como um bruxo poderia puni-lo.

Ele já dançou nos braços da morte muitas vezes por culpa de humanos o punindo, o que um bruxo faria? Seria o fim dele?

Ele custou caro, todas as moedas do homem se ele falou a verdade, então ele não iria matá-lo ainda, não é?

- Me dê ele.

Julian escuta, mas não entende porque Geralt falaria isso quando já o tinha preso em seus braços.

O mundo é um borrão e a névoa contente transformada em desespero é cruel e Julian não entende muita coisa, mas de alguma forma ele acha que virou quase de cabeça para baixo em algum momento antes de sua posição ser reajustada.

Então havia outro cheiro de alfa muito, muito perto, e Julian percebeu que foi passado para outro, provavelmente os membros da matilha de Geralt.

Ele não seria punido por um alfa bruxo, mas sim três. Perfeito, ótimo, talvez ele morresse de uma vez e fosse libertado de toda essa merda.

Julian chorou mais alto e soltou sons que pediam ajuda, trinados ômega que ele nunca fez antes, mas instintivamente sabia que eram para atrair alfas para protegê-lo.

Deveria ser uma forma de proteção para seus antepassados, mas hoje em dia alfas só causavam dor ao invés de proteger, então Julian lamentou mais alto por estar chamando por eles e por não conseguir parar.

Porra, ele nunca perdeu o controle assim.

"Pare, só pare, por favor." Ele implora a si mesmo mentalmente apenas para ser ignorado.

Julian pode sentir as mãos sobre seu corpo, um par e então dois, passando por sua pele, arrancando suas roupas.

Oh, foda-se, eles vão fodê-lo nesse estado? É disso que eles gostam?

Imagens de um mestre distante rasgando seu corpo apenas para vê-lo gritar entram e saem de sua mente enquanto seu corpo é maltratado entre aqueles homens e seu pânico só piora, e piora, e ele quer desesperadamente se acalmar.

Antes que perceba, Julian está deitado sobre um colchão que cheira a... ômega, ômega feliz, ômega saciado e contente e bem mantido, amado.

O cheiro o cerca como um cobertor (ele tem a vaga impressão de ser realmente um cobertor cobrindo seu corpo nu, mas não tem certeza).

É bom, é seguro.

Claro, ele teve mestres ômegas, mas eles sempre tinham um alfa do lado, porque ômegas em geral não tinham direito à nada, então meio que, na verdade, seus mestres ômegas eram ômegas marcados que seus alfas desejavam ver com outro ômega.

Mesmo assim, mesmo os mestres que pareciam felizes em aproveitar um escravo nunca cheiravam tão felizes ou saciados, tão em paz, como se não vivessem em um mundo onde a linha entre um ômega escravo e um livre era tão tênue que as vezes não parecia existir.

Quando um par de mãos puxou seu corpo para um peito forte e muito, muito nu, Julian quase encontrou novamente na espiral que só agora estava começando a sair.

Porém, o cheiro o atingiu como um tapa. Não era alfa, era ômega, um ômega feliz, mas preocupado, que fazia arrulhos de conforto e esfregava seu rosto contra suas glândulas, perfurmando-o para acalmá-lo.

Era tão... animalesco, ser tranquilizado da forma mais primordial possível, mas funcionou, e Julian soltou um último lamento antes de se agarrar ao ômega maior.

Este, por sua vez, soltou um ruído feliz enquanto se enrolava ao seu redor, puxando-o para debaixo de si e os lençóis para seus lados em uma posição defensiva.

"Ninho, ele está fazendo ninho para nos proteger."

Uma parte de sua mente percebeu, mas ele estava tão destroçado que não se importou muito, mesmo porque ele próprio nunca foi permitido ter ninhos, nem em sua infância.

Ninhos eram para ômegas livres, afinal.

Aparentemente, eram uma das únicas coisas do passado que um alfa respeitava hoje em dia. Um ômega em um ninho não deveria ser tocado sem permissão.

Por essa premissa que escravos não podiam ter um.

O que foi ótimo para Julian, afinal, ele não achava que seus instintos reagiriam tão bem a isso se estivesse acostumado a ser puxado para fora de ninhos ou até ser machucado dentro deles.

Como estava, Julian relaxou sentindo o outro ômega ronronar contente por sua colaboração.

- Sinto muito.

É a primeira coisa que o escravo preocupa-se em dizer, mas não é voluntário, é treinado.

Ele foi treinado a pedir perdão mesmo quando a culpa não era sua, mesmo quando nem sequer sabia o que fez de errado.

Tão acostumado à isso que saía de seus lábios sem que ele sequer percebesse.

- Shiii, está tudo bem, aquele alfa estúpido é quem deve se desculpar filhote, apenas respire comigo, sim? Você está sendo tão bom, deixando eu ajudar assim, bom ômega.

Antes que percebesse, Julian solta um arrulho contente e se aconchega ainda mais no ômega maior, feliz em ouvir elogios tão gentis.

"Boa cadela" não soa nem de longe tão agradável quanto "bom ômega."

- Agora... Geralt, você pode explicar porque eu mandei você para a cidade comprar suprimentos e você voltou com um escravo?

O termo traz tenção aos ombros de Julian, principalmente por ele perceber que, como estava praticamente deitado de bruços abaixo do outro ômega, era possível ver a marca de escravo sexual gravada em sua nuca.

Contudo, o ômega em questão não tarda a arrulhar para ele em conforto mais uma vez e ronronar pressionado contra seu corpo, forçando-o a se acalmar novamente, mas sem uma névoa assustadora de descontrole cobrindo sua mente.

- Ele cheira bem.

- Então você decidiu comprá-lo e vir cheirando-o por todo o caminho até aqui, até lambendo-o, mesmo que ele estivesse claramente desconfortável? Eu ensinei você melhor, Geralt.

Julian ouviu a irritação na voz do ômega e se encolheu, com medo da reação do alfa, antes mesmo de absorver as palavras "eu ensinei você melhor".

Aquele ômega era pai do alfa? Um mentor? Ele claramente era livre, se podia falar tão abertamente com o outro e repreendê-lo por uma má conduta.

- Sinto muito.

O alfa soava... envergonhado? Julian não tinha certeza, sempre demorava para ele conhecer seus mestres e reconhecer suas emoções, mas a voz do alfa estava baixa e amuada.

Parecia vergonha ou culpa.

- Eu só... eu estava tentando confortar.

- Geralt, ele é um escravo, um sexual, dado sua marca, e você achou que um alfa dominante lambendo seu pescoço seria reconfortante?

O ômega sibila como um gato arrisco, mas Julian não faz nada, porque o alfa não fez nada e ele tem certeza de quê, por algum milagre, inconstância ou desordem no universo, o ômega é o líder daquela matilha.

- Eu... desculpe.

- Não é para mim que deve se desculpar, alfa.

A voz do ômega agora estava suave e ele ergueu um pouco o corpo, expondo a preciosa carga que guardava com todo o seu corpo, como um ômega guardaria seu filho.

- Julian.

O escravo se encolhe ao olhar para o alfa, mas não sentiu a turbulência emocional que poderia ter sentido se não tivesse um ômega cheirando a segurança mantendo-o protegido.

Ele estava em um ninho. Alfas não invadiam ninhos. Ele estava seguro.

Geralt apenas abaixou-se ao lado do ninho (de joelhos, alfas não se ajoelham, mas aquele ali, um dominante, estava de joelhos) e ergueu a cabeça para expor o pescoço (oferecer seu pescoço vulnerável, suas veias, suas glândulas, toda sua vida oferecida em uma submissão completa, o maior ato de submissão que poderia ser feito).

- Ômega, perdoe-me, minhas ações foram insensatas e tolas, sinto muito por assustá-lo.

Julian não sabe o que fazer. Ele sabe que os alfas cheiram seus pescoços quando fazem isso, mas não sabe o que o alfa faria ao ter seu pescoço cheirado, nem se essa era a ação correta.

Entretanto, antes que ele pudesse cair em outra espiral, o cheiro de satisfação enche o ar enquanto o ômega ronrona e dá tapinhas na cabeça do escravo.

- Bom alfa, desculpando-se tão bem.

O ômega rolou para o lado para deixar Julian se mover livremente.

- Vá, filhote, confortem-se, ele não vai machucar você.

Julian engoliu em seco olhando para o ômega por um momento para absorver sua forma, analisando os cabelos brancos, as rugas suaves, os olhos dourados de gato sábios como só a experiência poderia tornar.

Aquele ômega tinha sinais de velhice, mas ele era um bruxo, e bruxos supostamente não envelheciam.

Quantos anos um bruxo tinha que viver para apenas começar a parecer velho?

Muitos, com certeza. Aquele ômega deveria ser extremamente forte até para um bruxo. Bom, talvez Julian estivesse seguro com ele.

Não faz mal que ele fosse lindo também. O alfa também era bonito e eles pareciam mesmo serem pai e filho sanguíneos, mas talvez Julian tenha uma queda por machos mais velhos, quem poderia culpá-lo?

Muitas pessoas gostavam de machos mais velhos ora, não é nenhum crime quando já se tem a idade adequada, e hoje era seu aniversário, ele já podia fantasiar com homens mais velhos sendo gentis com ele sem sentir-se imundo consigo mesmo.

Aquele ômega era bonito e até o momento estava sendo muito, muito gentil. Julian ficaria feliz em submeter-se a ele e dar-lhe prazer, talvez até pudesse aproveitar um pouco.

Ah... se ômegas pudessem marcar ômegas...

Mas Julian não podia sonhar acordado, então terminou sua breve análise e virou-se para Geralt, que ainda estava joelhado ao lado, com a cabeça meio erguida, esperando para ver se sua garganta seria destroçada por ódio ou acariciada em perdão.

Mesmo que houvesse ódio agora que Julian estava calmo, ele sabia que morder seria uma escolha tola, então quando ele saiu do ninho para se aproximar do alfa, ele acariciou, roçando seus lábios pelo pescoço dele e a bochecha em cima da glândula de cheiro.

"Eu perdoou você", o gesto dizia instintivamente, mas Julian sentia que deveria ser "está tudo bem, não me machuque".

Timidamente, sem ter certeza se deveria fazer isso ou não, Julian deixou a ponta de sua língua sair e passou pela lateral do pescoço do alfa.

Não a glândula, isso seria muito atrevimento, mas ele queria cair nos bons termos da matilha, então cedeu ao ato de aceitação.

- Porra.

Geralt suspirou e tremeu, mas não tocou Julian de forma alguma e, quando o mesmo se afastou, ele ficou parado, agora com o pescoço coberto mais uma vez, mas com um sorriso sutil nos lábios.

- Obrigado, ômega, terei mais cuidado com minhas ações, eu prometo.

- Agradeço por serem tão gentis e sinto muito por ter ficado um pouco... histérico.

- Oh filhote, você tem todo direito de ficar histérico em sua situação.

É o ômega quem fala, logo puxando o escravo para seus braços mais uma vez.

- Escravos não deveriam existir e a sociedade é cruel por não abominar isso, e meu filho é um tolo por apoiar isso apenas por ter achado seu cheiro bom.

- Eu não poderia deixá-lo lá.

Geralt rosna, mas Julian não se desespera, porque não pareceu uma ameaça. Parecia frustração.

- Ele é nosso, cheira como nosso, não poderia deixá-lo lá, minha outra opção seria matar todos eles.

- Esses vermes mereciam estar mortos.

A voz do ômega, tão gentil anteriormente, agora estava dura e afiada como aço. Seus lábios puxados sobre os dentes em um rosnado lupino e feroz, as pupilas estreitas em fendas que quase sumiam no dourado.

- Deveríamos ir todos lá e caçar cada um desses monstros miseráveis.

O velho ômega rosnou em fúria, seu cheiro queimando com ódio e violência.

Naquele momento, Julian não sentiu exatamente medo, porque a raiva do ômega não era direcionada a si, mas uma parte de si reconheceu aquele homem como uma ameaça além de qualquer outro mestre que já teve.

Se os alfas que conheceu antes eram filhotes de cães comparados ao lobo que era Geralt, Geralt, por sua vez, apesar de ser um lobo adulto e ameaçador, não passava de um jovem comparado ao lobo velho que era aquele ômega.

As pessoas acham que ser jovem significa ser mais forte, mas a verdade é que animais jovens sempre têm muito a perder, além de pouca experiência.

Animais velhos eram experientes e já tinham vivido suas vidas, portanto não tinham muito o que perder e por isso tornam-se tão perigosos.

Aquele ômega era um lobo velho, mas forte, e Julian reconheceu seu poder ali mesmo.

Ele com certeza era o líder daquela matilha, pouco importava o quão antinatural parecesse para Julian um ômega comandar.

- Ômega.

Outra voz chamou, uma gentil, mas firme, e só então Julian lembrou que havia outro par de mãos sobre seu corpo anteriormente, um que cheirava como alfa.

Então, sem saber quem o outro membro da matilha estava chamando, ele olhou para o dito ao mesmo tempo em que o outro ômega fazia isso.

Rapidamente seu cérebro absorveu as informações básicas.

Cicatrizes profundas no rosto ("devem doer, então evite tocar para não irritá-lo", sua mente anotou).

Rosto muito parecido com o que Geralt, mas com cabelos escuros, tal qual o amarelo de seus olhos, que tinham o tom de mel escuro.

Grande, maior que Geralt tanto em altura quanto em músculos, mas curvado sobre si mesmo para parecer menor.

O todo da aparência dele passava uma imagem feroz e cruel, muito diferente de Geralt, que parecia apenas taciturno. Mas seus olhos... seus olhos eram tão gentis e amorosos olhando para o ômega que o segurava.

Julian realmente nunca encontrou com alguém que tivesse aquele olhar, como se a benevolência tivesse encarnado em alguém.

- Pai, acalme-se.

- Hm.

O ômega resmungou, e foi tão igual ao seu outro filho que Julian se viu rindo baixinho da interação entre eles.

- Eles merecem morrer, mas matá-los não vai mudar a sociedade, não é assim que se faz, eu sei, vocês não precisam me dizer meus próprios ensinamentos, filhotes.

O bruxo mais velho suspirou e sorriu para o ômega mais novo, beijando seus cabelos, cheirando contente novamente por o ouvir rir.

- Agora, porque não nos apresentamos adequadamente? Geralt chegou a isso ou só grunhiu para você seguí-lo e subiu na égua?

- Ele se apresentou e perguntou meu nome... mestre?

Julian mordeu o lábio, incerto sobre como tratar o homem. Geralt não gostou de ser chamado de mestre, mas ele não sabia o nome do ômega ainda.

- Hm... precisamos conversar sobre seu lugar no bando, agora que Geralt trouxe você.

O velho ômega acariciou os cabelos do escravo.

- Serei seu mestre, sim, e você pode me chamar assim, mas não pelos motivos que acredita. Mas primeiro as apresentações, eu sou Vesemir, qual é o seu nome, filhote?

- Você pode escolher, mestre, sou chamado de muitas coisas diferentes, cadela, escravo e bichinho são mais comuns, mas... meu primeiro nome foi Julian.

- E você gosta de Julian?

- Eu... nunca pensei nisso, mestre.

- Pense então, todos nós fomos nomeados ao nascer por pessoas que nos abandonaram ou machucaram de alguma forma, então, quando nós nascemos de novo, nos tornamos bruxos, escolhemos nossos nomes. Pense se gosta de Julian e, se não gostar, escolha um, pois filhote, agora que você está aqui eu prometo que nunca será machucado de novo.

- Você nem me conhece.

Essa é provavelmente a primeira fala genuína de Julian em anos. Uma que ele não pensou antes de falar, preocupando-se se é certa ou se agradará.

Primeiro, ele nunca foi falado diretamente assim antes, ao menos, não depois de sua infância, e mesmo nela tudo tinha haver com treinamento para ser um bom escravo.

Ou seja, ele estava surpreso demais para controlar a própria boca.

Segundo, Vesemir não parecia estar mentindo, e Julian, talvez como um tolo idiota e estúpido que foi treinado e espancado para não ser, decidiu acreditar, porque Julian sempre viu o melhor nas pessoas, mesmo em seus mestres.

O que teria para ele se ele focasse apenas na dor, afinal? Se não procurasse nas mais simples coisas, atos, falas ou olhares, a alegria para viver?

Ele comeu hoje? Ele respira? Seu copo dói menos hoje do que ontem? Ele recebeu um lençol? Pôde pegar um pouco de Sol ou não ser punido ficando um dia inteiro nele? Ele pôde dormir embalado pelo som da chuva, ao invés de desmaiar ouvindo gemidos em seu ouvido?

Então o dia era perfeito. Simples assim.

E se Vesemir falava que não iria machucá-lo, então ele acreditaria, porque, sim, houveram donos que gostavam de enganá-lo para se divertir com sua mágoa. Porém, em sua experiência, quando seus mestres diziam que não iriam machucá-lo, não machucavam.

Óbvio, "não machucar" é relativo. Eles foderiam seu corpo e isso ia doer, mas eles não usariam um chicote ou o deixariam sem comer, por exemplo.

A confiança soltou sua língua, mas acima de tudo, a confiança misturada com a insegurança em seu âmago atiçou uma curiosidade cautelosa que implorava por respostas.

- Pelo o que entendi, Geralt me comprou por impulso, porquê me manter? Por que não me machucar?

- Porque o impulso dele estava correto, mas vamos explicar isso e seu lugar no bando depois, agora, porquê você não cumprimenta nosso outro alfa?

Envergonhado por esquecer de fazer justamente isso, Julian vira-se para o alfa com cicatrizes cruéis rasgando seu lindo rosto e tenta seu melhor sorriso.

Não o sorriso de ator que ele aperfeiçoou ao longo dos anos, mas um sincero e frágil que ele geralmente não ousaria oferecer.

- Desculpe meus modos, alfa, estou sendo chamado de Julian agora, mas atenderei pelo o que você desejar.

- Bom ômega, você só não será chamado por seu nome se eu falar "querido", "raio-de-Sol" ou algo assim, nunca "cadela" ou qualquer outra coisa escrota que já tenham forçado você a atender, eu prometo.

De repente, Julian não sentiu que seu sorriso estava mais tão frágil, mesmo que ainda não pudesse ser largo e feliz como era em sua infância, dado que ele ainda não tinha provas de ninguém de que quaisquer daquelas palavras seriam cumpridas.

Ah, doce esperança.

- De qualquer forma, meu nome é Eskel, eu sou o mais velho dos filhos de Vesemir, Geralt é o do meio e Lambert é o caçula e um ômega, mas ele não está aqui no momento. Vesemir é nosso pai por criação e nosso ômega tanto quanto Lambert é e você será se nos aceitar, mas também é nosso mestre.

- Vocês são...

- Escravos?

Vesemir diz quando Julian se cala, chamando a atenção do ômega de volta.

- De certa forma, fomos escravos por centenas de anos, escravizados pelos homens que nos mutaram, mas eles estão todos mortos agora, então não somos mais.

Julian mordeu o lábio querendo perguntar mais, mas conteve-se com medo de ter falado demais. Faziam anos que ele não falava tanto.

- Pergunte, querido, você é livre para falar o que quiser.

É Eskel quem diz abaixando-se ao lado do ninho com Geralt, mas tal qual ele, não tocou no mesmo.

- Se vocês não são mais escravos, porquê têm um mestre?

- Porque eu treinei eles, filhote, tudo o que sabem eu ensinei, não porque eu os controlo.

- Mas você é o líder...

Eskel riu.

- É claro que é, ele é o ômega mais velho.

O bruxo com cicatrizes no rosto diz, apenas para Julian contradizer rapidamente.

- Ele é ômega.

Geralt e Eskel trocaram um olhar que pareceu triste, então Eskel, que só estava vestindo roupas simples e folgadas, puxou a camisa para cima, desnudando seu tórax.

Geralt, que estava de armadura, puxou os fechos até tirar todos e então seguiu o exemplo do irmão quando chegou até as roupas mais simples, tirando a camisa também.

Só então eles olharam para Julian mais uma vez, dessa vez ambos inclinando o rosto para cima para expor a glândula de cheiro.

Ambos carregavam duas marcas de dentes em cima delas, uma de cada lado de seus pescoços.

- A da esquerda é de Vesemir, a da direita é de Lambert.

Gerelt tocou-as enquanto falava, antes de Eskel tomar a palavra para si.

- Nossa matilha segue as leis antigas, repassadas para nós por Vesemir. O alfa protege a matilha, caça e dá abrigo, ele é o provedor, mas nós também somos muito...

- Emocionais.

Geralt riu, oferecendo a palavra ao irmão, que continuou sua explicação.

- Sim, somos emocionais, nossos instintos são muito mais intensos do que os dos ômegas, frequentemente não pensamos direito ou agimos impulsivamente, então devemos obedecer nossos ômegas.

- Ômegas são mais tranquilos, eles conseguem pensar racionalmente mesmo sob estresse, analisam melhor as coisas. Se um alfa caça, ele caça o que o ômega escolher, nós oferecemos abrigo, é verdade, mas se o ômega dizer que não é um bom lugar devemos procurar outro onde ele achar melhor e então proteger o local de sua escolha.

Geralt disse depois que Eskel calou-se, apenas para o mesmo voltar a falar assim que Geralt terminou, como se fossem uma unidade.

- Alfas precisam prover, precisamos ser fortes e inteligentes para esse tipo de coisa, mas os ômegas precisam orientar. Claro, eles têm que ser fortes para proteger os filhotes enquanto caçamos, só um alfa tolo desafiará um ômega protegendo sua cria, mas sua função principal é pensar.

- Não sei quem decidiu que alfas mandam, mas foi um completo imbecil, e a sociedade atual é ainda mais idiota por seguir isso. Vesemir é o ômega mais velho e, portanto, devemos obedecê-lo, mas se ele morresse, mesmo Lambert sendo o mais novo de nós três, deveríamos seguí-lo.

Geralt falou com uma proteção feroz em sua voz, como se realmente achasse tudo aquilo, aquele mundo atual, injusto e ignorante.

- Infelizmente, Lambert é um pouco mais explosivo do que um ômega deveria ser.

Dessa vez, quem falou foi o próprio Vesemir, então Julian virou-se para vê-lo suspirar como um pai faria por um filho teimoso.

- Os magos mudaram suas mutações, queriam forçar as crianças ômegas a tornarem-se alfa... todo o seu grupo morreu por isso, só ele conseguiu, mas sua biologia alterou e ele tem um pouco de alfa agora, mesmo sendo ômega.

- Ele vai aprender, Ves. - Eskel murmurou em um tom reconfortante. - Ele só tem trinta anos, você vai continua orientando-o e ele vai aprender.

- Como posso orientá-lo? Ele é um ômega, mas também é um alfa, e eu não entendo como isso funciona, não consigo...

Julian soltou um ruído triste ouvindo a voz do ômega, já baixa e cheia de dor, quebrar.

Ele moveu-se, empurrando o ômega para baixo e, esquecido de sua nudez outrora coberta por lençóis e pelo próprio ômega, subiu em seu colo.

Lá, Julian encostou seus corpos e ronronou o mais alto que conseguia, tentando desajeitadamente ser reconfortante, mas sem saber como fazer isso a nível biológico, pois nunca foi permitido.

- Oh, filhote.

Vesemir sorriu e riu para o ômega desajeitado, então brincou com seus cabelos e beijou sua testa para agradecê-lo, mesmo que seu ronronar naquele tom não servisse para ser reconfortante e sim para mostrar alegria.

Bem, a alegria do pequeno era reconfortante por si própria, mesmo que ele estivesse ronronando intencionalmente ao invés de apenas relaxar e deixar seu ronronar sair inconscientemente.

- Obrigado.

O velho ômega agradeceu beijando os cabelos de Julian e acariciando suas costas devagar.

- Acho que isso nos leva a sua função no grupo, Julian.

Geralt falou com um sorriso suave.

Julian estava começando a achar que para ele, sorrir assim era equivalente a abrir um sorriso largo e espontâneo.

Isso o relaxou o suficiente para ignorar sua nudez, mesmo lembrando-se dela automaticamente ao interagir com um alfa. Afinal, ele não precisava se preocupar, não é?

Vesemir também estava nu e ninguém deu-lhe um segundo olhar abaixo do pescoço, tal qual não fizeram isso consigo também.

Além disso, eles não pareciam ter ereções marcando as calças e nem cheiravam à excitação.

Nem o próprio Vesemir, que o tinha no colo com seus paus quase lado a lado e cada centímetro de seus corpos unidos, cheirava excitado, e seu pênis com certeza não estava nem minimamente rígido.

Dito isso, Julian ainda estava relutante em acreditar que seu papel no grupo não seria servir como depósito de esperma, dado que eles já tinham ômegas com, pelo jeito, funções importantes e já estabelecidas.

Além disso, a marca em seu pescoço já dizia muito claramente para o que ele servia. Dado que ele praticamente nasceu para isso, já sendo escolhido para está função desde os dois meses, mesmo que a marca em si só tenha sido posta aos dois anos.

- Como dissemos, ômegas devem orientar, mas já temos um líder, então você não precisa se preocupar com isso a menos que Vesemir e Lambert tenham que sair por um tempo.

É Eskel quem começa a instruir, mas Vesemir logo corta sua fala para complementar com seu próprio ponto.

- Eu ainda vou ensinar você tudo o que sei e guiá-lo para ser um líder, esses filhotes são autossuficiente e sempre serão mais experientes que você graças a diferença de idade, mas eles ainda precisam de supervisão e cuidados que não tenho certeza se Lambert consegue oferecer, dado sua condição.

- Também gostaria de ensiná-lo a lutar - Geralt fala - Talvez quando souber se defender você não cheire a tanto medo.

- Sim, tudo isso será feito, mas não é sua função primária - Eskel finalmente continua - Sua função será ser nossa ponte de equilíbrio, mediar quando estivermos... agitados demais.

- Como?

Julian estava quase eufórico agora. Se ele pudesse fazer isso sem ter que dormir com eles...

Ele ainda seria um escravo, eles ainda seriam seus mestres, mas talvez sua vida pudesse finalmente melhorar.

- Como você fez agora, por exemplo. Ves estava chateado e você melhorou isso, simples assim. Nós, alfas, podemos acalmar um ômega com nossos cheiros, mas não funciona entre alfas, precisamos de você. Claro, também há muita conversa, nós... todos os alfas, mas principalmente os bruxos, tendemos a ficar não verbais, então... sabe... é legal ouvir alguém falar.

- É só isso? Nada de... nada de sexo?

Julian verifica em um tom nervoso. Ele não queria dar voz a essa palavra, pois sentia como se meramente mensioná-la colocasse um alvo enorme em suas costas.

Um com uma placa em cima dizendo "estou me oferecendo, pegue".

Mas não há como evitar, pois se ele não esclarecer isso agora e, por exemplo, for acordado no meio da noite por um pau entre suas pernas depois de acreditar que não seria tocado, isso o destruirá.

- Não.

Geralt apressou-se em responder com firmeza, mas Eskel abriu um sorriso lupino cheio de malícia e desejo, inclinando-se para frente, ainda fora do ninho, e abaixando a voz para um tom alfa profundo, espesso como mel e tão atrativo quanto.

- Não, a menos que você queira. Qualquer alfa com olfato ou olhos desejaria devorar você inteiro, você é muito bonito e seu cheiro é tão delicioso quanto sua aparência, e se você estivesse disposto, eu levaria você ao orgasmo aqui mesmo, só com minha boca em seu pauzinho adorável.

Julian respirou fundo tentando equilibrar-se nas ondas de medo e desejo que queimaram em seu interior ao mesmo tempo.

Ele quase deixou a boca abrir para provar o cheiro do alfa no ar, quase inclinou-se para fora da proteção do ninho. Mas o medo, seu amigo mais antigo, felizmente manteve-o parado mesmo quando seus instintos imploraram para ele virar-se e se apresentar com o peito no chão e a bunda empinada.

Infelizmente, ele não foi capaz de engolir o gemido assustado que fez e que trouxe desejo ardente para os olhos de Eskel, enquanto outro cheiro alfa enchia o ar com mais luxúria.

Pelo jeito, Geralt também estava muito interessado.

- Você cheira disposto agora, mas também parece com medo, então isso não é consentimento verdadeiro para nós, mas se algum dia você se sentir confortável para realmente querer isso além do instinto básico, então será uma honra colocar meus dentes e garras em você e transformá-lo em uma bagunça incoerente e saciada.

Houve outro gemido ômega, mas dessa vez não veio de Julian e sim do homem abaixo dele, que estava tremendo levemente e cheirando a desejo puro.

Julian também sentiu que o pau ao lado do seu estava duro agora e, ao olhar para o rosto de Vesemir, pôde constatar em primeira mão a fome em seu olhar direcionado aos alfas.

- Quer gozar, meu lindo ômega?

Eskel murmurou olhando para Vesemir, sua postura mudando para poder mover-se livremente, pronto para adentrar o ninho, mas esperando permissão para isso.

- Parem - Geralt corta a tensão luxuriosa, mesmo quando ele próprio cheirava excitado - Não na frente do novato, não ainda, não até que ele não esteja com tanto medo disso.

Como mágica, o cheiro de desejo quente se acalma e ambos os bruxos, alfa e ômega, olham para Julian como se fossem cachorrinhos chutados.

Eles parecem culpados, mas Ves até cheira a arrependimento.

- Sinto muito, filhote, me empolguei.

- Tudo bem.

Julian diz, porque até ele está corado e tendo que lidar com sua própria reação física a todos aqueles cheiros e falas.

Se Vesemir sente-se tão confortável com seus alfas quanto faz parecer e ainda por cima é o líder deles, Julian entende totalmente seu desejo irrefreável.

Ele próprio está aterrorizado, tremendo de medo mesmo quando tenta parar com isso, e mesmo assim sente a lubrificação escorrer de sua fenda, ainda que não fosse suficiente para molhar suas coxas ainda.

Se Vesemir era o ômega deles tanto quanto eles eram seus alfas, então Julian só podia lamentar estar atrapalhando, mesmo que tenha sido Geralt o único e comprá-lo e levá-lo ali.

- Eu entendo minha posição e que não servirei para... o que minha marca diz que sirvo, mas e em meus cios? Eu posso escolher qual de vocês participa?

- Sim. - Geralt diz - E também pode não escolher nenhum de nós. Lembra que dissemos que o ômega de Lambert entrou no cio, então eles se isolaram?

Julian acena em concordância, então o alfa continua.

- O nome dele é Aiden e ele passou por muita merda nas mãos de alfas. Lambert é nosso, mas Aiden é dele, porque ele não consegue se aproximar de um alfa, principalmente durante o cio, e nós respeitamos isso.

- Morreriamos e matariamos por aquele gatinho - Eskel diz - Ele é da nossa família e recentemente tolera dormir na pilha de abraços quando Lambert está por perto, mas se ele não quer nossa marca, então não forçamos. Igualmente, Lambert, mesmo tendo nossas marcas, as vezes decide passar o cio só com Aiden ou até sozinho, então assim é.

- Como dissemos, ômegas mandam e alfas obedecem - Geralt ri - Mande-nos sentar e ficaremos comportados até revogar a ordem. Isso é válido para tudo, até e principalmente para seu cio, Julian.

Apenas para confirmar, Julian olha para Vesemir, que acena em concordância à sua pergunta silenciosa.

Se tudo isso for verdade... o ômega agradece aos céus por sua benção.

Ele passou pelo inferno por dezoito malditos anos, mas talvez o resto de sua vida não tenha que ser assim, talvez ele possa viver mais quarenta anos, então sua vida não terá sido definida por sua juventude.

Ser um escravo sexual não terá sido sua vida, só uma parte dela, e nem sequer metade, apenas uma parcela.

Claro, se ele fizer certo e essa matilha o manter. Ele quer ser marcado, mantido, talvez até...

Talvez até possa ser amado...

Julian sempre quis ser amado.

- Eu não quero sexo, mas talvez possamos nos vestir e aconchegar um pouco? Faz... muito tempo que não faço isso.

- Claro, filhote, só tiramos suas roupas para ter certeza que os únicos cheiros que você sentiria eram o meu e o seu próprio.

É Vesemir quem responde, mas Eskel e Geralt já estão vestindo suas camisas e pegando roupas para eles, então eles próprios se vestem.

É quando Julian percebe que Vesemir, Eskel e Geralt estão esperando sua permissão para os alfas entrarem no ninho, o que ele prontamente oferece puxando-os fisicamente para dentro.

Ele não consegue evitar o modo que eu coração acelera em nervosismo, mas empurra o sentimento para longe quando os alfas aconchegam-se ao redor dele e de Ves, mantendo-os aquecidos e protegidos.

É... novo, e bom, ser cuidado, faz algo quente surgir em seu peito conforme seus instintos relaxam com a presença de alfas fortes e seguros ao seu redor.

- Obrigado por... por serem tão gentis, mesmo que não me conheçam.

- Conhecê-lo vem com o tempo, mas seu cheiro combina com o nosso, filhote, é assim que as antigas matilhas de uniam, reconhecendo um igual pelo cheiro, e você cheira como nosso, então será aceito como tal, Geralt fez bem em trazer você para a família, mesmo que eu ainda deseje voltar lá e matar todos que ousaram colocar as mãos em você.

Julian ri, porque nem Eskel, que é uma montanha comparado a Ves ou Geralt, poderia achar cada um dos desgraçados que o machucaram por dezoito anos. Mas, bem, Vesemir era velho até para um bruxo, então talvez ele não devesse subestimar o ômega.

- De qualquer jeito, obrigado ômega, e obrigado alfas, estou feliz por estar aqui.

Vesemir solta um estrondo feliz, seu peito inteiro tremendo com a força do som ecoante. Enquanto isso, Geralt pega sua mão e beija a glândula de cheiro no pulso, então lambe em cima e deita com ela na boca para passar a língua de vez em quando.

(Julian sentiu mais lubrificação escorrer por sua fenda com isso, mas, bem, o ato em si não parecia ser sexual para Geralt, então ele aceitaria).

Por sua vez, Eskel beijou seu rosto e tocou sua glândula do pescoço com a ponta do nariz, mas não tomou nenhuma atitude para provocar a região.

Sim, Julian podia viver com isso.

Claro, ainda havia Lambert e Aiden e se eles o aceitariam também, mas... por algum motivo, Julian acreditava em sua alma que se daria bem com os ômegas.

Esse definitivamente foi o melhor aniversário que ele poderia ter, uma verdadeira benção e tudo o que ele poderia pedir.