Chapter Text
Gawin abriu um sorriso enorme ao entrar na parte VIP de uma das baladas mais animadas de Bangkok, sendo recepcionado por todos seus amigos que estavam ali para comemorar o primeiro feito em sua profissão, e talvez um dos maiores. Era gratificante saber que podia tê-los em todos os momentos de sua vida, alguns que conheceu no trabalho e outros quando se mudou para a cidade tailandesa. O moreno se sentiu feliz e cheio de gratidão quando uma chuva de gritos veio sobre sua direção, rapidamente sendo cercado por braços de cada um dos participantes da pequena recepção feita de última hora por todos.
O Caskey estava na polícia fazia apenas um ano e poucos meses. Naquele período de iniciação sempre era lhe dado as coisas mais fáceis como rondas, ficar cuidando do trânsito e a coisa mais perigosa que faziam era ir apartar uma briga de vizinhas fofoqueiras ou de alguém traído que foi pegou no flagra com a amante pelo seu parceiro – esse Gawin já tinha visto pessoalmente e sentia que era altamente perigoso. Quase já foi o alvo da mira de uma mulher que segurava uma faca enorme, tentando matar seu marido e o Fluke ainda tinha pesadelos com aquele chamado e até mesmo receio de passar naquela rua. Nunca se sabe.
Mas, por ter uma pontinha de sorte e seu falecido pai ter uma enorme amizade com o atual delegado, Gawin conseguiu ser encaixado em uma pequena investigação de sequestro. Aquele que já era muito para o começo, levando em conta o seu pouco tempo de experiência na polícia. O delegado Prasert Sakda – ou Dam como gostava de ser chamado – sabia do sonho do garoto de ser um investigador igual a seu progenitor e por isso lhe pediu uma opinião sobre o caso da garotinha de 9 anos que estava desaparecida fazia poucas semanas.
No começo, os outros policiais que estava mais tempo ali não gostaram muito de sua participação e o excluíam de tudo, deixando-o responsável apenas pelos cafés e a parte mais burocrática, que também era a mais chata e cansativa. Até o momento que o Caskey percebeu um detalhe que ninguém parecia ter visto e com aquela parte, antes ignorada, chegaram até o desfecho do caso. A menina tinha sido resgatada com vida e uma quadrilha de bandidos presa graças ao seu desempenho.
— Olha se não é o novato atrapalhado! - Earth gritou para o amigo e o puxou para um abraço.
Earth era o mais velho do grupo, estava a mais tempo na polícia e tinham se aproximado mais quando este começou a namorar, sem que soubesse, o melhor amigo de Gawin. Todos o chamavam daquela forma porque era a realidade, ele era extremamente desastrado, principalmente em momentos em que ficava nervoso.
— Eu sabia que resolveria esse caso. - Mix exclamou sendo o mais animado dali e se soltou do namorado para abraçar o melhor amigo, logo o outro casal próximo foi parabenizá-lo.
— Me diga Gawin, como estava a cara deles quando você entregou a localização da menina? - Boom perguntou entregando a cerveja gelada para o mais velho e sentindo uma das mãos do namorado em sua cintura, mas aquilo era normal entre eles. Todos estavam muito animados para ouvir cada detalhe daquela investigação. Gawin e Boom se formaram juntos na polícia, eram uma dupla e ele sabia como fora difícil para o amigo metade americano.
— Você deve imaginar Boom, eles ignoraram minha opinião e descartaram falando que era inputil. Então eu entreguei minhas anotações para o delegado e ele ordenou para ir até o local, mas eu também não esperava que fosse algo tão grande. - Gawin contou dando os ombros e o outro a sua frente soltou uma gargalhada.
— Babacas! Estou louco para ver o delegado Dam dar a bronca em cada um daqueles idiotas. Espero que ele coma o cu de cada um no seco.
— Amor! - Aou o repreendeu tentando segurar a risada, mas no fundo também estava torcendo para que os outros policiais recebessem a punição merecida por sua atitude. Afinal, em uma investigação como aquela, nada poderia ser descartado, independente de quem tivesse partido a sugestão e era um erro inadmissível.
— Ah Aou, você só não concorda porque é um escrivão e braço direito do delegado, um dos chefes. Fica tentando ser imparcial, mas eu sei que quer isso também. - Boom respondeu revirando os olhos, empinando o nariz para o namorado que apenas negou com a cabeça e soltou um sorriso de lado, sem discordar.
Gawin conheceu Mix no ensino médio quando o aspirante a médico lhe ajudou com um ralado ardido que ganhou jogando basquete e então não se desgrudaram. Na verdade, o mais novo não lhe deixou em paz, pois se dependesse do Fluke nunca teriam aquela amizade de tão tímido que era na época de escola. Gawin agradecia que o mais novo fosse tão insistente quando queria, hoje eram como irmãos. Os pais dele tinham o acolhido quando no penúltimo ano escolar acabou perdendo seus pais em um acidente de carro e foi morar com o amigo já que sua família nunca deu muita importância a sua família. Teve ajuda principalmente pelo delegado Dam que sempre esteve por perto para cumprir a promessa feita a seus pais de cuidar e o ajudar a seguir pelo caminho certo.
Depois veio Boom, o mais sistemático dentre os recrutas, podiam até o acharem inofensivo pelo rostinho bonito e sem nenhuma capacidade para a profissão. Mas só quem enfrentava a ira ou tinha o desprazer de o incomodar sabia como ele de fato era. Não tinha vergonha de dizer o que queria e enfrentava qualquer um sem medo, além de ser ótimo na luta braçal e um físico de dar inveja. Uma de suas especialidades era a mira, Boom sabia o momento e o lugar exato de atirar, Gawin também era bom, mas confessava que seu amigo era ainda melhor. Sua amizade com Aou veio quando seu amigo começou a ficar com o escrivão ainda nos dois primeiros meses que estavam no batalhão.
Gawin sabia que aquele caso iria ajudar muito em sua carreira, afinal aquilo ficaria registrado em seu currículo, a grande descoberta e a resolução de tudo por conta própria. Facilitaria muito quando fosse se especializar em investigações como sempre desejou.
Seu pai foi um grande investigador, infelizmente não deu tempo de receber seu reconhecimento merecido. Se lembrava bem de acordar todas as manhãs para ficar atrás da porta aberta em uma pequena fresta, apenas para poder admirar seu pai vestindo a farda e posteriormente o distintivo de investigador.
Gawin ainda fazia aquilo, quase todas as manhãs, mas agora se levantava para fazer um café e observar o seu próprio uniforme. Seu sonho era chegar no FBI e esperava um dia poder estar no lugar onde seu pai sempre almejou.
— Vem Gawin. Vamos dançar. - Mix gritou já alterado e puxou o mais velho junto ao namorado para a pista de dança onde tocava um eletrônico aleatório, mas a batida era boa e muito envolvente.
O policial no começo estava tímido por estar entre tantas pessoas desconhecidas, mas aos poucos foi se soltando e quando percebeu já estava rebolando mais que o normal. Dois drinks acompanhados de pequenos goles da bebida do casal de amigos foram os responsáveis por fazê-lo ficar mais alegre e ousado, mas sem perder a consciência. Graças a isso seu corpo todo tensionou em alerta quando sentiu um par de mãos fortes segurar em sua cintura com certa intensidade e uma respiração bater em sua nuca.
— Você é tem uma bunda tão gostosa. - A voz carregada com um sotaque estrangeiro fez o policial se virar rapidamente e afastar o homem de forma experiente. O desconhecido parecia ser do seu tamanho e ruivo, só constatou aquilo mesmo quando as luzes voltaram com intensidade.
— Obrigado, mas por favor não me toque. - Pediu fechando sua expressão e antes que ele pudesse responder alguma coisa, Gawin deu as costas e voltou para mesa onde estava o segundo casal.
— Gawin, vou ter que te perguntar, por acaso você fez voto de castidade? - Boom perguntou de uma vez, sem nenhum receio, fazendo o Caskey engasgar-se com a própria água e Aou gargalhou já imaginando o que sairia da boca do namorado.
— O que?! Não! Por quê?
— Aquele homem era um gato e tava super te querendo. Uma ótima oportunidade para perder a virgindade de uma vez por todas. - Respondeu sendo um tremendo desbocado e Gawin corou ainda mais. Aquele era um assunto muito sensível para o Caskey.
Gawin era muito inseguro com sua aparência e medroso demais para ter relações com outra pessoa, resultado de uma vida escolar conturbada, só tinha beijado duas vezes em sua vida toda e ambas foram na adolescência com um crush temporário. Sobre sua vida sexual, ele era péssimo em lidar e tinha certeza era mais fácil, para si, enfrentar dez homens mafiosos do que ao menos desejar ficar nu com um desconhecido a quatro paredes. Seu medo era tanto que todas suas curiosidades e vontades do próprio corpo, sumiam feito pó.
— Eu não vou perder minha virgindade em uma boate qualquer e com um homem que nunca vi na vida, Bom. Imagina se for um assassino? Eu passo.
— Quanta demora só pra dar a bunda! Tenho certeza de que quando fizer vai amar. - Boom reclamou revirando os olhos e se colando mais suas costas no peito do namorado.
— A gente pode não falar da minha vida intima no meio de um monte de gente?
— Que vida intima? Você é virgem!
— Ele está certo, meu amor. - Aou disse ajudando o policial e percebeu seu namorado fazer um bico no rosto. — Tem toda razão e direito em querer se sentir confortável, Gawin. Quando for o momento certo e com a pessoa certa irá acontecer, não tem o porquê querer ficar antecipando. Vai no seu tempo.
— Obrigado Aou. Por que você não é igual ele, Boom? Eu em.
— Somos policiais, Gwin. Imagina se tu morre em missão, ainda para piorar, virgem?
— Pelo menos vou direto pro céu de tão purinho que sou. - Brincou juntando as mãos em sinal de oração e o outro revirou os olhos novamente enquanto o escrivão apenas ria dos dois amigos.
O grupo continuou mais um tempo na boate até começar ficar muito tarde e decidiram ir embora afinal, em poucas horas teriam que ir trabalhar novamente. Gawin chegou em casa já em torno de uma hora da manhã e sua barriga roncou de fome assim que abriu a porta de seu apartamento.
Então colocou uma água para ferver em sua chaleira e subiu para o quarto, onde trocou a roupa que estava pelo pijama levinho e confortável depois de um banho rápido. Retornou à cozinha para fazer um lámen, era a coisa mais rápida e mataria sua fome para poder dormir, em seguida foi para a sala e ligou a TV para assistir o noticiário da madrugada. Quando menor, ele e sua mãe costumavam ficar acordados assistindo, apenas para esperar seu pai voltar do trabalho.
“Urgente! Foi encontrada mais uma vítima do Serial Killer a solta, dessa vez se trata de um homem de 33 anos que manteremos a identidade em sigilo a pedido dos familiares.
A vítima foi encontrada com dezessete facadas em lugares certeiros no corpo, mas como marca registrada, a causa da morte foi asfixia e em seguida, seu pescoço quebrado!
A polícia se pronunciou, irão mandar a investigação para outros peritos e tentaram buscar por novas provas do assassino desconhecido, o que causa revolta, mas alertam a população tailandesa a tomar cuidado ao andar pela noite e desacompanhado. Ainda não se tem uma ordem do Serial Killer pois as vítimas estão sendo aleatórias.”
— Tadinho do Dr. Dam... - Gawin suspirou pesado se lembrando do mais velho. A delegacia estava um caos desde que os ataques se iniciaram em vários lugares de Bangkok e pelo que ouviu dizer nos corredores, os investigadores não tinham sequer uma suposição ou alguma pequena suspeita.
Assim que terminou seu lanche, Gawin organizou tudo de qualquer forma e foi se deitar, seu turno era pela tarde por isso poderia descansar por mais tempo e assim o fez. Acordou no outro dia bem mais animado, se alimentou bem antes de se arrumar e saiu de casa já com a farda no corpo. Acompanhado de sua mochila com algumas trocas de roupas e lanches para aguentar até a madrugada, quando finalizava sua carga horária.
Assim que pisou os pés na delegacia já notou que seria um longo dia, tudo estava um desastre como já era de se esperar, afinal já havia tido 9 assassinatos e nenhum suspeito, a família toda da vítima deveria estar ali exigindo alguma explicação. Gawin pretendia passar reto, mas foi chamado por uma das policiais avisando que o delegado desejava o ver. Meio confuso, agradeceu a mulher agitada e deixou sua bolsa em no armário antes de se direcionar até a sala do mais velho, só adentrando quando ouviu a autorização.
— Ah Gawin, finalmente chegou. - Dam exclamou ao policial e indicou a cadeira em sua frente.
— Disse que queria me ver, senhor. - O Caskey pronunciou para o mais velho que se levantou da cadeira, visivelmente cansado, para pegar um pouco de café. Prasert virou para o moreno, com a mão apoiada na arma presa ao coldre, mania de qualquer um da profissão deles.
— Não tive tempo para te parabenizar, garoto. Você foi melhor do que eu imaginei para aquela investigação. - O delegado elogiou o mais novo e abriu um sorriso orgulhoso. Considerava o mestiço como seu próprio filho. — Você é igual seu pai, será um ótimo investigador.
— Obrigado, senhor. Tudo que sei foi graças a você, senão fosse atrás das provas ainda estaríamos procurando.
— Não garoto, você só conseguiu resolver aquele caso porque treinou para isso, o mérito é todo seu. Está no seu sangue, Gawin, e agiu da forma certa. Mesmo quando todos o ignoraram.
— Senhor, fico feliz por ter conseguido.
— E deve mesmo. Seu pai teria orgulho. - Dam comentou se sentando novamente depois de jogar o copinho no lixo e cruzou os dedos sobre a mesa, encarando fixamente o mais novo. — Bom, não era apenas isso que queria conversar com você.
— Pode falar, senhor. - Afirmou prestando atenção no mais velho e esperou até que ele se pronunciasse.
— Tenho certeza de que sabe sobre o tal serial killer, não é mesmo?
— Sim, senhor.
— Como esperado, os investigadores da nossa unidade não conseguiram ter nenhuma evolução na investigação e como o assunto se tornou um perigo nacional, passaram o caso para outra pessoa.
— Oh Pi, eu sinto muito.
— Não sinta, os homens daqui são babacas que só usam seus distintivos para ganhar mulheres, mas trabalhar que é bom não fazem. Agora o caso está nas mãos de quem realmente entende e... bem, é aí que você entra.
— Eu? No que precisa de mim?
— Gawin... sabe que te considero um filho? E sabe que nunca te colocaria algo importante se não confiasse a minha vida a você, não é mesmo? - Perguntou observando a reação do mais novo que assentiu várias vezes, tentando entender o que estava acontecendo. — Bem, então, neste momento, você é o parceiro do novo investigador.
— O que?! Pi, isso é sério?! - Gawin indagou tão surpreso que acabou batendo a mão no porta-retrato do delegado e ao tentar segurar, derrubou de vez o suporte com as canetas. Dam apenas ria de sua afobação que sempre terminava em desastre. — Perdão, senhor.
— Tudo bem, mas sim, é isso mesmo que ouviu. Sei que o certo era colocar algum policial mais velho, talvez Force ou Earth. Porém, depois desse caso que você resolveu praticamente sozinho, não vejo outra pessoa melhor do que você para isso.
— Ah shit! Muito obrigado, obrigado, obrigado. - Disparou a dizer ao homem a sua frente e colocou a mão na boca sem saber como reagir. Estava incluso em um dos casos mais importantes da Tailândia no cenário atual, seria um marco em sua carreira. — Mas então... quem é o tal investigador?
— Essa é a melhor parte. Vem comigo.
Dam se levantou e abriu um enorme sorriso que o Caskey não conseguiu decifrar o que significava, ele parecia... ansioso? O policial apenas o seguiu pelo corredor da delegacia onde ficavam as salas de investigações.
— Vocês usarão a sala especial.
— A sala especial?!
A sala especial foi projetada para casos extremamente importantes e restritos. Havia sido construída por uma das maiores empresas de segurança do mundo, suas paredes eram totalmente de metais impenetráveis e toda tecnológica. Quando havia algum perigo, o sistema a travava e enviava alerta diretamente para o exército, os aparelhos eram de última geração e com tudo que tinha direito. Era de alto padrão e muito policiais se aposentariam sem conhecer o interior daquele lugar.
— Sim, foram ordens diretas de cima e já é de se imaginar. Apenas vocês dois terão acesso ao sistema, claro, além de mim e o marechal. Suas biometrias já foram cadastradas, depois de fechadas, as portas só serão abertas por dentro ou com suas digitais. A partir de agora seu chefe é ele. - O delegado explicou detalhadamente, encarando mais uma vez o garoto. Por fim colocou seu indicador no local exato, assim abrindo a porta e o delgado colocou sua cabeça para dentro. — Ele chegou.
— Ele já está aí? - Gawin perguntou em um sussurro cheio de descrença e seu coração começou a bater forte, mais do que já estava com aquela novidade.
— Uhum, chegou pela manhã. - Dam respondeu com um sorriso ainda maior e o incentivou a entrar no lugar. Porém, o Caskey paralisou na entrada da sala assim que encarou o homem alto, com os braços fortes cruzados em frente ao peito e uma expressão fechada. — Esse é Gawin, seu parceiro na investigação.
— Hum, prazer. - A voz mais ríspida e aguda que o esperado ecoou pela sala, fazendo as vibrações irem diretamente para o coração fraco do policial que perdeu o ar. O Fluke sentiu sua pressão cair aos poucos enquanto sua consciência gritava em um alerta para se recompor.
— Garoto, esse é... - O delegado dizia, mas o Caskey não o ouvia porque tudo parecia ser alguma ilusão de ótica ou estava sonhando acordado. Seu estômago revirava por causa de mistura de sentimentos.
Céus, aquele era Joss Wayar!